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Muito além do jardim

Um dos ícones da cidade, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro recupera vocação científica e artística

J. Quental/Divulgação

Pássaros se refrescando em fonte do Jardim Botânico

Criado por dom João VI quando a família real portuguesa se mudou para o Brasil, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro atrai há 200 anos a atenção de estudiosos e amantes da natureza de diversas partes do mundo. Apesar de ser uma autarquia federal subordinada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e de sua extensa área verde apresentar diversas possibilidades de diversão e de conhecimento científico, o parque foi vítima histórica do descaso do poder público e raramente teve suas potencialidades exploradas de forma positiva.

Felizmente, nos últimos anos o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (seu nome oficial) tem recuperado sua importância científica e seu vigor turístico. Os aumentos da dotação orçamentária e da arrecadação da bilheteria foram acompanhados pela bem-sucedida criação ou revitalização de locais dedicados à cultura, como o Espaço Tom Jobim, e à ciência, como o Museu do Meio Ambiente.

Em sete anos, a arrecadação subiu para R$ 2,5 milhões, segundo o presidente do instituto, Liszt Vieira. “Quando chegamos aqui, era menos de R$ 1 milhão por ano”, conta. O prestígio no MMA também aumentou: a dotação orçamentária era de R$ 4,5 milhões por ano e hoje está em R$ 9,5 milhões. “O instituto era uma torre de marfim, não tinha real conexão com o MMA. Era tudo muito precário. Fizemos essa ligação, e passamos a fazer pesquisas e fornecer dados para a Política Nacional de Conservação da Biodiversidade. Essa conexão foi um ponto importante”, avalia Liszt.

Outro caminho trilhado para a revitalização do Botânico foi o incremento das parcerias com empresas públicas e privadas. Em pouco mais de uma década, desde 1997, foram firmados mais de 140 convênios, o que permitiu investimentos em atrações muito procuradas pelos visitantes, como o Orquidário, o Bromeliário, o Cactário, o Chafariz das Musas, o Jardim Japonês e o Portal de Belas Artes, além de propiciar a identificação de todas as coleções botânicas do arboreto.

“Conseguimos recursos para reformas em todo o parque e nos espaços construídos que existem nele, como o chafariz central, o aqueduto elevado que estava tapado pelo mato, o caminho da Mata Atlântica, o Centro de Visitantes, que é a mais antiga casa da zona sul do Rio de Janeiro”, enumera Liszt. Os investimentos trazidos pelos parceiros fortaleceram a área cultural e científica do Jardim Botânico e proporcionaram também a restauração do prédio do museu e a construção do Teatro Tom Jobim. Foi aberta ainda uma “linha cultural” que acentuou a vocação artística do espaço, com shows de música, teatro, cinema.

Biodiversidade

Responsabilidade social

A expansão do Museu do Meio Ambiente, que prevê a ocupação de uma área de 1.400 metros quadrados e a construção de dois novos prédios, começou em maio. Um edital elaborado em parceria com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) teve como principal critério para escolher o projeto vencedor a apresentação de conceitos de arquitetura sustentável. Ao todo foram 133 projetos, e a dupla vencedora é de Minas Gerais.  

O museu terá um complexo de atividades, exposições temporárias, programas pedagógicos e de educação científica e a exposição de longa duração no novo prédio, além do auditório. A administração tem expectativa de que o projeto seja um marco na cidade e no país, pois se trata do primeiro Museu do Meio Ambiente na América Latina.

Há dois anos, foi criado o Centro Nacional de Conservação da Flora, responsável por coordenar em todo o Brasil a elaboração de duas listas: das espécies da flora brasileira em geral e das espécies em extinção. Ambas serão apresentadas pelo governo brasileiro na COP-10 (conferência sobre biodiversidade da ONU) em Nagoia, Japão, no mês de outubro.

O Jardim Botânico ampliou ainda a gama de serviços prestados à sociedade na área educacional, como a escola que funciona no Solar da Imperatriz e oferece mestrado e doutorado em Botânica Tropical e pós-graduação em Gestão do Meio Ambiente. O instituto concede bolsas de estudo, e seus cursos contam atualmente com 200 alunos, oriundos de todo o país. Os convênios se estendem à área de responsabilidade social: cursos de jardinagem são dirigidos a jovens moradores em áreas de baixa renda do entorno do parque. Segundo Liszt, um convênio com o Juizado de Pequenas Causas possibilita que sejam cumpridas ali penas convertidas em trabalho comunitário.

Outra iniciativa em andamento é um projeto, iniciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), de repatriação das imagens e dados de plantas brasileiras que se encontram em Paris e Londres. O objetivo é que o servidor – estação central com o acervo de informações – fique no Botânico.

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