análise

Vannuchi considera que apoio da mídia tradicional a Marina pode virar tiro no pé

Analista político entende que torcida de parte da imprensa por candidatura presidencial da ex-ministra não coloca na balança risco de tirar Aécio Neves, o 'predileto', do segundo turno

PSB

Vannuchi considera que existe a possibilidade de Marina recusar a candidatura pelo PSB

São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi considera que a mídia tradicional pode errar no cálculo ao torcer pela candidatura de Marina Silva à Presidência da República pelo PSB. Em comentário de hoje (15) na Rádio Brasil Atual, ele argumenta que, embora pareça positiva para os interesses de alguns veículos neste momento, a chapa encabeçada pela ex-ministra resulta em riscos para o postulante do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves.

“Tudo o que os jornais, rádio, televisão disserem é pura produção de interesse político. Vão dizer para eles o que parece melhor para os seus interesses agora”, diz. “Existe o chamado tiro no pé, ou tiro pela culatra. Todos vão sair em apoio a Marina com a obsessão de derrotar Dilma e, nesse sentido, pode gerar um efeito negativo para seu candidato predileto, deixando-o fora do segundo turno.” A especulação sobre a substituição do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo na última quarta-feira, teve início logo em seguida aos fatos e ganhou intensidade nesta quinta-feira (14) com a divulgação de uma carta pelo irmão do pernambucano, Antônio.

No texto, intitulado “Não vamos desistir do Brasil”, Antônio declara apoio a Marina Silva para “encabeçar a chapa presidencial da coligação Unidos Pelo Brasil, liderada pelo PSB, devendo a coligação, após debate democrático, escolher o seu nome e um vice que una a coligação e some ao debate que o Brasil precisa fazer nesse difícil momento, em busca de dias melhores. Tenho convicção que essa seria a vontade de Eduardo.”

O documento provocou reação do presidente interino do PSB, Roberto Amaral, que divulgou nota afirmando que o partido estava em luto e que o importante, neste momento, é cuidar das homenagens a Campos, e não discutir a questão eleitoral. Hoje, Amaral informou ao jornal O Estado de S. Paulo que haverá uma reunião quarta-feira em Brasília para debater a situação.

Vannuchi entende que a candidatura de Marina não é algo que se possa dar como certo. Internamente, há uma série de objeções. A primeira é de que a ex-senadora se abrigou no PSB depois que o partido que pretende criar, a Rede Sustentabilidade, não conseguiu atingir o número mínimo de assinaturas exigido pela legislação eleitoral. Com isso, seria difícil apoiar um candidato que estará fora da sigla passadas as eleições.

Além disso, há resistências a Marina devido a atritos ocorridos nos últimos meses, a começar pelo presidente Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula. “Ele não queria promover a ruptura com Dilma, com Lula. E, homem de partido, acabou se enquadrando, disciplinado, mas teve inúmeros problemas com Marina e seu grupo”, recorda o analista político.

Em São Paulo, Marina se opôs à aliança com Geraldo Alckmin (PSDB), considerado representante de uma política desgastada, na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. O vice na chapa do tucano, o deputado Márcio França, sempre se manteve próximo do grupo que, há duas décadas, comanda o Executivo estadual. “Márcio França é o vice a Alckmin na próxima eleição, Marina publicamente discordou e disse que nunca subiria no palanque do PSDB”, diz Vannuchi

Vannuchi considera ainda que Marina é uma liderança política de “gestos surpreendentes” e que existe a possibilidade de ela recusar a candidatura pelo PSB para trabalhar na construção da Rede Sustentabilidade e da candidatura para as eleições de 2018. “Ela tem um recall muito forte, que é a memória que o cidadão comum tem dos políticos e pode apostar nisso”, argumenta. “Ela ganhará muita força moral, ética, política. Não sei se isso é suficiente para vencer uma eleição em 2018.”

Ouça o comentário completo para a Rádio Brasil Atual.