Apoiadores de Aécio se contradizem sobre respeito ao resultado das urnas
Tucano que perdeu na Paraíba coloca em dúvida confiabilidade de urnas. Encontro de aliados teve presenças de Pastor Everaldo e Roberto Freire e novamente buscou apresentar derrotado como vencedor
Publicado 05/11/2014 - 16h35
Brasília – No seu primeiro encontro após as eleições, nesta quarta-feira (5), os partidos que se aliaram ao PSDB no apoio à candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para a presidência da República tentaram unificar discursos contrários ao governo, destacaram a necessidade de seguir coesos até 2018 e defenderam a democracia, mas apresentaram contradições ao abordar o sistema de votações por urnas eletrônicas. Enquanto Aécio evitou tocar no assunto, apoiadores encamparam o discurso que visa a deslegitimar a vitória obtida por Dilma Rousseff em 26 de outubro.
A exemplo do que ocorreu na véspera, durante o retorno ao Senado do candidato derrotado à presidência da República, a reunião da executiva nacional do PSDB, realizada na Câmara, buscou dar força ao processo solicitado pelos tucanos de uma auditoria no resultado das eleições – o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já rejeitou a ideia, tachada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como uma “imprudência a toda prova” por parte do PSDB.
Ainda assim, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que o tema precisa ser incluído na pauta do país, e o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, do Solidariedade, ressaltou que “é o povo nas ruas que está reclamando do resultado das eleições”.
Cunha Lima, derrotado na disputa para o governo do seu estado, afirmou que “não se pode ter a urna eletrônica como dogma” e considerou natural que sejam feitos pedidos de investigação de eleições numa democracia. Ele questionou o fato de, numa eleição com poucos votos de diferença ente os dois principais candidatos, não poder ser feito este tipo de cobrança. “Precisamos colocar na pauta do Brasil a discussão desse sistema de votações. Será que, assim como o direito à liberdade e à vida, também se transformou em dogma a urna eletrônica?”, ironizou.
Já Paulinho frisou que não entende as críticas feitas ao pedido de auditoria junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “O pedido foi solicitado porque o povo tem pedido isso nas ruas, por onde eu ando”, disse. Na realidade, o pedido do PSDB tomou como base comentários feitos em redes sociais.
No evento, os partidos que se aliaram à candidatura de Aécio Neves à Presidência – PPS, PP, Solidariedade, DEM, PSC e ala do PMDB – enfatizaram entre as principais diretrizes desse bloco de oposição a importância de ser mantida a comunicação com os 51 milhões de eleitores que votaram neles. O número vem sendo ressaltado a todo instante pelos apoiadores do tucano e pelo próprio candidato derrotado, que entende que se trata um grupo de cidadãos indispostos com o governo do PT.
Acentuaram, também, que o poder oposicionista está com o Congresso Nacional, daqui por diante, e prometeram formar um grupo técnico para avaliar os programas governamentais. “A partir deste acompanhamento faremos as cobranças que julgarmos necessárias e essas cobranças, lhes asseguro, serão constantes”, colocou Aécio Neves.
O encontro, realizado no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, tentou novamente reforçar o argumento de que, pelo percentual pequeno de diferença de votos entre Aécio Neves e a presidenta Dilma Rousseff, as eleições presidenciais de 2014 mudaram o país e mostraram que existe uma fatia relevante da população interessada em mudanças. O principal objetivo era fazer uma espécie de prestação de contas da campanha e externar os agradecimentos, por parte de Aécio, aos votos recebidos. Mas, como já era esperado, terminou servindo para declarações diversas.
Marcaram presença parlamentares e dirigentes partidários das siglas presentes, militantes e políticos de todo o país eleitos, reeleitos, sem mandato e derrotados nas urnas. “Agradeço a todos os companheiros que acreditaram na construção de um Brasil verdadeiro. Somos uma oposição vitoriosa, porque falamos a verdade e trabalhamos por uma nova construção política, digna e ética, disposta a melhorar a vida dos brasileiros”, afirmou o senador.
Outro ponto que chamou a atenção no evento foi o fato de os políticos presentes praticamente definirem Aécio Neves como principal líder da oposição do momento, o que ficou claro com o discurso da senadora Ana Amélia (PP-RS). “Mais do que nunca, precisamos lembrar que não podemos nos dispersar”, salientou a senadora.
‘País melhor’
O pastor Everaldo, que começou a eleição como candidato à presidência pelo PSC e apoiou o PSDB no segundo turno, frisou que considerou um privilégio participar da campanha de Aécio e que as urnas mostraram ser possível construir “um país melhor do que este que está aí, trabalhando de forma irmanada”.
O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse que o ato realizado naquele momento era importante e cheio de simbologismos, porque dava voz a uma admiração expressada pelas ruas e mostrava “o quanto é importante continuarmos essa luta”.
Responsável por um dos discursos mais duros contra o governo, o prefeito de Manaus, o tucano Artur Virgílio, manteve a ideia de criar obstáculos ao diálogo com o governo. “Para que possamos dialogar, esse diálogo teria que começar com informações sobre o petrolão, por exemplo”, destacou, numa referência às denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras.
Virgílio também criticou a presidenta Dilma Rousseff por ter anunciado previamente que trocaria o seu ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo afirmou, a presidenta expôs Mantega e, dessa forma, ainda se submeterá a um próprio desgaste ao se apresentar aos seus pares, na reunião do G-20, nos próximos dias, com um ministro demissionário.