Entrevista coletiva

Lula reencontra Marina: ‘momento histórico’ para ‘colocar um freio no bolsonarismo’

Ex-presidente afirma que a agenda ambiental, principal bandeira de Marina, “será tratada de forma transversal” em seu governo, com todos os ministérios tendo obrigações com o tema

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Marina foi ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, durante o governo, e é candidata à deputada federal

São Paulo – Depois de reunião realizada ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-ministra Marina Silva (Rede) falaram à imprensa em coletiva nesta segunda-feira (12), em São Paulo. Marina reafirmou que a candidatura de Lula é a que tem “as maiores e melhores condições” de derrotar Jair Bolsonaro e “colocar um freio no bolsonarismo”.

“Manifesto meu apoio de forma independente a Lula”, anunciou a candidata à deputada federal por São Paulo. Ex-candidata à presidência da República por três vezes após deixar o PT, em 2009, ela disse que a união com Lula se deve ao cenário representado pela possibilidade de um novo mandato do atual presidente, Jair Bolsonaro, inédito no país pós-redemocratização. “Estamos diante de um quadro que é democracia ou barbárie, democracia ou aniquilação dos povos indígenas, democracia ou aniquilação do povo preto. É na base da democracia que haveremos de reconstruir as políticas.”

Segundo ela, a união de várias lideranças para derrotar Bolsonaro reflete “nossa capacidade de repensar o passado para reconstruir no presente um novo futuro”. Acrescentou que “as críticas vão continuar, mas existe algo mais importante que nos une: todos queremos um país socialmente justo”.

Primeira tarefa: ganhar as eleições

Lula afirmou que a primeira tarefa da campanha “é ganhar as eleições”. Para ele, o reencontro com Marina “é importante” principalmente “pelo momento político que a gente está vivendo”. “A minha geração não estava habituada a fazer política disseminando ódio e violência como nós estamos vendo agora. O momento que estamos vivendo exige muito mais compreensão de todas as pessoas que fazem política, porque a democracia está correndo risco”.

Perguntado sobre a implementação de uma agenda ambiental, a principal bandeira de sua ex-ministra do Meio Ambiente, Lula respondeu que “a política ambiental será tratada de forma transversal”, momento em que Marina Silva abriu largo sorriso. “Todos os ministros terão obrigação com a questão climática”, disse Lula. Ele acrescentou que a tarefa de reconstruir a agenda ambiental passa por uma política enérgica que o Estado deixou de executar. Para Lula, o programa de Marina na área “é ousado” e o Brasil precisa “levar muito mais a sério” a agenda ambiental.

“Temos que virar protagonistas internacionais, a Amazônia tem que ser estudada por cientistas, com soberania do Brasil”, disse. “Coisa como garimpo, não terá”, prometeu, se for eleito. “O desmatamento, a gente vai bloquear. As nossas fronteiras, a gente vai tomar conta pra combater o narcotráfico”, disse o candidato da coligação Brasil de Esperança. Mas toda essa agenda “não vai acontecer em 24 horas, porque tem que estruturar”, ressaltou.

“O Estado é laico”

Evangélica, Marina foi questionada sobre a abordagem que considera pertinente em relação à religiosidade. Ela declarou que a política de um futuro governo progressista deve ser “tratar todos os brasileiros e brasileiras como cidadãos: os católicos, evangélicos, espíritas, judeus, pessoas de religiões de matriz africana, os ateus. Porque nós somos um Estado laico”.

“O povo cristão não pode se afastar desse legado imaginando que vamos ter no Brasil um governo teocrático e impor qualquer tipo de fé a quem quer que seja. A Constituição assegura a liberdade religiosa e o Estado brasileiro é laico.”

Eleitores de Ciro e Simone

Sobre a eleição propriamente dita e sua identificação com eleitores de outros candidatos, especialmente os de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), a ex-ministra disse que “até a urna se fechar não existe voto fixo de ninguém”. “Que a gente possa ganhar votos dos que não são bolsonaristas, mas estão iludidos com a ideia de que Bolsonaro possa ser uma alternativa para o Brasil. Vou tratar com respeito as demais candidaturas e vou me dirigir ao conjunto do povo brasileiro”, prometeu.

Lula repetiu que a união com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), seu vice na chapa, reflete a necessidade de união entre forças políticas que eram adversárias, mas não inimigas. Segundo ele, o “momento histórico da presença da Marina” no comitê de campanha “é uma demonstração de que a democracia pode ser exercida mesmo quando você tem divergências pontuais com outra pessoa”.

Bolsonaro: “anormalidade“

O país, por conta da negação da política, elegeu uma anormalidade pra presidente da República. É um cidadão anormal, mentiroso. Faz disso a política dele. É uma cópia mal feita do Trump. A maldade está dentro do DNA desse cidadão”, disse Lula. Como exemplo de mentira de Bolsonaro, entre outros, citou que ele “chegou a dizer que fez a transposição do São Francisco”.