entrevista coletiva

Jucá diz que fica no governo: ‘Não devo nada a ninguém’

'Meu emprego não é de ministro, eu estou ministro', disse Romero Jucá após 'Folha de S.Paulo' divulgar diálogo em que sugere uma 'mudança' no governo federal para barrar a Lava Jato

Pedro Ladeira/Folhapress

“O cargo de ministro é uma decisão do presidente Michel Temer”, disse Jucá

São Paulo – O ministro do Planejamento, Romero Jucá, afirmou hoje (23) que não pretende deixar o cargo após o jornal Folha de S.Paulo divulgar trechos de um diálogo com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, nos quais ele sugere que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pela Operação Lava Jato. “Meu emprego não é de ministro, eu estou ministro. Eu sou senador da República.”

“Estou tranquilo, mas volto a dizer: o cargo é do presidente, que tem o condão de colocar e tirar. Não nasci ministro do Planejamento e não vou morrer ministro do Planejamento. Não vejo nenhum motivo para pedir afastamento. Não me sinto atrapalhando o governo, me sinto ajudando (…) Da minha parte, não vejo motivo para tomar qualquer decisão. Não posso falar pela decisão do presidente”, disse em coletiva de imprensa.

O ministro afirmou que “não deve nada a ninguém” e que não vê motivo para seu afastamento do cargo, mas que a “permanência depende do presidente Temer, hoje, amanhã ou daqui a seis meses”. “Quero reafirmar aqui meu compromisso com o Ministério do Planejamento. O cargo de ministro é uma decisão do presidente Michel Temer. Vou exercê-lo na plenitude enquanto entender que tenho a confiança do presidente. Há muita coisa para fazer e eu vou fazê-lo até o dia que ele entender que eu tenho condição de atender esse papel.”

Jucá afirmou que não tentou obstruir a Justiça e que nunca tratou com ministros do Supremo Tribunal federal nem com procuradores sobre a Lava Jato. Ele defendeu que sua fala com o ex-presidente da Transpetro foi extensa, mas que a Folha de S.Paulo divulgou apenas “frases soltas” e disse esperar que o jornal “publique o texto todo” para que as pessoas possam interpretar a narrativa.

Mais cedo, em entrevista à GloboNews, Jucá disse que considerava a gravação da conversa “algo banal”. Senador licenciado e primeiro vice-presidente do PMDB, Jucá é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) que investigam a suspeita de que ele recebeu propina do esquema de corrupção que atuava na Petrobras. Já Machado foi citado em delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS).

O Ministério Público Federal apurou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebeu propina de contratos da Transpetro na época em que a empresa, subsidiária da Petrobras, era presidida por Machado, indicado pelo PMDB para ocupar o cargo.

As conversas reveladas pela Folha de S.Paulo ocorreram em março deste ano, duram uma hora e 15 minutos e estão em posse da Procuradoria-Geral da República. Nas gravações, jucá sugeriu a Machado que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pela Operação Lava Jato. À época, ambos se sentiam ameaçados pela eminente revelação de envolvimentos em casos de corrupção e propina.

Machado se mostra preocupado com o envio do seu caso para a Polícia Federal de Curitiba e chegou a fazer ameaças: “Aí f…. Aí f… para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu ‘desça’? Se eu ‘descer’…”.

Por sua vez, Jucá afirma que seria necessária uma resposta política: “Tem que resolver essa p…. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, diz Jucá. Ele acrescenta que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado concorda: “Aí parava tudo”.

Na conversa, eles dizem que o único empecilho no pacto era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), porque odiaria Cunha. “Só Renan que está contra essa p… porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, p…”, afirma Jucá no diálogo gravado.

“O Renan reage à solução do Michel. P…, o Michel é uma solução que a gente pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. ‘Michel, vem cá, é isso, isso e isso, vai ser assim, as reformas são essas'”, diz Jucá a Machado.

O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que Romero Jucá “jamais pensaria em fazer qualquer interferência” na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.