Eleição interna mostra PT todo voltado a eleger Dilma em 2010

Com menos tensões entre candidatos do que em edições anteriores, primeiro turno do Processo de Eleições Diretas (PED) começa definição de novas direções em todo país

Detalhe da urna do PED de 2007. Menos divergências neste ano do que em edições anteriores (Recorte em foto de José Cruz/Agência Brasil)

O Partido dos Trabalhadores (PT) se prepara para o quarto Processo de Eleições Diretas (PED), cujo primeiro turno de votação acontece neste domingo (22) em todo o Brasil. Serão eleitos os presidentes e diretórios de todos os níveis. Depois de três edições, os militantes encontram um partido com bem menos rachas e divergências do que em edições anteriores.

Em 2005, por exemplo, além de grupos, como o do atual ministro da Justiça Tarso Genro, defendendo a “refundação” do PT, a chapa encabeçada por Plínio de Arruda Sampaio se retirou em bloco após a derrota para o PSOL, então em formação. Atualmente, o cenário parece distante. Antes disso, na eleição do ex-ministro José Dirceu em 2001, a corrente Campo Majoritário tinha amplo domínio, mas também contestação de outros setores.

O principal consenso gira em torno da pré-candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. A necessidade de alianças com os partidos que compõem a base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva também é ponto pacífico, embora a importância dada ao modelo de acordo seja motivo de ressalvas e críticas. A relação com movimentos sociais e a priorização da implantação do código de ética aprovado pelo partido são alvos de algumas das candidaturas.

Há ainda debates sobre a gravidade das tentativas da gestão atual de impor determinadas políticas ao partido em vez de buscar o diálogo e a construção de sínteses de posições encontradas na fauna petista. Ainda assim, democratização e transparência internas aparecem com bem menos intensidade do que em edições anteriores.

Apesar de a prática alcançar a quarta edição de escolha por meio do voto do comando da legenda, o mecanismo ainda é raro no país. Além do PT, apenas o PSOL adota o modelo. Segundo o cientista político Humberto Dantas, diretor do Centro de Pesquisa e Comunicação (Cepac), esse fato ocorre por falta de tradição política das legendas ou pelo entendimento de que isso não seria tão necessário assim.

“Em termos jurídicos, a legislação brasileira faculta aos partidos o direito de definir sua organização interna”, sustenta Dantas. “De acordo com seus estatutos, podem designar dirigentes da forma como bem entenderem”, esclarece.

Embora menos comum atualmente no país, Dantas lembra o caso de partidos em que ocorrem mandatos quase eternos, e as siglas passam a ser personificadas. O principal exemplo citado pelo cientista político é o extinto Partido da Renovação Nacional (Prona), criado e presidido por Enéas Carneiro.

“Para efeito de um partido que trafega na democracia, quanto mais democrático ele for internamente, melhor”, teoriza. “O PT tenta manter esse caráter democrático em suas fileiras, o que me parece bom, embora não signifique que o processo seja limpo e não evita que os mesmos grupos se mantenham no poder”, pondera.

Tampouco se garante que o voto elimine outras contradições. No mundo, segundo o cientista político, a principal referência são as prévias e caucus estabelecidos por lei nos Estados Unidos para a definição de candidatos à Casa Branca. Por um lado, o processo mobiliza os norte-americanos, embora por outro gere disputas mais relacionadas à capacidade arrecadatória do que de embate de ideias e propostas.

Os efeitos de disputas internas sobre a unidade partidária também podem ser um fator que afasta os agrupamentos de eleições diretas. Em 2006, por exemplo, a definição pela candidatura de Geraldo Alckimin à Presidência da República pelo PSDB deixou o partido rachado, e o então governador paulista sem apoio de parte de seus correligionários.

Balanços e projeções

O atual presidente nacional do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), evita avaliações extensas sobre seus dois mandatos à frente do partido. Ele assumiu o partido em novembro de 2005, em meio à crise política do chamado “mensalão” e passou pela reeleição do presidente Lula e do que considera outros avanços eleitorais.

Agora, entrega a presidência do PT com um pré-acordo com o PMDB para 2010, compromisso que, em sua visão, não esvazia o mandato do próximo comandante da legenda. “A instituição PT não é comandada por uma presidência, mas por um diretório nacional que tem opiniões sobre os movimentos feitos e que tem apoiado. A direção deve se renovar sem grandes alterações em seu perfil político”, sustenta.

Isso porque José Eduardo Dutra (SE), da corrente Construindo um Novo Brasil, a mais forte internamente – formada pelos principais expoentes do antigo Campo Majoritário – e sua chapa “O partido que muda o Brasil” apresentam-se como favoritos. Dutra conta com o apoio de outras duas tendências: Partido de Lutas e de Massas (PTLM) e Novo Rumo. Em 2007, última eleição, os dois candidatos mais votados que foram ao segundo turno nacional foram Berzoini e Jilmar Tatto, da PTLM.

Vale lembrar que o abandono do nome “Campo Majoritário” para a corrente aconteceu após o PED de 2005, quando a tendência perdeu a maioria das vagas no diretório nacional. Além disso, o nome estava associado à crise política, aos desgastes decorrentes de denúncias de caixa 2 em campanhas eleitorais e a práticas internas duramente criticadas.

Berzoini destaca a mudanças na forma de funcionamento do PT, como a organização da juventude, a escola nacional de formação, a instituição de um código de ética no partido e mudanças na comunicação. “Como sentimento, digo que fizemos um trabalho que valeu a pena”, comemora.

Para acompanhar a discussão, a Rede Brasil Atual entrevistou os seis candidatos à presidência nacional do PT.