Plenária

Rui Falcão: ataques visam a proscrever e barrar o PT em 2018

Em reunião com sindicalistas, presidente do partido reitera que recuperação da base social e da confiança no governo passa por mudança em política econômica e retomada do crescimento

RBA

João Felício e Rui Falcão: ofensivas coordenadas contra o PT e necessidade de retomar agenda trabalhadora

São Paulo – O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou há pouco que os ataques que a legenda vem sofrendo – no Congresso, nos meios de comunicação e em setores “partidarizados” do Judiciário – têm como objetivo inviabilizá-la para a disputa à sucessão de Dilma, em 2018. “Querem derrotar um projeto. Querem proscrever o partido e inviabilizar uma candidatura do PT em 2018”, disse Falcão. O dirigente participa hoje (27), em São Paulo, de plenária com sindicalistas filiados ao partido – de diversas centrais, com predominância da CUT – para fazer um balanço dos acontecimentos do ano e discutir ações para o próximo período.

Falcão considerou um avanço a regulamentação do direito de resposta, após a sanção pela presidenta Dilma Rousseff da Lei 13.188/2015, de autoria do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que tramitava há cinco anos no Congresso. Para Falcão, setores da esquerda ainda não entenderam a importância do direito de resposta como garantia ao contraditório frente os veículos da imprensa tradicional.

Falcão observou que, além dos ataques dos setores que operam para derrotar o partido, o governo se complica com a adoção de uma política macroeconômica recessiva. O dirigente lembrou que, já no 5º Congresso Nacional do PT, realizado em Salvador em junho, a revisão da condução da economia já era defendida, e que, sem prejuízo à preocupação com a recuperação das contas públicas, se fazia necessária uma opção pela retomada do crescimento. “A mudança da política econômica é uma necessidade”, afirmou, ao que o plenário reagiu com gritos de “fora, Levy”.

O presidente do PT ponderou que a montagem da equipe e as escolhas para a economia são responsabilidades de Dilma Rousseff, mas que é papel do partido e do movimento sindical formular e apresentar propostas alternativas. Os sindicalistas têm dito reiteradas vezes que Dilma deve adotar o programa que venceu a eleição, e não o derrotado. A ala sindicalista do partido tem sido, desde o congresso, uma das principais críticas à gestão de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. “Mas essa (mudar a política ou o ministro) é uma prerrogativa da presidenta, não do presidente do partido”, acrescentou.

“Essa plenária tem grande importância nesse momento de fortes ataques que sofremos”, ressaltou Falcão. No próximo dia 3, em grupo, as centrais sindicais, com apoio do Dieese, farão reunião com entidades empresariais. O objetivo é elaborar um programa comum a ser entregue a Dilma em reunião prevista para o dia 9.

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Encontro de sindicalistas debate conjuntura e rumos para a militância dos trabalhadores

Retomar o PT

No encontro, o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, ex-presidente da CUT, ressaltou a urgência de o PT voltar às bases. O dirigente declarou que o partido vive atualmente “a maior crise de sua história”.“Não estamos conseguindo fazer o casamento entre as lideranças partidárias e os movimentos sociais”, acrescentou.

Sem citar nomes, Felício criticou os correligionários que estão deixando ou deixaram o partido recentemente. “Quem saiu do PT nunca foi petista.”

Para ele, a participação dos sindicatos será essencial para esse processo de reencontro do partido com suas bases. “Ano que vem faremos encontros estaduais com lideranças nacionais. Queremos que a massa de sindicatos cutistas do PT participe desse processo de luta, de mobilização. Precisamos fazer, através da nossa pressão política, as mudanças que precisamos fazer”, disse.

O presidente da CSI criticou a política econômica e o próprio partido. “A gente precisa resgatar uma nova política econômica para o Brasil. A forma como o PT vem sendo conduzido fragiliza o partido”, ressaltou.

João Felício ressaltou em sua fala a necessidade de os sindicatos e movimentos sociais pressionarem o governo por uma política que leve em conta o contexto político e econômico mundial e a América Latina em particular, diante da pressão do capitalismo financeiro internacional, para evitar que o país se submeta aos interesses do mercado. Segundo ele, a eleição na Argentina, que elegeu no último domingo o oposicionista Maurício Macri e pôs fim a 12 anos de kirchnerismo, já representa uma séria advertência. “A eleição na Argentina já foi um retrocesso.”

Ele também afirmou que a reforma tributária e a regulação dos meios de comunicação são fundamentais para o país, a cidadania e a classe trabalhadora. “Não é possível não haver avanço no sistema de comunicações. Não é possível que não haja ainda um grande jornal, não digo nem de esquerda, mas de centro-esquerda para defender os trabalhadores.”

Ativação

No encontro, a CUT emitiu documento em que conclama os trabalhadores a ampliar a participação política dentro do PT e resgatar “a tradição de partido da classe trabalhadora, e organização da militância para a luta social e política”.

Confira a íntegra:

Defender as conquistas sociais e a classe trabalhadora

Em junho de 2015, por ocasião do 5º Congresso Nacional do PT, divulgamos o manifesto “O PT de volta para a classe trabalhadora”, de iniciativa de dirigentes cutistas filiados ao nosso partido e apoiado por mais de 400 lideranças sindicais de todo o país.

Neste final de 2015, primeiro ano de um segundo mandato conquistado por Dilma Roussef do PT, reeleita graças ao engajamento do movimento sindical e popular, em particular no 2º turno das eleições presidenciais de 2014, no combate ao retrocesso e para aprofundar as reformas populares, estamos diante de uma crise política e econômica que impacta o Brasil e o nosso partido.

O resultado é que fecharemos o ano com altas taxas de desemprego (chegando a 20% entre os jovens de 18 a 24 anos), retração da atividade econômica (crescimento negativo do PIB) e uma ofensiva das classes dominantes – utilizando o Judiciário, a grande mídia, partidos de oposição e inclusive da coalizão de governo – para destruir o nosso partido, construído para dar voz à classe trabalhadora. Isso para não falar das ansiadas reformas populares (reforma política democrática, agrária, urbana, tributária, democratização dos meios de comunicação), que seguem bloqueadas pelo Congresso mais conservador desde o final da ditadura militar.

O manifesto dos sindicalistas ao congresso do PT já alertava que:

“Consideramos que a política de ajuste fiscal regressivo e recessivo inaugurada com a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda coloca o PT contra a classe trabalhadora e as camadas populares que sempre foram sua principal base de apoio. Trata-se de uma política econômica que diminui o papel do Estado, corta investimentos e eleva juros, acabando por restringir direitos sociais, rebaixar salários e aumentar o desemprego, com impactos negativos no PIB.

Sabemos o que ocorreu na história recente com partidos de esquerda que aplicaram políticas de ajuste fiscal inspiradas pelo FMI, como se viu em alguns países da Europa: entraram em crise, foram derrotados em eleições, perderam sua base social. Não queremos que o mesmo aconteça com o PT! “

É mais que urgente mudar de política econômica

Se não houver uma mudança urgente da atual política econômica, os estragos que ela já fez não serão recuperados a tempo de impedir um desastre ainda maior para a nação e para o futuro de nosso partido.  É hora de retomar um diálogo positivo com a base social que garantiu a nossa vitória eleitoral de 2014 e com as organizações de luta de nosso povo que a representam.

Nós sabemos que não é apenas nossa a preocupação de mudar o rumo do governo que ajudamos a eleger. Centenas de economistas, intelectuais, artistas, lideranças dos movimentos populares e da juventude, vêm se pronunciando no mesmo sentido. Precisamos concentrar esforços na unificação das “Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, contra a direita e por mais direitos”, por uma nova política econômica.

Mas 2015 está se encerrando com o mundo acompanhando o Crime  Ambiental de Mariana (MG),também com a luta dos estudantes secundaristas e professores contra o governo Alckmin (SP), para manter as escolas funcionando, com a greve dos bancários que arrancaram reivindicações e defenderam seus salários, a greve dos petroleiros em defesa da Petrobras e do Pré-sal para a nação, a Marcha das Mulheres Negras e a mobilização das mulheres exigindo “Fora Cunha”, de outras inúmeras mobilizações dos trabalhadores em Educação em todo o país e de greves em defesa de salários, emprego e direitos ameaçados pela política de ajuste fiscal que só beneficia banqueiros e especuladores, demonstrando que a classe trabalhadora e os setores populares estão em luta!

“É preciso que o PT afirme a necessidade de o Estado atuar a favor do crescimento, é necessário reduzir a taxa de juros, fazer com que as tarifas públicas contribuam para a queda da inflação e implementar programas governamentais de incentivo à atividade produtiva. O sistema tributário deve ser progressivo, taxando grandes fortunas e heranças, com uma reforma que desonere salários, taxe lucros, dividendos e ganhos com a especulação financeira, ao mesmo tempo que se estimule o aumento de renda dos mais pobre.. Enfim, uma agenda política positiva, que tenha no centro a valorização do trabalho, com uma política econômica anti-neoliberal que implica a democratização do Estado e a realização de reformas estruturais”.

Os sindicalistas petistas reunidos em 27 de novembro em São Paulo, queremos que 2016 seja o ano da virada, seja na situação econômica, seja na situação política. Não temos outra intenção a não ser a de ajudar a classe trabalhadora e o seu partido histórico, o nosso PT, a superar a aguda crise em que se encontra e reafirmamos a nossa disposição em assumir as nossas responsabilidades nessa luta.

“Desde a campanha eleitoral de 2014, nossos adversários escolheram as investigações da chamada “Operação Lava Jato” para insistir em criminalizar o PT. Repetindo o método do mensalão, tentam atribuir ao PT – e exclusivamente ao PT – os crimes de bandidos confessos, vinculados a diversos partidos, inclusive da oposição que agiam impunemente há décadas e hoje negociam depoimentos em troca de benefícios, sem apresentar provas do que dizem”. (Cartilha em Defesa do PT).

“Só sairemos dessa crise se retomarmos a nossa tradição de partido da classe trabalhadora, e organização da militância para a luta social e política” (manifesto de junho).

Resolvemos, neste sentido, constituir uma Coordenação de Sindicalistas Petistas que, trabalhando em colaboração com o setorial sindical do PT, ajude na ampliação da nossa participação na vida e nas instâncias partidárias para ter “o PT de volta para a classe trabalhadora”.

São Paulo, 27 de novembro de 2015

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