Lava Jato

Para Vannuchi, jornais ignoram o funcionamento das instituições democráticas

Analista comenta a repercussão da divulgação dos primeiros nomes de políticos que devem ser investigados pelo STF por corrupção na Petrobras

Jonas Pereira/Agência Senado

Renan Calheiros: retaliação ao governo, sem considerar a independência de atuação do Ministério Público

São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi, em comentário à Rádio Brasil Atual hoje (4), trata da repercussão nos principais jornais do vazamento de nomes de políticos, como o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que constam na lista enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria-Geral da República e que pede a investigação dos envolvidos em casos de corrupção na Petrobras, no âmbito da operação Lava Jato. “Nenhum jornal faz explicação decente de como funcionam, ou devem funcionar, as instituições democráticas.”

A Folha de S. Paulo, por exemplo, busca desgastar o governo Dilma, trazendo em manchete a decisão do presidente do Senado de devolver a Medida Provisória 669/2015, que reduz a desoneração da folha de pagamento das empresas, em retaliação pela inclusão do seu nome na lista de suspeitos.

Vannuchi ressalta a independência do Ministério Público (MP) em relação ao governo, e que, portanto, o governo não tem responsabilidade, nem influência, na inclusão do nome de Renan na lista de envolvidos, sendo assim indevida a retaliação.

Para embasar a afirmativa de independência do MP, o analista político lembra da caso do mensalão, quando políticos do PT foram duramente condenados, e ainda, que na mesma lista em que aparece o nome do presidente do Senado, constam também nomes de políticos do partido, como a ex-ministra, hoje senadora, Gleisi Hoffman e do governador do Acre, Tião Viana. Tivesse o governo a capacidade de influenciar o MP, tais nomes não apareceriam, diz Vannuchi.

O MP é independente, até mesmo do poder judiciário. É um órgão essencial para o funcionamento da Justiça. Hierarquicamente, ele não responde nem ao Executivo, nem ao Legislativo, nem ao Judiciário. É quase um quarto poder republicano.”

O analista político destaca duas contradições nas posturas de Renan e da mídia. O presidente do Senado, que exerceu pressão sobre o governo para ter seu nome poupado, arvora a independência dos poderes quando ‘retalia’ o governo na derrubada da MP. Já os principais jornais, que há tempos atrás engajavam-se em um processo de “linchamento” contra Renan, em casos passados de corrupção, hoje, o tratam como vítima.

Vannuchi aguarda a divulgação de novos nomes de políticos envolvidos e especula sobre a inclusão, ou não, do nome do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em março do ano passado. Ainda que pessoas mortas não possam ser processadas, o “carimbo” de arquivamento por morte marcaria relação do partido com “episódio que envolve R$ 10 milhões em propina”.

O analista frisa que todos os envolvidos terão o direto de se defender e só poderão ser condenados com base em sólidas provas e reafirma que quem faz a lei é o poder legislativo, que o juiz não pode ir contra a legislação em vigor e buscar condenar sem provas, como, segundo ele, teria agido o ex-ministro Joaquim Barbosa no caso do mensalão, inspirando o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. “Toda vez que isso acontece, fica aberta a estrada para ditaduras, para o autoritarismo.”

Ouça o comentário completo da Rádio Brasil Atual:

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