Transição

Diálogo, planejamento e metas são as bases de Lula para reconstruir o país, segundo Wellington Dias

O medo real está do outro lado, afirma o ex-governador do Piauí e agora senador reeleito. “É preciso trazer estabilidade, previsibilidade, ter um plano para o Brasil”

Reprodução Facebook
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O ex-governador lembra que Lula recebeu 74% dos votos no Piauí: 'Tem compromisso com os mais pobres, com quem mais precisa'

São Paulo – Com 941.444 votos recebidos no dia 2 (51,3% dos válidos), Wellington Dias estará de volta ao Senado no ano que vem. Mas, neste momento, a preocupação do ex-governador do Piauí é trabalhar pela vitória da chapa Lula-Alckmin na disputa presidencial, no próximo dia 30. Otimismo não falta, mas com moderação, apresentando propostas e sobretudo defendendo o diálogo como única alternativa para o que ele chama de processo de “reconstrução” do país.

Aos 60 anos, completados em março, nascido em Oeiras, José Wellington Barroso de Araújo Dias foi bancário, sindicalista, vereador, deputado estadual, federal, senador e governador, posições em que exercitou o diálogo na prática, inclusive, ou principalmente, com os divergentes. Agora, integra a coordenação da campanha lulista, e ressalta a importância dos apoios recebidos neste segundo turno.

Nesta entrevista, Wellington Dias afirma que, sim, Lula tem programa e propostas (algumas ele detalha logo abaixo). Propostas que precisam se contrapor à onda fake. Até para mostrar, como diz, que o medo real está do outro lado.


Nestes dias que faltam para o segundo turno, por enquanto as pesquisas mostram cenário relativamente estável, como a campanha deve caminhar até o dia 30?

Eu digo sempre, cada lado encontra suas formas de contar os votos que devem entrar na urna, mas só valem os que saem. Agora, é manter confiança numa estratégia que a gente trabalhou. Fizemos uma boa largada. É muito importante o apoio da senadora Simone Tebet, ela está engajada na campanha. Destaco ainda a posição do PDT, de apoio, e o candidato Ciro Gomes também com posição firme que acompanha o partido. Estamos dialogando para ver como se dá essa participação. Também tivemos um conjunto de lideranças do PSDB, que também, de forma muito corajosa, mesmo reconhecendo que há diferença em relação ao projeto que defendem, mas que nesta conjuntura ameaça a própria democracia e um conjunto de conquistas do povo brasileiro. Mas nada de já ganhou. A orientação é de muito trabalho. O presidente Lula retomou esse olho no olho, como ele diz, ele quer fazer as cinco regiões do Brasil nesse período, e todos os líderes estamos trabalhando pra ter a presença da campanha em todos os municípios.

E ter a presença das pessoas das urnas também, não é?

Exatamente. O desafio maior é o comparecimento do eleitor em condições de ali sufragar a sua opção de voto. Nesse aspecto, tivemos na quarta-feira da semana passada com o ministro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, e a gente manifestou essa preocupação com o transporte, que a legislação brasileira garante ao eleitor como um direito. Como assegurar esse direito? Tem uma decisão do ministro (Luís Roberto) Barroso, mas tivemos falhas no primeiro turno. O que a gente quer é que se tenha uma resolução, mais do que uma orientação, um encaminhamento para garantir o transporte. Vários governadores, entidades municipais, havendo de parte da Justiça uma requisição podem garantir a rede de transporte. Acho que é um passo importante.

Há preocupação com uma onda de assédio de patrões em relação a empregados, fornecedores. Foi criado um grupo com o Ministério Público Eleitoral, a Justiça Eleitoral, integrado com o Ministério Público do Trabalho, a Justiça do Trabalho, o Ministério Público Federal. Acho que essa operação é fundamental para o respeito à democracia. Estamos falando não só de crime eleitoral, mas crime na área trabalhista, crime comum, enfim, há necessidade de um olhar especial. 

Por último, aí é um trabalho dos nossos líderes em cada lugar para que a gente tenha esse milhões de eleitores e eleitoras, para comparecer e  quem sabe a gente reduzir a abstenção. E, é claro, a gente acredita que com mais tempo na televisão, com debate só entre dois candidatos, haverá um espaço maior para mais pessoas tomarem conhecimento das propostas. Dentro dessa onda de fake, que é um crime gravíssimo. A mentira, não gosto da palavra fake.


A mentira foi muito forte na campanha de 2018, nos dois turnos, na campanha das eleições municipais, em 2020, e agora na reta final (do primeiro turno). Circularam até domingo. Circulou até por autoridades. Por que não acontece nada com essas pessoas? Isso não facilita uma campanha desigual, desonesta?

Sim, a palavra desonesta acho que é a mais adequada. O que a gente pode esperar de um governo em que os seus líderes, para chegar lá, aceitam o vale-tudo, aceitam mentir. Como é que a gente pode conceber um Pinóquio governando o Brasil? Alguém que trata a mentira com banalização? Então, tratamos disso também com o Tribunal Superior Eleitoral. Veja, eu sou cético, infelizmente, para essa eleição. Porque eu acho que o Congresso descuidou. Eu quero voltar ao Senado e tratar de um regramento mais adequado em relação à mentira, a essa onda de fake em todos os sentidos, Porque não é só na eleição. Infelizmente, ela está hoje banalizada, no setor privado, no setor público, a relação entre as pessoas.

Veja só, já na eleição de 1989, na eleição de 2002, a gente teve que trabalhar com a ciência, o “sem medo de ser feliz”. Porque o que está em jogo por trás da mentira é o medo. Ou seja, para espalhar o medo, se coloca mentiras. “Vai fechar a igreja.” A verdade é que o presidente Lula sancionou a lei da liberdade religiosa. “Pastor, padre vai ser obrigado a fazer casamento de homem com homem, mulher com mulher, agora é banheiro masculino e feminino, vai ter implantação do comunismo…” Nós estamos falando de um candidato, que é o Lula, que já foi presidente durante oito anos. Não é um estranho. Agora, muito mais experiente, o presidente Lula, junto com Geraldo Alckmin, duas pessoas maduras, do diálogo, que podem trazer inclusive a pacificação do Brasil pode trazer estabilidade, colocar o país nos eixos. Quando foram governantes tiveram tratamento completamente diferente da mentira que se espalha. Do outro lado, não tem o mesmo medo que se possa fechar universidades, o medo de mais gente passando fome. A eleição com Bolsonaro, para onde é que a gente vai? A gente tem mais gente na rua, mais precarização do emprego, cada vez mais queda de renda, mais gente de classe média perdendo renda com o congelamento das faixas do imposto de renda, a dificuldade das pessoas endividadas. Esse é que o medo real. E tem propostas da gente sair dessa situação no programa do Lula presidente.

Agora apareceu o bolsolão do asfalto,, pontes caindo na Amazônia, as pessoas ao se indignam.

Claro que não vamos deixar nada sem resposta, mas queremos elevar o nível. Sair dessa coisa rasteira, dessa área do fake, da mentira, para trazer para o mundo real. E aqui eu destaco situações gravíssimas. Olha o que aconteceu com a pandemia. A forma como o governo tratou foi a própria desvalorização da vida. A política de vacina, que não foi só na pandemia. A ausência de políticas de vacina está aumentando e trazendo de volta doenças como poliomielite, que a gente já tinha tirado, tuberculose voltando. Esse medo é real. 

A falta de condições de pessoas que completam a idade adulta e não têm alternativa para habitação. (É preciso) trazer estabilidade, previsibilidade, ter um plano emergencial, mas ter um plano para o Brasil, com medidas e metas. Então, esse caminho eu acredito que é o que vai vencer. A gente tem de derrotar de um lado de risco de mudança de um regime democrático para um regime autoritário, temos de derrotar a mentira, o ódio, e a arma é o voto.

Novamente, vamos receber (em caso de vitória) uma situação muito ruim. É como aquele paciente que sofreu um acidente, está na sala de cirurgia e precisa, primeiro, de estabilização. (Foto: reprodução)

O sr. falou em programas. Há poucos dias, um jornal cobrou de Lula, com veemência, um plano econômico. Considerando que o Lula já foi presidente, é uma cobrança justa, ou é o “mercado” de novo se manifestado?

Olha, amamos e defendemos a democracia, defendemos uma imprensa livre, mesmo quando ela não é correta. Mas é preferível isso ao autoritarismo. Nesse aspecto, está lá nos eixos (do programa). O presidente Lula esteve na federação da indústria, esteve com a área da construção civil, com o setor elétrico, com o agronegócio, transporte, área de turismo, os principais serviços na educação, na saúde, no social, no saneamento, fez um amplo diálogo nestes 60 dias. Ainda nesta semana teve um importante diálogo com vários setores relacionados à educação e vinculados a essa parte de comunicação, a importância de o Brasil avançar nessa área de rede de fibra ótica, chegar a um lugar onde as metas traçadas lá atrás não foram cumpridas. Eu digo isso para mostrar que ali, sim, tem um plano.

A situação em 2003 era inflação alta, juro alto, povo endividado, situação de desemprego elevado e o presidente fez um plano e chegou em 2010 o país fora do mapa do fome, com mais emprego, crescimento com patamar médio de 4% ao ano, garantindo queda o endividamento, controle das contas públicas, mas com uma política adequada, mais escolas técnicas, o Fundeb (fundo de apoio à educação básica), garantia de apoio aos empreendedores, um Plano Safra para cada ano, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), um plano que fez o país andar de forma acelerada. É isso que a população deseja para o Brasil.

Novamente, vamos receber uma situação muito ruim. É como aquele paciente que sofreu um acidente, está na sala de cirurgia com hemorragia pra todo lado e precisa, primeiro, fazer ali uma estabilização. Garantir que a gente tenha medidas para criar um elo de confiança dentro do país. O problema grave hoje é que não tem diálogo. O poder central ataca os outros poderes, o presidente da República diretamente, ataca os parceiros internacionais, ataca o meio ambiente, desdenha do Nordeste, faz piadas com uma região do Brasil,  ao mesmo tempo tensão com o setor privado, com os governadores. Lula presidente e Geraldo Alckmin, pelo contrário, é esperança e oportunidade de diálogo. A gente vai ter que ter de um amplo dialogo para poder criar um elo de confiança para gerar estabilidade. O que fez no primeiro ano, o que faz até 2026, quais são as metas, onde queremos chegar.

Cito um exemplo: é preciso mais que uma reindustrialização. É preciso ressuscitar a indústria brasileira. Como o presidente disse quando esteve lá na federação da indústria, nós vamos ter que tomar a decisão: quais são os  primeiros 10 setores que o Brasil tem grade chance? O setor da área elétrica, por exemplo, com energias renováveis, cumprindo inclusive ambientalmente o Acordo de Paris (tratado para reduzir o aquecimento global). Podemos fazer a transição. de um lado, de estímulo à geração de mais energia limpa, e do outro casado com a mudança do consumo de combustível fóssil – que vai ter esgotamento lá a frente –, que impacta ambientalmente, para que a gente tenha a mudança de toda a frota de veículos, começando pelo transporte público. Que inclusive consumindo energia tem um custo menor. E isso significa mais indústria, tanto de equipamentos do setor elétrico como para a área de transporte. A mudança de toda a frota brasileira…

Carro elétrico…

Você fazer apoio para que toda esse rede dos empreendedores de combustível fóssil possa migrar gradativamente, com muita responsabilidade. Esse plano vai ser até 2035, até 2040, como vai ser? Trabalhar a bioeconomia. Como a gente gera alternativa para quem vive nessa região do Tocantins, do Pará, Amazônia, Roraima, Amapá, Acre, Rondônia, no Pantanal, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, nos pampas, em todos os nossos biomas? Como garantir que a gente tenha crescimento e que o meio ambiente seja sustentável, mas também pela área fármaco, pelo turismo? Isso está no plano de governo e agora no segundo turno temos melhor condição de debater. A segurança,, por exemplo. É a primeira vez que um presidente da República aceita trazer para o poder central o planejamento, a estratégia para a segurança no Brasil.

Eu estava no Fórum dos Governadores, conseguimos dialogar com o então presidente (Michel) Temer, foi criado o Ministério da Segurança. Quando o presidente Bolsonaro assumiu, o que ele fez? Nessa demagogia, que ia ficar com oito ministérios, nunca ficou, terminou criando um monte de ministério, tudo desorganizado, e agora vamos ter que reordenar. O Ministério da Justiça pode ser com foco segurança em primeiro lugar, mas também justiça, para que a gente tenha um plano estratégico, com meta, como tem na educação, na saúde. Quais as áreas? Com esses critérios, a gente ter um plano para todos os municípios, todos os estados. Ter, sim, revisão na política do desarmamento. A polícia, ela sim, ´que precisa estar bem aparelhada, bem preparada para coibir o crime. Trabalhando com a ciência, assim como queremos trabalhar educação, saúde, o social com a ciência. E a partir daí viabilizar um plano estratégico.

O sr. falou em diálogo. Imaginando um governo Lula, como será o diálogo com boa parte dos governadores na oposição e, principalmente, o Congresso? O sr. terá um monte de vizinhos barulhentos no Senado.

Então, eu olho o resultado da eleição diferente do que vi de algumas análises nestes dias. Se a gente olhar apenas os partidos – e aí é devido ao Brasil, e eu vou estar no Senado de uma ampla reforma política, partidária. Se a gente pegar um globo, der um giro e apertar o dedo  em qualquer país, ali o modelo é melhor do que o Brasil. Isso mostra que o Brasil tem um modelo caro, perigoso, que criminaliza e afasta muitas pessoas boas. A necessidade é olhar a partir de cada estado. Quando eu examino quem que defende o regime autoritário e quem defende democracia, vou encontrar um número maior entre os eleitos (no segundo caso). Quando eu faço a mesma pergunta, qual é o campo democrático… Eu examino sob o posicionamento em cada estado, no Distrito Federal, e eu sou otimista. Acho que é possível construir um campo democrático, um campo que tenha compromisso básico.

Eu não tenho ilusão: o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin eleitos, tomando posse, nós vamos ter um governo de transição, de reconstrução e de entendimento. Que tem a condição de ter diferentes pensamentos, pactuando em cima daquilo que é essencial para colocar o Brasil de volta o caminho certo. Acredito que é uma oportunidade de ouro para a conjuntura brasileira. Dois líderes, repito, preparados, experientes, com capacidade de diálogo e com abertura muito além do que foi a coligação das eleições. Da gente poder dialogar com o PSDB, com o MDB,  com a oportunidade de separar essa campo mais autoritário, do salve-se quem puder, de defesa de coisas que não são republicanas. Tirar o país de um conjunto de líderes que se acostumaram a colocar quem está na cadeira de presidente como refém. Agora, o atual presidente, Jair Bolsonaro, além das posições que são próprias dele, ainda tem a terceirização do governo, para outros tomarem conta do orçamento público, o orçamento secreto, que manda por exemplo, para uma cidade do Maranhão dinheiro para um programa de saúde bucal que dá para arrancar 14 dentes de cada pessoa, inclusive das crianças, e ainda sobra dinheiro. Manda para uma cidade do Ceará dinheiro direcionado para oncologia maior que para o estado de São Paulo. Não é tirar do parlamentar o direito de ter a emenda individual, de ser co-partícipe da definição da prioridades, mas tem que saber para onde vai o dinheiro.

Aliás, eleito presidente, já na transição, nós vamos que estar trabalhando uma revisão do Plano Plurianual, que não diz coisa nenhuma, o Plano de Diretrizes Orçamentárias e o próprio orçamento. Graças a Deus, o relator é o senador Marcelo Castro, do MDB, é do meu estado, foi ministro da Saúde, é uma pessoa sensata, do diálogo, e a gente vai buscar com o conjunto dos líderes para 2023 – ano em que a gente vai ter a revisão do plano de longo prazo, plurianual – a condição de um orçamento que permita colocar as prioridades da necessidade do Brasil. O Brasil precisa de dinheiro para cuidar dos mais pobres, para cuidar de uma fila que ficou na saúde, de pessoas que foram prejudicadas na pandemia, e precisa recuperar o tempo perdido, na educação das pessoas endividadas, como eu disse.

Em relação ao Nordeste, que se tornou de certa forma um polo de contestação ao atual governo, e a relação foi bastante tensa. Como foram estes quatros anos de reação entre o poder central e o Consórcio Nordeste, a região?

Olha, nós, os nordestinos em primeiro lugar, amamos o Brasil. Defendemos um só país, e não queremos nem mais, nem menos. Vivemos em uma região importante e queremos ser olhados como uma região solução, um povo consciente do que quer. No meu estado foram 74% dos votos para Lula, 19% para Jair Bolsonaro. Por quê? Porque a gente sabe que tem um presidente que não é apenas por ser nordestino, porque gosta do povo e tem compromisso com quem mais precisa. Por isso tem voto na região Norte também, mas no Sudeste, o Sul, no Centro-Oeste foram milhões que votaram nele. Temos a necessidade de neste instante o Brasil parar de ser levado para esse caminho do medo, o medo do abstrato, que por trás o que tem de forte é a mentira. Somos uma região de cabeça erguida, que está avançando. E não queremos dar passo para trás.

Tivemos neste período um governo anti-Nordeste. Foi assim na pandemia. Eu era presidente do Consórcio Nordeste e sei o que enfrentamos na região. Enquanto a gente estava lá, lutando por vacina, para cumprir regras que a ciência recomendava para salvar vidas, garantir as condições de medicamento, de respiradores, equipamentos hospitalares, com todo o desafio que tinha o setor de saúde, segurança, da vigilância sanitária, tinha um presidente dizendo que se tomasse vacina ia virar jacaré, pegar aids, brincando de motociata, sem usar máscara, desdenhando da vida, das pessoas. No Nordeste a gente valoriza a vida, quer um governo com o ser humano como centro das atenções. E sei que é assim no Brasil.

Então, o que eu quero dizer é que não podemos entrar nessa onda de responder ódio com ódio. E não é romantismo, é ciência. Claro que a gente não pode deixar nada sem resposta. Mas a gente não pode entrar nessa. É ruim como indivíduo, como família, como grupo de amigos, de trabalho, de igreja. A gente não pode aceitar o Brasil entrar nessa onda da guerra de religião. Nós não queremos este país. Não queremos um país em que um pregador usa a palavra de Deus para propagar uma mentira. Não é razoável, não é do ensinamento de Jesus Cristo. O que eu quero dizer com essas palavras é que o Nordeste estará junto com o Brasil.

A senadora Kátia Abreu divulgou um vídeo alertando sobre decisão da União Europeia de não consumir produtos da agropecuária brasileira provenientes em áreas de desmatamento. Nós sabemos que ela não é um ambientalista é uma ruralista muito pragmática e atuante. No debate político, será possível tratar desse assunto que é o futuro da economia do país dentro de um mundo que quer durar mais?

Olha, a senadora Kátia Abreu, assim como seu filho Irajá, atua no setor do agronegócio, como muitos lá no Tocantins, o nosso candidato a governo também (Paulo Mourão). Às vezes o presidente Lula é mal compreendido. Ele não compreende o descaso que se dava, e este governo voltou a dar novamente, à agricultura familiar. Primeiro, é a agricultura familiar que põe alimento, eu diria 80%, na mesa de todos nós. Mas nós também compreendemos a importância do médio e do grande produtor. E aqui o que a gente separa? A gente separa aquele que cumpre regras ambientais, que trabalha com respeito à legalização da propriedade, com respeito à legislação trabalhista e não com trabalho escravo, com jagunço. O que nós sabemos é que a ampla maioria produz até em respeito à regra internacional como essa da Europa. E não é apenas pela questão ambiental, é pelo ser humano, pela saúde.

Ninguém pode negar as mudanças climáticas, a importância para a saúde de regras na área ambiental. O Acordo de Paris é um compromisso intergeracional, e nós queremos o respeito a ele. O Brasil é um país que pode ter elevada produtividade, pode ser aquele que mais contribui com a alimentação no planeta – e este é o século do alimento, na minha visão. No meu estado nós temos uma boa relação com a Aprosoja (associação dos produtores), mas também com outras áreas do agronegócio. O que nós queremos é um diálogo, tratar como um setor importante da nossa economia, mas é claro que haverá um limite. Para qualquer área. Eu cito isso porque o presidente Lula e Geraldo Alckmin têm consciência da importância de cada setor brasileiro, e vai continuar com o diálogo. Porque o principal problema que a gente tem com o atual governo – pelo estilo autoritário – é o corte do diálogo. Por isso o governo Lula/Alckmin será de reconstrução.

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