Câmara

Novo líder do PT diz que ‘enterrar o golpe’ e ‘limpar a conjuntura política’ são prioridades

Afonso Florence, que vai comandar bancada petista na Câmara, defende que, além 'apreciar rapidamente o pedido de impeachment', base de Dilma deve esclarecer população sobre necessidade da CPMF

memória/ebc

Florence: “Vamos também defender a imagem e as lideranças do PT”

São Paulo – O novo líder do PT na Câmara dos Deputados, o baiano Afonso Florence, foi ministro do Desenvolvimento Agrário no primeiro ano de governo da presidenta Dilma Rousseff. Sucessor do deputado Sibá Machado (PT-AC) na liderança, ele está em seu segundo mandato parlamentar.

Em entrevista à RBA, o deputado diz que a aprovação da CPMF é  prioridade e que a bancada vai trabalhar pelo tributo “como um imposto a ser pago pelos mais ricos”.

Segundo o deputado, apesar das dificuldades políticas de se aprovar a contribuição, o partido vai trabalhar para promover a volta da cobrança. “Eduardo Cunha, o PSDB e o DEM vão continuar contra e tentando confundir a população”, diz. “Vamos tentar esclarecer a população para garantir que os governos de todos os partidos tenham recursos para a saúde, para a educação.”

O parlamentar concorda que a oposição, liderada pelo PSDB, está, no momento, priorizando a ideia de cassar a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em detrimento do impeachment, hoje improvável. “A oposição, com a prática golpista, está apostando cada hora em uma alternativa infundada. Agora que está provado que não tem nenhum fundamento para o impeachment, querem a rejeição das contas da presidenta.”

Quais seus principais desafios como líder da bancada?

Temos uma pauta política e uma legislativa e econômica. Precisamos apreciar rapidamente o pedido de impeachment acatado por Eduardo Cunha e vamos mostrar que não tem nenhuma base legal para o impeachment, e vamos derrotar. Vamos também defender a imagem e as lideranças do PT contra esses ataques sem prova, esse crime que está sendo cometido contra o presidente Lula, o maior presidente da história do Brasil. Ao mesmo tempo, vamos defender a aprovação das medidas econômicas necessárias para criar imposto só para rico e garantir políticas públicas, a retomada da atividade econômica, do emprego e da renda para o povo brasileiro.

A CPMF é a principal aposta hoje do governo nesse sentido?

Sim, a CPMF é um imposto para rico pagar. Podemos fazer uma faixa de isenção, com restituição pelo imposto de renda. O PSDB e o DEM são contra a CPMF, fazendo discurso de que são contra mais imposto, mas estão mais uma vez apenas protegendo os mais ricos. Vamos lutar para aprovar a CPMF para continuar garantindo o Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, cotas nas universidades, como fizemos com Lula e com Dilma.

No atual contexto em que a população está ressabiada com a classe política, não se torna mais difícil os políticos no Congresso enfrentarem o discurso contra mais imposto, sendo justo ou não?

Nós achamos que o que é justo tem que ser defendido. Claro que Eduardo Cunha, o PSDB e o DEM vão continuar contra e tentando confundir a população. Eles sempre defenderam os mais ricos. Vamos esclarecer a população e tentar garantir que os governos de todos os partidos tenham recursos para a saúde, para a educação. Os recursos obviamente têm que ser fiscalizados, mas tem que ter recurso. Por isso, vamos defender a CPMF como um imposto a ser pago pelos mais ricos.

A bancada do PT vai se posicionar com mais veemência por uma reforma tributária progressiva?

A reforma tributária é isso, é a tributação dos mais ricos para garantir políticas públicas para os mais pobres. Com o maior esclarecimento da população, a gente consegue aprovar. Vamos trabalhar nesse sentido.

O sr. tem a missão de recompor a base do governo, que passou por 2015 meio esfacelada. Acredita que pode ser bem sucedido diante das dificuldades políticas?

Com certeza. Com a legislação e a democracia brasileiras, temos um governo de coalizão. Dentro da coalizão vamos defender a agenda que o PT considera necessária para o país, principalmente para o povo que mais precisa. Temos que enterrar o golpe e limpar a conjuntura política – e temos que lembrar que quando a (agência de classificação de risco) Fitch Ratings baixou a nota do Brasil no ano passado, atribuiu o rebaixamento à crise política, causada pela pauta bomba, a desestabilização, a tentativa de golpe institucional sem nenhum fundamento para impeachment. A lei prevê impeachment, mas não existe nenhuma justificativa legal para impeachment. Limpando a política, vamos para a política econômica.

Concorda que a oposição, hoje, aposta mais na cassação via TSE do que no impeachment?

A oposição, com a prática golpista, está apostando cada hora em uma alternativa infundada, mas que lhe restou como prática golpista. Perderam a eleição, começaram a fazer campanha pelo impeachment. Agora que está provado que não tem nenhum fundamento para o impeachment, querem a rejeição das contas da presidenta, mas as contas foram aprovadas e a captação de recursos privados de campanha, em muitos casos, foi menor do que a de Aécio. Tem três delações premiadas contra Aécio na Lava Jato, e estamos esperando a investigação acontecer. A oposição está desesperada, atacando Lula e Dilma porque vê chegar 2018 e a possibilidade de derrota eleitoral se desenhando novamente.

O Congresso vai promulgar a PEC que abre uma janela de 30 dias para troca-troca partidário. A regra pode provocar novas perdas do PT, como ocorreu com Alessandro Molon?

A janela está prevista e já houve saídas do PT, como o Molon, que todo mundo sabe que pretende a candidatura a prefeito (do Rio), e o PT tem uma política muito próxima do atual prefeito, Eduardo Paes, da ala do PMDB que apoiou a presidenta Dilma e é contra o golpe. Nós somos um partido que tem projeto político para o país, experimentado e aprovado. Nossa compreensão é de que quem tinha que sair já saiu, não está dependendo da janela. Todas foram saídas com essa explicação, de natureza política e eleitoral de 2016.