editorial

Quando a população sente na pele, reage

A falta de política de desenvolvimento faz com que a queda de atividade econômica no estado de São Paulo seja mais grave do que no país. E a educação pública tem sido uma das vítimas

Danilo Ramos/RBA

Estado precisa ser indutor da cidadania, e não lavar as mãos. Estudantes de SP reagiram

Quando esta edição era concluída, governantes – União, estados e municípios – buscavam meios de fazer o Congresso apoiar a recriação da CPMF, uma medida de baixo impacto no bolso e alto impacto no combate à sonegação. A proposta pode ser considerada um acerto no varejo, embora no atacado o governo deixe a desejar – já que não discute impostos justos sobre fortunas, ganhos sobre lucros, grandes propriedades.

Outro fato, tema da capa deste número, punha o estado de São Paulo em polvorosa: indignados com uma política de “reorganização” do ensino proposta pela gestão
Alckmin, alunos, professores e comunidade passaram a se organizar em ocupações nas escolas, defendendo o direito ao ensino de qualidade. Um movimento que já tem o seu lugar na história, seja qual for o desfecho. No final de novembro, o governo tucano viu-se obrigado a debater o programa, que prevê fechamento de quase 100 unidades.

No plano nacional, a política de juros causa danos múltiplos: tira investimentos em produção, a arrecadação cai, crescem os gastos com investidores na dívida pública, a economia encolhe, a renda e os empregos idem. E como se verá nesta edição, ausência de democracia econômica põe em risco a democracia política. A estimativa negativa para o PIB nacional neste ano, entre -2% e -3%, só pode ser revertida mais à frente se o governo aliviar a dose de ajuste e tomar a frente na promoção do crescimento.

Em São Paulo, a ausência de políticas locais de desenvolvimento derruba a participação do estado na riqueza nacional. E isso não é de hoje. Em 1995, a riqueza produzida no estado correspondia a 37,8% do PIB nacional. Em 2013, foi a 32,1%. O resultado são quedas sucessivas na arrecadação e na qualidade dos serviços públicos. Entre eles, a educação, exposta a um estrago que só não será maior do que o inicialmente imaginado pelo governador Geraldo Alckmin porque este deseja o Planalto em 2018. E não há blindagem da imprensa que faça milagre. Quando a população sente na pele, reage.