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Vítimas da covid: ‘Merecíamos pedido de desculpas. Falamos de vidas e nossa dor não é mimimi’

“Não é política. São nossas vidas”, disse taxista. Memorial em tributo às vítimas da covid será erguido em Brasília. “Para que nunca esqueçamos”

@scarlettrphoto
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Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid promoveu ontem (17) manifestação pelas mais de 600 mil vidas perdidas, em frente ao Congresso, "por negligência e em benefício de lucros empresárias que atrasaram a vacinação no país"

São Paulo – O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou a criação de um memorial em Brasília em tributo às vítimas do vírus no país. “É um memorial para que nunca esqueçamos. Um memorial que deveria ser responsabilidade do próprio Poder Executivo, mas é o mínimo para ser feito para lembrar. A vida cotidiana também é feita de símbolos”, disse Randolfe (18). A afirmação foi feita ao final da sessão do dia, marcada pelo tom de emoção, indignação e consternação durante depoimentos de vítimas da covid e pessoas que perderam familiares durante a pandemia.

Face e história das vítimas da covid

Uma das últimas vítimas da covid a dar seu testemunho no dia foi o taxista Marcio Antônio do Nascimento da Silva. Em abril de 2020, ele andava pela orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, quando viu uma homenagem às vítimas, com cruzes na areia. Na ocasião, bolsonaristas estava derrubando as cruzes e depredando a homenagem. Marcio Antonio então foi flagrado recolocando as cruzes emocionado, enquanto era agredido verbalmente pelos apoiadores do presidente.

“Naquele dia, eles começaram a me agredir não pelas palavras, porque me chamaram de comunista, petista”, disse. Na verdade, a razão da atitude de Marcio Antônio não foi política. O taxista havia perdido recentemente sua irmã e seu filho Hugo, de 25 anos, para o vírus. “Nós merecíamos um pedido de desculpas da maior autoridade do país. Não é questão politica, se é de um partido ou de outro, pois estamos falando de vidas. A nossa dor não é “mimimi”, nós não somos palhaços. É real”, disse à CPI.

Diante do emaranhado de irregularidades e escândalos que envolvem o núcleo do governo Bolsonaro e a condução desastrosa da pandemia, os senadores destacaram a importância dos depoimentos de hoje. “É o dia mais importante, porque deu face, rosto e história”, resumiu Humberto Costa (PT-CE). Ele fez referência aos números que Randolfe e o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) apresentaram durante todas as sessões à frente de seus microfones. Os números em questão eram os números atualizados de mortos pela covid-19. Hoje, são ao menos 603.282.

vítimas da covid
“A covardia do Bolsonaro não vai nos impedir de exercer o nosso amor”, disse o senador Rogério Carvalho (Pedro França/Agência Senado)

Relatório final

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) respondeu a Marcio Antônio. “O Brasil pede desculpas a todos que perderam vidas para a covid. A covardia do Bolsonaro não vai nos impedir de exercer o nosso amor. Também não queremos, seu Marcio Antônio, um país que dê armas aos nosso filhos. Podem confiar no trabalho da CPI da covid. Obrigado por tanta humanidade.”

O relatório final da comissão deve ser lido na quarta-feira (20), apontados crimes, responsabilidades e seus autores, para que seja votado na semana seguinte. O passo seguinte será o encaminhado, no dia 26, às autoridades competentes – como a Procuradoria-Geral da República. Entre os indiciados, constará o presidente Jair Bolsonaro, porque seria um dos principais alvos da CPI, investigado por crimes como omissão, prevaricação, favorecimento ilícito e corrupção. “Bolsonaro agiu de forma dolosa, cometeu crime contra a humanidade e precisa ser punido”, disse Rogério Carvalho.


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