Para analistas, avanço da oposição nos estados traz desafios a governo Dilma

Rio de Janeiro – Os 11 estados em mãos de partidos de oposição ao governo federal significam um desafio inédito para a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT). Segundo o cientista […]

Rio de Janeiro – Os 11 estados em mãos de partidos de oposição ao governo federal significam um desafio inédito para a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT). Segundo o cientista político Jairo Nicolau, do Instituto de Estudos Sociais e Político (IESP) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), PSDB e DEM terminam o processo eleitoral em uma posição melhor do que indicavam os resultados do primeiro turno.

Por serem estados mais populosos, o cenário coloca metade dos eleitores sob gestões de oposição. O feito mostra que a oposição não termina o processo tão enfraquecida. Além do avanço de 10 pontos percentuais de Dilma do primeiro para o segundo turno, aliagos da candidata conquistaram maioria na Câmara dos Deputados e no Senado.

A força regional da oposição é inédita, segundo Nicolau, desde a redemocratização. “Podemos dizer que, de 1994 para cá, nunca um presidente perdeu em tantos estados”, avalia, em entrevista à Rede Brasil Atual. Somados, PSDB, DEM e PMDN venceram no Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Norte, Roraima, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo.

O cientista político desconsidera o mandato de Fernando Collor de Mello, eleito em 1989, por considerar aquela uma disputa à parte. “Era a primeira eleição direta, com os partidos se organizando ainda no país”, lembra. A disputa para o Legislativo só ocorreu um ano depois, em 1990. Por isso, a primeira mulher eleita para o cargo máximo do Executivo federal terá desafios grandes em função dos postos conquistados pela oposição.

O cientista social Ricardo Ismael, da Pontífice Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) concorda com a avaliação. Para ele, o resultado nesses estados e a vitória de Serra nas principais capitais do Brasil mostram que o eleitorado menos dependente dos programas sociais do governo Lula optou pela oposição.

Para Nicolau, o resulado mostra um país “bipolar”, com divisão relacionada a questões socioeconômicas e regionais. “Municípios com maior Índice de Desenvolvimentlo Humano (IDH) ficaram inclinados a votar no (oposicionista José) Serra, enquanto lugares mais pobres votaram em Dilma”, comenta. “Essa divisão é uma tendência social, acontece em outros países também”, revela.

O cientista político avalia que a parte da classe média tenha se frustrado com o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, devido aos escândalos envolvendo nomes fortes do PT. “Enquanto a classe média se afastou das propostas de Lula, a classe baixa, concentrada em alguns estados, foi beneficiada com programas de políticas públicas agressivas”, afirma.

Em função disso, Ismael acredita que os fatores que tiraram apoio do PT junto à classe média serão reforçados na gestão de Dilma. “O eleitorado do Serra se fincou na crítica à ética do governo Lula. É importante que agora a Dilma tenha cuidado na nomeação de seus cargos de confiança”, ressalta.

O pesquisador considera a vitória de Dilma como a consagração da política econômica que promoveu a redução do desemprego, uma política de reajuste real para o salário mínimo e a expansão do crédito popular. Esse conjunto gerou, na visão de Ismael, aumento do consumo. Por isso, manter o crescimento econômico e elevar o poder de compra também são desafios colocados.

O combate à alta informalidade na economia da região Nordeste e a problemas na saúde, educação e saneamento básico é apontado como outra frente para manter o apoio da população.

 

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