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FHC sobre Eduardo Cunha: ‘Não olharam para o passado dele’

Em debate promovido no lançamento de seu livro 'A Miséria da Política', em São Paulo, ex-presidente foi cuidadoso ao falar de impeachment, disse que o PSDB 'nunca foi neoliberal' e que não quer ditadura

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“Temo que se faça aliança precipitada com gente que vai ser expurgada”, disse FHC

São Paulo – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse hoje (16), em São Paulo, que a falta de liderança na atual fase da história brasileira leva a população e a classe política a cometer erros.

Especificamente sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que não se olhou para a história do parlamentar ao elevá-lo à condição de líder. “Quando ele tomou certas atitudes, viram nele uma nova liderança, mas não foram nem olhar o passado dele”, afirmou, sem entrar em detalhes.

FHC aconselhou seus aliados no PSDB a tomarem cuidado com as alianças que fazem na atual crise política. “Eu digo: vai devagar porque não sei quem vai ficar em pé. Temo que se faça aliança precipitada com gente que vai ser expurgada.”

O ex-presidente deu as declarações no evento de lançamento de seu livro A Miséria da Política, em uma livraria na região dos Jardins, em São Paulo. A obra é uma reunião de crônicas escritas pelo tucano e aborda os 12 anos de governo do PT, desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), período em que o país passou a viver, segundo ele, uma “crise moral”.

Ele disse ainda que o PSDB perdeu a batalha do discurso para o PT. O partido de Lula, segundo ele, conseguiu colar nos tucanos o estigma de “neoliberais” nas disputas eleitorais desde 2002. “Eles ganharam a batalha ideológica, perdemos o discurso. Nós nunca fomos neoliberais. Ter um orçamento equilibrado não é nem de esquerda nem de direita.”

FHC foi cuidadoso ao manifestar sua posição a respeito do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, cogitado por setores radicais da oposição, inclusive de seu partido, sob a liderança do senador Aécio Neves (MG). “Se houver tal hipótese, o país vai clamar por sair disso e clamar por liderança. A presidente está fazendo esse apelo. Se tivesse feito há mais tempo…”, disse, acrescentando: “Mas ela fazia de conta que não acontecia nada”.

Segundo ele, caso Dilma seja afastada, “tem que fazer uma união nacional”. “Vai ter que ter um entendimento e vai haver.”

“Quem quer a ditadura?”

Sem mencionar pessoas ou entidades, comentou possíveis desdobramentos da crise política, respondendo indiretamente a setores que pedem intervenções antidemocráticas no país. “Quem quer a ditadura? Eu, pelo menos, não quero.”

Questionado sobre suas declarações contraditórias a respeito do impeachment, ironizou:  “Vim mudando em relação a tudo. Impeachment é complicado, não pode anular o voto popular numa manobra no Congresso. Em tese, tem que ter muito cuidado. Mas se acontece tal e tal coisa, não tem jeito.”

O tucano foi perguntado se a oposição tem discurso para se contrapor ao governo. Ele respondeu lembrando um artigo polêmico que escreveu em 2011, no qual afirmou: “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos”.

No debate em São Paulo, afirmou que foi mal interpretado: “no artigo de 2011, eu dizia que o Brasil já mudou, que (agora) tem uma nova classe média, o PSDB tem que se dirigir também a essas camadas (classe média)”.

No lançamento da obra, FHC debateu o livro com os jornalistas Eliane Cantanhêde, da Globo News, e Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado. A orelha de A Miséria da Política é do senador tucano José Serra.