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‘Meu nome não surgiu’, diz Serra sobre denúncias de corrupção no Metrô

Após palestra na Associação Comercial de São Paulo, ex-governador se recusou a comentar acusações publicadas no fim de semana, de que seu governo teria sido comunicado sobre irregularidades

Fábio Braga/Folhapress

Alvo das denúncias da Siemens, ex-governador se recusou a comentar envolvimento com cartéis

São Paulo – O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) negou hoje (12) participação no esquema de corrupção e formação de cartel no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), segundo denúncias que atingem todos os governos do PSDB em São Paulo desde Mario Covas (1995-2001).

“Meu nome não surgiu. Quando surgiu, foi para fazer o oposto: nós fizemos uma luta anticartel para pagar R$ 200 milhões a menos. Quem fez a matéria não leu os documentos que tinha nas mãos, que demonstravam isso”, rebateu Serra, na saída da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), no centro da capital, onde foi convidado para falar sobre “Desenvolvimento do Brasil e seus principais problemas”.

O tucano também comentou a notícia de que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) liberou para o governo estadual acesso aos documentos que demonstrariam a complacência do Palácio dos Bandeirantes com a formação de cartel entre empresas estrangeiras para burlar a concorrência em editais do metrô e da CPTM. “É bom que seja liberado pra todo mundo mesmo”, disse o tucano.

O anúncio de que a administração estadual conseguiu os documentos foi feito pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) na cidade de Serrana, no interior do estado. Diante da recusa do Cade, Alckmin havia recorrido à justiça federal para conseguir os papéis. “Tivemos a decisão judicial que autoriza São Paulo a ter acesso a todo processo do metrô que está no Cade”, informou Alckmin.

Serra, Alckmin e Mário Covas estão no centro das denúncias feitas pela Siemens. Segundo a empresa alemã, os três tucanos, quando governadores, foram complacentes com a formação de cartel entre companhias estrangeiras para ampliação da malha metroviária e reforma de trens no estado. Até agora, o Cade se recusava a ceder os documentos ao governo paulista, alegando que o processo corria sob sigilo – e tinha o Palácio dos Bandeirantes como investigado.

Comunicações eletrônicas de um executivo da Siemens, em posse do Cade, sugerem que José Serra teria dado aval à formação de cartel para evitar atrasos nas obras. Questionado, Serra não quis comentar as denúncias da revista IstoÉ, publicadas ontem, que afirma que seu governo foi avisado ao menos três vezes, pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e pelo Ministério Público, em 2008, 2009 e 2010, sobre as irregularidades nas licitações do metrô e CPTM.

Tampouco fez observações sobre a recente pesquisa Datafolha, em que aparece mais bem colocado que seu adversário interno, o senador Aécio Neves (MG), na corrida para o Palácio do Planalto em 2014, atrás apenas de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (Rede).

Apesar das recusas, Serra disse que “até tem vontade” de falar com a imprensa. “A gente combina outra hora. Não dá pra falar assim, de atropelo. São temas muito complexos.” De acordo com a assessoria da ACSP, o tucano fora convidado há mais de dois meses para fazer uma palestra na entidade. Antes do ex-governador, já estiveram nas plenárias da associação, em 2013, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, e o poeta Ferreira Gullar.