Esclarecimentos

Militares prestam hoje depoimento à PF sobre terrorismo de 8 de janeiro 

Cerca de 80 integrantes do Exército e da Guarda Presidencial serão ouvidos para apurar se houve colaboração ou omissão para que as sedes dos Três Poderes, em Brasília, fosse invadida e depredada por bolsonaristas

Marcelo Camargo/ABr
Marcelo Camargo/ABr
A PF também suspeita se a Guarda dificultou a retirada dos criminosos do local nos atos golpistas do 8 de janeiro

São Paulo – A Polícia Federal realiza uma força-tarefa nesta quarta-feira (12), em Brasília, para ouvir cerca de 80 militares sobre a tentativa de golpe, realizada no dia 8 de janeiro. Na ocasião, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes na capital federal. Devem ser ouvidos militares das Forças Armadas e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). 

Entre os depoimentos que serão tomados hoje estão o do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que estava à frente do Comando Militar do Planalto. No cargo desde abril de 2022, Dutra foi deposto sob desconfiança, após os atos antidemocráticos e realocado pelo Exército na subchefia no Estado-Maior da corporação.

Outro depoimento esperado é o do coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, que comandava o Batalhão da Guarda Presidencial. A unidade era responsável pela segurança do Palácio do Planalto. A polícia federal quer saber, porém, se esses militares participaram diretamente ou se omitiram para que a sede do governo fosse invadida. 

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A PF também investiga também se a Guarda dificultou a retirada dos criminosos do local. De acordo com informações da CNN, a Polícia Federal convocou diversos servidores, inclusive os que estariam de folga hoje, para colher todos os depoimentos ao longo desta quarta.

O objetivo é acelerar a finalização do inquérito. Ainda em fevereiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu que cabe à Corte o julgamento dos militares que estiverem envolvidos nos atos de 8 de janeiro, e não à Justiça Militar. 

Suspeitas de colaboração

O ministro também analisou um requerimento da PF para investigar eventuais crimes cometidos pelos militares, ouvidos na 5ª fase da Operação Lesa Pátria. No pedido, Moraes indicou “possível participação/omissão dos militares do Exército Brasileiro, responsáveis pelo Gabinete de Segurança Institucional e pelo Batalhão da Guarda Presidencial”.

O magistrado ainda justificou que todos os crimes estão previstos no Código Penal e que a lei não faz distinção entre investigados civis ou militares. 

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal, o coronel Jorge Eduardo Naime, também afirmou que o Exército tentou impedir a prisão de manifestantes que participaram dos ataques criminosos.

Segundo o coronel, foi feita uma barreira com militares do Exército para impedir a prisão de suspeitos pelos atos golpistas e que estavam no acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. Vídeos feitos durante os ataques também mostraram uma discussão entre PMs e soldados, que pareciam proteger os vândalos. 

Em março, a Procuradoria-Geral da República (PGR) determinou a abertura de uma investigação contra militares das Forças Armadas por suposto envolvimento nos atos golpistas. Nesta terça (11), o Supremo confirmou que convocará na próxima semana o julgamento de 100 presos envolvidos nos atos terroristas do 8 de janeiro.