Limpeza

PF faz varredura no Alvorada e no Planalto, e mudança de Lula não tem data definida

Clã Bolsonaro entregou imóveis “de qualquer jeito” e equipe de Lula quer também evitar grampos e escutas possivelmente plantados nos palácios

Reprodução/Youtube
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O cuidado com o bolsonarismo envolveu a lavagem da rampa do Palácio do Planalto com sal grosso na semana passada para afastar energias negativas

São Paulo – Nem a equipe mais próxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou, institucionalmente, a Casa Civil, se manifestaram até o momento sobre a data em que ele se mudará para o Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de governo, que passa por uma varredura para detectar equipamentos de espionagem. O presidente continua morando e despachando em um hotel na capital federal, enquanto o próprio Palácio do Planalto também passa por inspeção. O trabalho nos dois locais não tem prazo para ser concluído. O perfil do antecessor Jair Bolsonaro justifica o cuidado.

Fora a preocupação com a segurança da equipe e do próprio presidente, há também o desleixo de seus antigos ocupantes. Na segunda (2), o ministro da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, afirmou à Globonews que o governo anterior entregou as residências oficiais “de qualquer jeito”. Segundo ele, a situação na Granja do Torto, onde o presidente poderia morar provisoriamente, também “não estava muito boa”. O imóvel esteve sob responsabilidade de Paulo Guedes, ex-ministro da Economia.

A Polícia Federal (PF) iniciou os procedimentos de “limpeza” e varredura do Palácio do Planalto ontem, em busca de grampos ou escutas no prédio que possam captar e gravar áudios ou vídeos e que podem ter sido instalados nos gabinetes da sede do Executivo.

As precauções com o bolsonarismo foram até mesmo religiosas e espirituais. Na semana passada, a rampa do Palácio do Planalto foi lavada com sal grosso, que nas tradições de origem africana é usado para afastar energias negativas.

Segundo o jornal O Globo, os gabinetes do alto escalão do Executivo devem passar por vistoria e varredura a partir desta terça-feira (3). O trabalho foi iniciado na Casa Civil, que será comandada pelo ex-governador da Bahia Rui Costa. Em relação ao Alvorada, é que “não vai ter mais cercadinho”, segundo disse Lula no domingo (1°), dia da posse.

Herança bolsonarista

A má educação e grosseria do clã Bolsonaro não se resumem a lembranças de agressões verbais. Ficaram registradas nos bens materiais dos palácios e até mesmo no Rolls-Royce utilizado tradicionalmente pelo chefe de Estado brasileiro ao assumir o cargo.

Na posse de 1.º de janeiro de 2019, Carlos Bolsonaro, filho do então presidente, foi fotografado sentado no encosto do automóvel com os pés no banco traseiro, como se andasse numa charrete. Em dezembro, a primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, afirmou que o veículo estava “danificado”.

A tarefa da PF

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, tomou posse na segunda-feira (2) em cerimônia no Ministério de Justiça. Ele tem a tarefa delicada de unir a corporação, dividida e radicalmente politizada por Bolsonaro, que tentou a todo custo instrumentalizá-la sem êxito.

Tanto que, em relatório final enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 27 de dezembro, a PF apontou que o ex-mandatário cometeu incitação ao crime ao associar a vacina contra covid-19 ao vírus HIV, em live de outubro de 2021.

Ao indicar o nome de Andrei Rodrigues à direção da PF em dezembro, o então futuro ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), afirmou ter levado em conta a “necessidade de restauração da plena autoridade e legalidade das polícias, também a experiência profissional, inclusive na Amazônia brasileira”.

Rodrigues participou da preparação da segurança da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil. Também foi figura proeminente na segurança de Lula durante a campanha eleitoral e integrou a equipe de transição de governo.

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