No Congresso

Guimarães aprova fala de Dilma; Cristovam concorda, mas receia que acirre protestos

Enquanto líder avalia que presidenta 'foi firme e retomou o estado de normalidade do governo', senador vê precipitação nas declarações, às vésperas dos atos pró-impeachment

ebc/memória

Buarque (esq) elogiou Dilma por pedir conciliação; Guimarães afirmou que ela agiu bem em dar esclarecimentos

Brasília – O pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff foi considerada positiva por parlamentares. Mas enquanto muitos deles acharam que Dilma agiu bem, outros avaliaram que ela deveria ter evitado falar sobre o tema, a dois dias das manifestações pró-impeachment.

Na opinião do líder de governo da Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), a fala da presidenta ocorreu “dentro da normalidade que tem de haver neste momento no país”. “Ela foi correta em dar estes esclarecimentos para acabar com algum clima de dúvida que por acaso estivesse existindo sobre sua posição. A presidenta esteve e continua muito firme no rumo do governo. O Brasil é muito maior do que os arroubos da oposição e não pode parar”, afirmou Guimarães.

De acordo com o líder, o momento é de se trabalhar pela discussão das matérias do ajuste fiscal, da votação de propostas tidas como importantes para a retomada da economia que estão em discussão no Congresso e de dar seguimento a uma agenda positiva, em paralelo à toda a discussão sobre o impeachment.

Já o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) elogiou a postura de Dilma no sentido de pedir conciliação e entendimento entre todos, mas por outro lado considerou precipitada a sua fala.

O senador criticou nas últimas horas a posição do Ministério Público de São Paulo de pedir a prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou de “equivocada e sem propósito, nem embasamento legal”. Mas em relação à declaração da presidenta, disse que “política se faz com palavras e no tempo certo”.

‘Política e tempo’

Segundo ele, Dilma até agiu certo politicamente ao mostrar firmeza nas suas intenções de dar continuidade ao trabalho e pedir por maior entendimento no país, mas errou no tempo por ter falado, faltando dois dias para a realização de manifestações contra o seu governo. “Para mim soou como se ela estivesse dizendo que é a presidenta, não há nada legal que a impeça de governar e que quem quiser que tente tirá-la. Sei que a presidenta não usou estas palavras, mas o fato de ter dado as declarações hoje, com as manifestações marcadas para domingo, pode ajudar a insuflar ainda mais o clima destes atos públicos”, destacou Cristovam.

Ele disse que é momento de os políticos de todos os partidos buscarem no país “gestos de conciliação”, como forma de aparar arestas e evitar chamar as lideranças para a briga, nesse período tão conturbado da vida nacional.

O senador Donizete Nogueira (PT-TO) não comentou propriamente as palavras de Dilma, mas disse no plenário do Senado – em referência ao pedido de prisão preventiva de Lula – que o Brasil possui uma distorção em seu sistema jurídico, no qual quem investiga (os procuradores do Ministério Público) podem formular a denúncia. “Do jeito que está, um procurador firma a convicção de que existe um crime e passa a trabalhar para construir as supostas provas e a denúncia”, reclamou.

Nogueira também fez coro aos colegas nas críticas sobre parte da imprensa e reclamou do que definiu como “protagonismo midiático” que tem sido observado entre procuradores e juízes. Ao defender os avanços observados nas áreas social e econômica dos governos Lula e Dilma, enfatizou: “Não nego a crise econômica que o país atravessa, mas ela seria ultrapassada de forma menos dolorosa se não fosse o aprofundamento da crise política”.