Definido o quadro de alianças para eleições municipais no Rio

No estilo 'balança, mas não cai', PMDB e PT selam parceria por reeleição de Eduardo Paes, que terá como adversários as duplas Rodrigo Maia-Clarissa Garotinho e Marcelo Freixo-Marcelo Yuka

O virtual candidato à reeleição no Rio, Eduardo Paes, no acordo entre PT e PMDB para capital fluminense (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Rio de Janeiro – A passagem da presidenta Dilma Rousseff pelo Rio de Janeiro na quarta-feira (21) desatou o último nó que ainda dificultava a repetição da aliança entre o PT e o PMDB em torno da candidatura de Eduardo Paes à prefeitura da cidade. Com o fim da crise entre petistas e peemedebistas, o quadro de alianças para as eleições na capital praticamente se define, já que em março também foi confirmada a aliança entre o DEM e PR em torno da chapa Rodrigo Maia-Clarissa Garotinho e a decisão de PSOL e PV de caminharem separados – e com candidaturas próprias – para as urnas em outubro. 

A reeleição do prefeito do Rio já no primeiro turno se tornaria improvável se o PT, que indicou o vereador Adilson Pires para vice na chapa de Paes, optasse pela candidatura própria. Esse movimento cresceu entre setores petistas depois que o presidente estadual do PMDB, o ex-deputado Jorge Picciani, deu entrevistas dizendo que seu partido não apoiaria a candidatura do petista Rodrigo Neves à Prefeitura de Niterói. A esse problema, seguiu-se a divulgação, pelo Ministério da Saúde, dos índices de desempenho do Sistema Único de Saúde (SUS) que colocaram a saúde pública do Rio como a pior do país, fato que teria irritado profundamente o prefeito, segundo seus auxiliares.

A bomba começou a ser neutralizada na segunda-feira (19), durante um almoço do presidente nacional do PT, Rui Falcão, com o governador Sérgio Cabral. Na conversa, Cabral desautorizou os comentários de Picciani e garantiu que o PMDB apoiará Neves, que é seu secretário estadual de Assistência Social, em Niterói. O acordo preparou o terreno para que a visita de Dilma ao Rio – que teve como agenda oficial a inauguração da Clínica da Família Joãozinho Trinta, no bairro de Parada de Lucas – se transformasse num momento de desagravo político de ambas partes e confirmação da aliança em torno de Paes.

A presença de Alexandre Padilha na comitiva presidencial reforçou a sensação de que o governo federal queria, após os recentes desencontros políticos, fazer um carinho no prefeito. O ministro da Saúde elogiou o fato de a cidade ter chegado ao número de dois milhões de pessoas atendidas pelo programa Saúde da Família. “Dois milhões é uma marca histórica para o Rio de Janeiro, uma cidade que até há poucos anos não tinha nada de cobertura. E, não é qualquer cobertura, mas uma cobertura com qualidade de atendimento”, disse.

Dilma, por sua vez, afirmou que Paes é “um prefeito de qualidade” e “especial por sua capacidade de trabalho”. A presidenta disse ainda que irá repetir esse ano a “extraordinária parceria com o governador Sérgio Cabral” no apoio à reeleição do prefeito do Rio.

Maias e Garotinhos

Outra aliança que balançou, mas não caiu, foi a costurada entre o ex-prefeito Cesar Maia e o ex-governador Anthony Garotinho em torno de seus respectivos filhos: o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) e a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR). Mesmo com resistências em ambas as bases – causada por um passado recente em que Cesar e Garotinho se acusaram mutuamente de ladrões – a aliança foi selada no dia 8 de março em uma grande pajelança que reuniu militantes dos dois partidos em um teatro do Rio. “O Eduardo Paes é um prefeito sem marca, sem cheiro e sem cor. Temos todas as condições de derrotá-lo, pois nossa chapa tem nome e sobrenome”, disse Rodrigo, antecipando um possível slogan de campanha.

Rodrigo e Clarissa já deram início a uma intensa agenda de campanha, com uma série de visitas a lideranças comunitárias ligadas aos dois partidos, além de reuniões em alguns diretórios regionais. A estratégia é que a deputada do PR, de perfil mais popular, dê a Rodrigo acesso aos setores da sociedade que normalmente votam nos Garotinho. Em contrapartida, o deputado do DEM ampliaria horizontes nas classes A e B, onde o clã do ex-governador é mais fraco.

Padrinho da aliança, Cesar Maia comparou a chapa DEM-PR àquela formada por Juscelino Kubitschek e João Goulart em 1956. Anteriormente, o ex-prefeito já tinha defendido a união com Garotinho ao dizer que “Inglaterra e União Soviética também se uniram na Segunda Guerra para derrotar a Alemanha”. O ex-prefeito aposta que a eleição não será decidida no primeiro turno: “Isso raramente acontece no Rio”, diz. 

Freixo com Yuka

Dos acordos que vinham sendo alinhavados desde o ano passado, o único a não ser concretizado foi o que envolvia o PSOL e PV em torno da candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Os verdes, que indicariam o candidato a vice na chapa com o PSOL, decidiram pela candidatura própria, mas falta definir o candidato. Os nomes que disputam a indicação do PV são a deputada estadual Aspásia Camargo e o ex-superintendente do Ibama, Rogério Rocco.

O PSOL, por sua vez, confirmou sua chapa puro-sangue com o músico e compositor Marcelo Yuka como vice de Freixo: “Ter o Yuka nesse projeto é uma honra, um presente que eu ganho. Ele tem uma história impressionante e toda aquela identidade com o Rio de Janeiro que queremos para nossa candidatura”, disse o deputado. A popularidade do músico, assim como a de Freixo, servirá para contornar o tempo exíguo que o PSOL, sem aliados, terá na tevê.

Outros partidos também definiram suas posições em março. O PSDB, mais um que deve marchar às urnas sozinho, confirmou como seu candidato o deputado federal Otávio Leite, encerrando a disputa interna com a deputada estadual Andréa Gouvêa Vieira. O PPS, que ameaçara lançar o deputado federal Stepan Nercessian à Prefeitura, recuou e confirmou apoio a Eduardo Paes, assim como o PDT. A aliança em torno da reeleição do prefeito já conta com 19 partidos.