Em defesa do interesse público

Trabalhadores e oposição atuam na Assembleia para barrar privatização da Sabesp

Governador Tarcísio de Freitas tenta “comprar” votos de deputados com liberação de R$ 20 milhões em emendas por voto, denunciam parlamentares da oposição

Sintaema / Divulgação
Sintaema / Divulgação
"Ontem no plenário, surgiu inclusive que esse montante aí deve chegar em algo em torno de R$ 20 milhões por deputado por voto. Esse deve ser o preço da privatização da Sabesp”, afirma José Faggian

São Paulo – Trabalhadores, sindicatos e movimentos populares protestaram na Assembleia Legislativa de São Paulo contra a privatização da Sabesp, defendida pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). Reportagem de Diane Ponte no Seu Jornal desta terça-feira (5), na TVT, mostrou a mobilização dos manifestantes, enquanto se concentravam em frente à Assembleia.

Naquele momento, o plenário da Casa estava vazio. A ala governista prefere não expor sua posição sobre os motivos para vender a Sabesp e a falta de argumentos tem prejudicado o debate com a população. “Eles querem liquidar essa fatura, e a gente sabe que inclusive teve uma operação muito grande do governo inicialmente, conversando com prefeitos que são uma peça muito importante nessa estrutura de aceitação da privatização, mas principalmente nessa etapa que passa aqui pela Assembleia de convencimento, entre aspas, dos deputados que ainda não estavam convencidos em votar favorável, inclusive com a liberação de muitas emendas. Ontem no plenário, surgiu inclusive que esse montante aí deve chegar em algo em torno de R$ 20 milhões por deputado por voto. Esse deve ser o preço da privatização da Sabesp”, afirma José Faggian, presidente do Sintaema, o sindicato que reúne os trabalhadores da Sabesp.

“Uma das denúncias que a gente fez ontem é que os deputados estariam recebendo R$ 20 milhões de emendas para votar favoráveis ao projeto. É preciso deixar claro que se o governo está fazendo isso, que assuma a sua responsabilidade de ter dado, ou de ter oferecido, ou de ter se comprometido com os 20 milhões”, afirma o deputado Paulo Fiorilo (PT).

O governo Tarcísio de Freitas gastou mais de R$ 40 milhões em um relatório que destaca que a privatização da Sabesp deve gerar um lucro de R$ 66 milhões, que seriam revertidos em investimentos que supostamente vão reduzir as tarifas de água e saneamento. No entanto, a transferência do serviço para iniciativa privada, que busca o lucro, deve resultar em um aumento nas tarifas.

“Todas as cidades onde a água foi privatizada, a população teve um impacto muito grande no aumento de tarifa e na qualidade do serviço prestado. Então, com certeza a qualidade do serviço vai cair e a prestação do serviço vai ter aumentos de tarifa, porque em todo lugar do mundo, não só aqui no Brasil, mas no mundo teve aumento de tarifa e precarização nos serviços que foram oferecidos para a população”, afirma Helena Maria da Silva, vice-presidente do Sintaema.

“Um projeto dessa importância, que você mexe com toda a população do estado de São Paulo, não pode chegar aqui em outubro e já ser votado agora em dezembro. Então, a primeira reclamação nossa é dele ter chegado aqui como um projeto de lei, simples, que você pode aprovar com 48 deputados, maioria simples. E não um PLC (projeto de lei complementar). Por que PLC? Porque ele mexe na Constituição do Estado de São Paulo e na Constituição você só pode mudar com uma PEC (proposta de emenda à Constituição), com dois terços dos deputados votando favorável”, diz o deputado Enio Tatto, líder da minoria na Casa.

As primeiras sessões de debate sobre a privatização da Sabesp na Assembleia começaram ontem, continuaram nessa terça-feira e devem terminar amanhã, com a preparação do texto para votação final. O governo necessita de no mínimo 48 votos, e enquanto isso, a oposição segue mobilizada para tentar evitar a aprovação da proposta.

“É importante esclarecer que esse projeto, essa ideia de privatizar a Sabesp, não foi aprovada nas urnas. O Tarcísio fugiu desse debate. O Haddad (Fernando Haddad, candidato ao governo de São Paulo em 2022) cobrou por mais de uma vez.  Ele foi e voltou, foi e voltou, mas se isentou de privatizar. Portanto, as urnas não deram a ele autorização para vender a Sabesp. O plebiscito poderia ser uma alternativa”, disse ainda Fiorilo.

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“Nós vamos nos manter mobilizados. Como eu disse, nosso entendimento é que hoje existe um ataque no estado de São Paulo contra os serviços públicos essenciais. Então, saneamento, Sabesp; transporte coletivo, Metrô, CPTM; a educação. Tem um projeto aqui tramitando também (PEC 9) que retira bilhões de reais do orçamento da educação. Por todos esses fatores, as nossas categorias vão se manter mobilizadas e nós devemos ter outros processos de luta, greves, mobilizações, atos, enfim, os trabalhadores do estado de São Paulo vão se manter mobilizados e vamos lutar para derrotar esse projeto que o Tarcísio tenta implementar aqui em São Paulo. São posições políticas ideológicas, de ter um estado enxuto mas esquece da população”, acrescenta Faggian.