Poder crescente

Cunha quer deixar espaços de influência depois da presidência, diz Diap

Projeto do atual comandante da Câmara, aprovado nesta semana, acaba com as comissões especiais que analisam PECs. Atribuição ficaria apenas com a CCJ, nas mãos de aliados

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Ideia da comissão é permitir debate mais aprofundado com parlamentares que tenham alguma relação com o tema

São Paulo – A aprovação de um projeto na última terça-feira (14), na Câmara dos Deputados, mais do que o mérito em si, aponta a intenção do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de manter “espaços de influência” mesmo depois que deixar o cargo. É o que constata o analisa político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), ao comentar a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, do Projeto de Resolução (PRC) 191, que o próprio Cunha apresentou em 2009. Pela proposta, são extintas as comissões especiais hoje formadas para analisar o conteúdo de propostas de emenda à Constituição (PECs) – a análise da mérito ficaria justamente com a CCJ, que hoje analisa apenas a admissibilidade das PECs. O projeto ainda precisa passar pelo plenário.

“A ideia da comissão especial é permitir um debate mais aprofundado com parlamentares que tenham algum tipo de relação com o tema”, lembra o diretor do Diap. Para ele, uma comissão especial permite análise mais qualificada. “Na CCJ, não há tempo como na comissão especial para aprofundar. Embora tenha mais gente com formação jurídica, a quantidade de temas a que os parlamentares têm de se dedicar simultaneamente não dá o mesmo aprofundamento”, avalia.

Atualmente, a PEC passa pela CCJ e depois por uma comissão formada especificamente para esse fim, com prazo de 40 sessões para dar um parecer. O PRC 191 altera o Regimento Interno da Câmara, fazendo com que as PECs passem direito da CCJ para o plenário da casa.

O argumento de Cunha é razoável: em sua justificação, ele afirma que o Senado já atua dessa maneira, com as PECs passando apenas pela CCJ. E diz que seu projeto dará mais agilidade à tramitação. O PRC já foi arquivado e desarquivado duas vezes, e agora na presidência o seu autor conseguiu dar celeridade.

Mas os motivos expostos não expressam outras motivações de Cunha, que quer manter esta e outra comissões em sua órbita. “Hoje, ele já controla boa parte dos colegiados. A motivação é ampliar o raio de poder”, diz Queiroz.

A presidência da CCJ da Câmara é comandada atualmente pelo deputado Arthur Lira (PP-AL). O PP, embora faça parte da base aliada, apoiou Cunha na eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro. Depois da vitória, foi agraciado com a primeira vice da casa (Waldir Maranhão) e com o comando da CCJ.