Preocupação internacional

‘The Guardian’ destaca negacionismo de Tarcísio em querer tirar câmeras de uniformes de PMs

Jornal britânico mostra dados sobre a contribuição do equipamento para a segurança de civis e policiais em São Paulo

The Guardian/Reprodução
The Guardian/Reprodução
A reportagem do The Guardian ressalta, contudo, que a proposta de Tarcísio não surpreendente dado seu histórico de "abraçar negadores da covid-19"

São Paulo – A proposta do candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) de “reavaliar” o programa estadual Olho Vivo, – que prevê a instalação de câmeras nos uniformes de policiais militares –, vem ganhando repercussão negativa também na imprensa internacional. Além das críticas de especialistas brasileiros em segurança pública que apontam “retrocesso”, o plano de Tarcísio, de remover os equipamentos, recebeu destaque crítico em reportagem do jornal britânico The Guardian, publicada nesta segunda-feira (24). 

Na publicação, o ex-ministro de Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro (PL) é apontado como um candidato da extrema direita “negacionista”. A reportagem destaca que, após de São Paulo ter se tornando o primeiro estado do Brasil a instalar câmeras corporais nas fardas de PMs, em um ano o programa alcançou “resultados impressionantes”. Com base em dados da Secretaria estadual de Segurança Pública e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o jornal mostra que o número de pessoas mortas nos chamados “confrontos” com a polícia caiu mais da metade. E que o número de pessoas que resistiram à prisão também registrou queda de quase dois terços. 

Mesmo assim, o candidato bolsonarista quer “reavaliar” um projeto “bem-sucedido”, adverte a matéria. The Guardian pondera, porém, que a proposta “não surpreendente dado o histórico de Tarcísio de Freitas”. A reportagem cita, como exemplo, o fato do ex-ministro ter “abraçado negadores da covid-19”. Assim como sua promessa de processar mulheres que recorreram a abortos ilegais para interromper uma gestação indesejada. Assim como a oposição que enfrenta de reitores e ex-reitores de universidades paulistas. Os educadores veem em sua eleição uma “ameaça à posição de São Paulo como líder educacional do Brasil”, destaca a publicação internacional. 

Decisão bolsonarista é ideológica

O jornal inglês também menciona análise do advogado Ariel de Castro Alves, presidente do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. À reportagem, Ariel ressalta que o candidato do Republicanos “representa o governo Bolsonaro de negacionistas que não se importam com estatísticas ou ciência”. “Ele assume essas posições porque segue a linha de Bolsonaro de estimular a violência policial”, afirma.

A análise é compartilhada pelo professor universitário e especialista em segurança pública Ignacio Cano, que acrescenta que “não há nada muito profundo na decisão de (Tarcísio)”. “É uma decisão tomada por linhas ideológicas e não técnicas, e os bolsonaristas estão se posicionando contra a modernidade e a tecnologia”, garante. O professor comenta que não há um consenso de que as câmeras nos uniformes da polícia reduza o abuso ou a violência em países como os Estados Unidos, por exemplo. “Mas em São Paulo os resultados foram muito impressionantes”, comenta. 

The Guardian lembra que 6.416 pessoas foram mortas pela polícia brasileira em 2020. E que o estado de São Paulo respondia por quase um terço desses homicídios “eufemisticamente chamados de confrontos”, adverte. O jornal ainda completa que 99% dos mortos eram homens, a maioria menores de 24 anos e sobretudo negros (84%). Com as câmeras, já no terceiro e quarto trimestres de 2021, o número de homicídios em regiões onde a PM usava o equipamento diminuiu de 77,4% e 47%. 

Aliado de Roberto Jefferson

As estatísticas da polícia também indicam que, no mesmo período, o número de policiais mortos em serviço caiu pela metade. Tarcísio, contudo, vem repetindo em entrevista ter a impressão de que o PM fica em desvantagem com o uso da câmera. “Para mim, é um voto de desconfiança nos policiais”, alega o candidato bolsonarista. A reportagem do The Guardian alerta, porém, que os equipamentos são vistos como uma forma de prevenir a violência praticada por e contra policiais. 

Além de Bolsonaro, Tarcísio também é o candidato do ex-deputado Roberto Jefferson, preso pela Polícia Federal ontem (23). Na ocasião, o também aliado do presidente da República resistiu a uma ordem de prisão lançando granadas e tiros de fuzil, ferindo dois policiais. Em junho, o ex-ministro celebrou o apoio do PTB, partido de Jefferson que “marcou presença” em um evento de homenagem a Tarcísio com uma réplica sua de papelão em tamanho real, já que não poderia deixar sua residência em Comendador Levy Gasparian (RJ), onde cumpria prisão domiciliar. 

A relação entre os dois ganhou repercussão nesta segunda, após o atentado do aliado contra a PF. “São farinha do mesmo saco”, comentou o professor de História e membro da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra por Direitos, Douglas Belchior que diz ver relação entre Tarcísio e Jefferson com a “milícia armada”.