Diálogo

Lula diz na Argentina que quer ser ‘um construtor de paz’ no terceiro mandato

Ao lado de colega Alberto Fernández em Buenos Aires, brasileiro se disse contra ocupação da Ucrânia pela Rússia e “ingerência” na Venezuela

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula e Fernández concedem entrevista coletiva na Casa Rosada, sede do governo argentino

São Paulo – Na entrevista coletiva que concedeu ao lado do colega argentino, Alberto Fernández, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou acreditar que seu papel no terceiro mandato, iniciado há três semanas, pode ser o de um “construtor da paz”, em decorrência de sua experiência como líder sindical. “Aprendi na minha vida política, negociando entre patrões e empregados, que quanto mais se fala, mais chance de acordos se tem.”

Nesse sentido, afirmou que tanto é contra a “ocupação territorial” da Ucrânia pela Rússia como discorda da “ingerência no processo da Venezuela”. “A gente vai resolver o problema da Venezuela com diálogo e não com bloqueio. Não com ameaça de ocupação. A gente vai resolver com diálogo e não com ofensas pessoais”, disse na Casa Rosada, sede do governo argentino.

Sem citar nenhum país, Lula criticou a postura de diversas nações que, em 2019, reconheceram Juan Guaidó como presidente venezuelano autodeclarado, sem ter participado de eleições. “Ele (Guaidó) ficou vários meses exercendo o papel de presidente sem ser presidente”, disse Lula. Declarou também que “o Brasil vai restabelecer relações diplomáticas com a Venezuela”, e defendeu que o país governado por Nicolás Maduro tenha embaixada no Brasil e vice-versa.

Estados Unidos, União Europeia e Organização dos Estados Americanos (OEA) ignoraram a presidência de Nicolás Maduro. Na época, Brasil (com Jair Bolsonaro) e Argentina (com Mauricio Macri) também reconheceram Guaidó como presidente. Entre os que apoiaram Maduro, estavam Rússia, Cuba, México, Bolívia, Nicarágua, Turquia, China e Irã.

Lula afirmou que “a Venezuela vai voltar a ser tratada normalmente, como todos os países querem ser tratados”, acrescentando: “O que quero para o Brasil eu quero para a Venezuela, respeito à minha soberania e à autodeterminação do meu povo”. 

Novos acordos entre Brasil e Argentina marcam encontro de Lula e Fernández

Reunião da Celac

Nesta terça-feira (23), será realizada uma reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que reúne países da América Latina e do Caribe. “Todos os países membros estão convidados”, disse Alberto Fernández. “Não temos poder de veto nem queremos ter”, acrescentou o argentino.

“A preocupação é maior em alguns meios de comunicação e países membros”, ironizou. “Na Cúpula das Américas em Los Angeles, questionei a exclusão de ambos os países (Cuba e Venezuela), que são justamente membros da Celac, e é nesses espaços que as discussões devem acontecer”, acrescentou o mandatário argentino.

Não à extrema direita; sim a Lionel Messi

Lula foi perguntado sobre questões da política de Buenos Aires, e afirmou que não gosta de se pronunciar sobre assuntos internos de outros países. Ele destacou, porém, que “quando Alberto Fernández ganhou fiquei muito feliz”. “A única coisa que espero é que a Argentina não permita que a extrema direita ganhe as eleições aqui. Porque a extrema direita não deu certo em nenhum país que governou.”

Como é comum, Lula usou o futebol em seu discurso, para comentar a vitória argentina na Copa do Mundo de 2022. “A Argentina fechou 2022 com uma situação privilegiada. Não só na política e na economia, mas também no futebol. Pela primeira vez torci quando a Argentina foi campeã mundial porque eu acreditava que o Messi não poderia encerrar a carreira sem ser campeão do mundo”, disse. “Ele foi, tá bom, é isso. Agora acabou, agora é a vez do Brasil”, declarou, entre risos da plateia.


Leia também