Eleição no PT: Única mulher na disputa, deputada quer discutir programa de governo de Dilma

Única mulher na disputa pela presidência nacional do PT, a deputada federal Iriny Lopes (ES) sustenta que é preciso definir estratégias para o período de 2011 a 2015 caso a […]

Única mulher na disputa pela presidência nacional do PT, a deputada federal Iriny Lopes (ES) sustenta que é preciso definir estratégias para o período de 2011 a 2015 caso a pré-candidata da legenda seja eleita. Iriny aponta que a eleição da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é um ponto de consenso, mas as formas de se fazer isso dão margem a divergências entre as candidaturas.

Neste domingo (22), o PT realiza primeiro turno do Processo de Eleições Diretas (PED). A Rede Brasil Atual entrevistou cada um dos seis candidatos à presidência nacional do partido com base nas mesmas quatro perguntas.

A quarta edição da votação entre filiados define os presidentes e diretórios nacional, estaduais, regionais, municipais e zonais. A votação de cada chapa estabelece a composição do diretório de cada esfera. No caso do presidente, caso um candidato não obtenha maioria dos votos, há uma segunda votação entre os dois mais bem colocados.

Entrevista

Iriny Lopes

candidato à presidência nacional do PT

Candidata pela chapa Esquerda Socialista, Iriny defende que quem vencer a disputa interna do partido terá a missão de administrar dois ou mais palanques favoráveis a Dilma em diversos estados. Isso porque, na visão dela, é necessário que não sejam sufocadas realidades e construções partidárias locais em nome de uma aliança nacional com o PMDB.

Confira a entrevista:

RBA – O PT sempre se colocou como um partido que acolhe uma ampla diversidade de pontos de vista. Ainda assim, é possível apontar pontos de consenso entre as diferentes tendências?

 

O consenso dentro do PT é a necessidade de criação de unidade partidária para conduzir a companheira Dilma à Presidência da República nas eleições de 2010. Esse é um eixo aglutinador que vai derivar em formas diferentes de como fazer. Mas o que fazer é o grande eixo de unidade. O segundo, diferentemente de vezes anteriores, é a necessidade de construir essa necessidade. Em momentos anteriores, não havia essa preocupação, mas apenas a de fazer uma determinada maioria, como se fosse automático a construção da unidade. Sabe-se que é uma construção.

Em terceiro lugar, e nos debates entre os candidatos, que é necessário suprimir da história do PT a ideia de hegemonismo que imperou até recentemente. O PT é um partido plural e, portanto, é necessário, democrático e salutar conviver com essas diferenças, fazendo com que o partido busque uma síntese das opiniões. É um diferencial em relação a PEDs passados.

RBA – Quais são as principais divergências entre as propostas colocadas? Em outras palavras, o que diferencia sua candidatura das demais?

Priorizamos um debate em torno do eixo do programa que o PT precisa apresentar nas eleições de 2010. De todas as candidaturas colocadas, quem se preocupou em apresentar um programa que definirá estratégias de 2011 a 2015 foi nossa chapa. O debate não pode se restringir a alianças, que pode ter um papel para eleger, mas sem um programa orientador previamente pactuado entre forças políticas partidárias e com setores sociais que queremos consolidar em torno do que será o novo governo. É preciso dar prosseguimento aos dois mandatos exitosos conduzidos pelo presidente Lula, mas achamos também que os desafios serão diferenciados a partir daí. Não há como considerar que o Brasil que o Lula herdou será o mesmo que a Dilma herdaria, há diferenças substanciais em termos de conjuntura econômica e política internacionais, bem como as condições do próprio país. Temos a recuperação econômica de setores historicamente fora dos benefícios econômicos, políticas sociais que promovem inclusão que nos obrigam a aprofundá-las, e a execução do PAC coloca outros desafios a um governo que precisa aprofundar o papel do Estado em termos de abrangência e eficiência, bem como consolidar investimentos que possam dar ao Brasil um novo modelo de desenvolvimento centrado naquilo que começou a se formar nos dois governos do Lula e ao que damos caráter estratégico, que é o mercado de massas interno brasileiro, porque, com isso, fazemos uma grande inclusão.

Também, embora aparentemente possa parecer que é parecido, as alianças sociais têm diferenças. Não deixando de considerar fundamentais as alianças partidárias, precisamos de um novo modelo de relacionamento com os movimentos sociais. O PT nunca deixou de ter essa relação, mas as exigências são diferenciais no próximo período. Se ganharmos as eleições – e acho que vamos –, o atendimento das demandas dos movimentos sociais está diretamente ligado aos eixos programáticos. Por exemplo, consolidar a reforma agrária, que não se restringe a um reconhecimento de que esse setor social do campo que ficou à margem de investimentos ao largo de centenas de anos não é só reparação social, mas reconhecer que pequena agricultura brasileira tem papel estratégico no combate à fome, no desenvolvimento regional, sem abrir mão do potencial agrícola do país. Só vai florescer esse potencial se resolvida a questão agrária. Queremos reparação social, mas não basta parar aí, o modelo de desenvolvimento precisa incluir isso.

Outra diferença marcante é a realidade irrefutável de que sou a única mulher candidata. Isso trouxe à baila, obviamente, em menor ou maior intensidade nos estados, a necessidade de o partido ter uma ação incisiva no empoderamento das mulheres. Isso ficou explícito, minha candidatura ajuda a suscitar esse aspecto em um país em que há maioria feminina no eleitorado e na população. Isso coincide com uma candidata a presidente da República.

RBA – O PED deste ano acontece com um pré-acordo já firmado nacionalmente com o PMDB para a eleição de 2010. Em sua avaliação, há aval das bases do partido para essa aliança?

A base do partido é muito explícita no que pretende e quer. Se é importante a incorporação do PMDB no arco de alianças para o próximo pleito e para o desenvolvimento do próximo governo, isso não pode significar nem o isolamento nem o rebaixamento do PT. Isso vai ficar mais explícito quanto mais se aproximar a conformação das chapas estaduais. O PT quer e é legítimo que queira que o partido não desapareça dos processos eleitorais regionais em função dessas alianças. Se o PT está contemplado na cabeça de chapa nacional, tende a se consolidar também o contemplamento do PMDB não só com uma possível presença na vice como um compartilhamento das responsabilidades e cargos de governo que dará legitimidade e visibilidade e espaço de empoderamento. Não queremos impor candidaturas artificiais ao PMDB, mas não queremos sufocar candidaturas petistas com enraizamento político e social, densidade eleitoral e credibilidade junto à população. Vai entrar com força a construção de mais de um palanque para a candidatura de Dilma. A sustentação de um futuro governo pressupõe um arco de alianças para o novo governo visando ao Congresso Nacional, mas também buscar crescimento nas eleições estaduais.

RBA – Qual papel o novo presidente e a nova executiva terão na definição de alianças regionais?

Garantir esse crescimento dos partidos está entre eles. Respeitar a realidade e a construção histórica do PT no estado. E administrar dois palanques ou mais para a candidatura da Dilma visto que, na maioria dos estados com esse perfil, deve haver incidência possível de segundo turno.