Patriota garante que país se empenha em tirar corintianos da Bolívia

Em audiência na CRE do Senado, ministro falou também da sensível relação comercial com a Argentina e sobre a volta do Paraguai ao Mercosul, que exige 'vigor', segundo ele

Patriota pediu prudência aos parlamentares na associação do caso dos corintianos ao do senador boliviano asilado em embaixada (Foto: Marcia Kalume/Agência Senado)

São Paulo – O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, negou hoje (4), em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), no Senado, que o governo brasileiro esteja agindo sem firmeza no caso dos 12 torcedores do Corinthians presos na Bolívia desde o dia 20 de fevereiro depois da morte de um torcedor boliviano atingido por sinalizador em jogo da Taça Libertadores da América. Patriota afirmou que os advogados dos brasileiros tentam habeas corpus, com a possibilidade de conversão da detenção em prisão domiciliar até a conclusão das investigações e do julgamento.

O presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que visitou os torcedores na semana passada, em Oruro, disse que há esforço da missão diplomática brasileira, mas que também há “má vontade” das autoridades bolivianas. Ele teme pela integridade física dos corintianos, que estão em uma prisão superlotada, “com criminosos perigosos”.

Patriota pediu aos parlamentares prudência na associação do caso dos corintianos com a situação do senador boliviano Roger Pinto Molina, asilado desde o ano passado na Embaixada do Brasil na Bolívia. Para alguns deles, a exemplo de Ferraço, o governo de La Paz estaria usando os torcedores como objeto de “barganha política”. 

Ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o ministro disse que o caso Molina é mantido sob sigilo pelo governo, mas que há “conversas bastante pormenorizadas” com as autoridades da Bolívia em busca de um salvo-conduto para ele deixar o país. Roger Pinto diz ser perseguido político e correr risco de morte.

Argentina

Patriota tentou tranquilizar os senadores a respeito do “estado de saúde” do Mercosul, apesar de reconhecer problemas com a Argentina, o principal parceiro. Disse que o bloco demonstra vigor com a entrada da Venezuela, o interesse de adesão da Bolívia e a intenção de Guiana e Suriname de se tornarem membros associados. 

O ministro comparou o Mercosul à União Europeia. Comentou que o primeiro-ministro britânico David Cameron prometeu consulta popular sobre a manutenção do Reino Unido no bloco europeu caso os conservadores vençam as eleições em 2015. “Enquanto há países querendo sair da União Europeia, no Mercosul o interesse é no sentido contrário.”

As relações com a Argentina, para Patriota, têm “áreas problemáticas”, como os indícios de desvio de comércio em benefício de país não integrante do Mercosul, cujo nome não quis mencionar. No entanto, empresários brasileiros já denunciaram série de vantagens da Argentina à China, o que exige análise séria, segundo o ministro.

Ele lembrou que setores como os de calçados e têxteis enfrentam medidas restritivas de Buenos Aires, que teriam contribuído para a redução de 74% do superávit que o Brasil tinha no comércio entre os dois países, entre 2011 e 2012.

Paraguai

Diante do questionamento de vários senadores, Patriota afirmou que as eleições presidenciais no Paraguai, no próximo dia 21, poderão “abrir caminho” para sua reincorporação ao Mercosul. O país foi suspenso em junho passado, após o impeachment do então presidente Fernando Lugo. Como a suspensão foi uma decisão coletiva, a revogação também será, dependendo da avaliação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), de acordo com o ministro.

Patriota afirmou que “uma clara melhoria da posição negociadora” das nações da América do Sul, em decorrência de seu crescimento econômico, vem contribuindo para a retomada dos entendimentos com vistas à integração do Mercosul com a União Europeia, que estavam estagnados.

Jurong

Patriota negou a Ferraço interferência do embaixador do Brasil em Cingapura, Luís Fernando Serra, em disputa relativa a investimentos da Jurong. Segundo Ferraço, o diplomata teria trabalhado a favor do estaleiro de Eike Batista, no Rio de Janeiro, e tentado demover a empresa cingapuriana Jurong de investir na construção de um estaleiro no Espírito Santo. Patriota negou a interferência.

Com informações da Agência Senado