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Coordenadora de plano de governo de Aécio comandou cortes na Vale pós-privatização

Economista Carla Grasso, que promoveu demissão de 27% dos funcionários em um ano, era famosa dentro da empresa por 'medidas impopulares' e por 'fritar' diretores

Jefferson Rudy/Folhapress

Carla Grasso ao chegar à Vale: três mil demissões entre maio e dezembro para deixar empresa ‘eficiente’

São Paulo – Anunciada hoje (15) como coordenadora-executiva do plano de governo do PSDB na disputa pela Presidência da República, a economista Carla Grasso acumula um currículo que  parece se alinhar à promessa do pré-candidato Aécio Neves de adotar “medidas duras” caso chegue ao Planalto.

Entre 1997 e 2011, Carla ficou conhecida dentro da Vale como a encarregada pelas decisões impopulares. Formada em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), foi contratada logo após a privatização feita pelo governo Fernando Henrique Cardoso, em 6 de maio de 1997. De janeiro até ali, preparando o ambiente propício a investidores, a então estatal já havia cortado o quadro de funcionários, passando de 18 mil a 14 mil. Ao assumir a função, Carla fez o que é conhecido como “limpeza”, com o corte de mais 3 mil empregados, 27% do total, e mudanças no plano de previdência, de modo a tornar a corporação mais “eficiente”, no linguajar do mercado financeiro.

Defensores do trabalho entendem que a mudança foi fundamental para dar à Vale condições de se capitalizar para ampliar o escopo de atuação e projetar-se como uma das principais mineradoras do mundo. Críticos dizem que sua gestão foi marcada por atropelos e por rispidez no trato com executivos e funcionários.

A confirmação do nome de Carla vem reforçar um embate que vem marcando a fase prévia ao início oficial da campanha eleitoral. Nas últimas semanas, Dilma Rousseff, Aécio Neves e o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, vêm fazendo uma série de declarações relativas aos planos no campo econômico.

O senador mineiro tem se cercado de uma equipe famosa por defender que o país estará melhor com um aumento na taxa de desemprego e um superávit primário maior. Campos prometeu inflação de 3% e disse que a política de desenvolvimento calcada na criação de postos de trabalho se esgotou. A presidenta e os principais líderes petistas têm dito que os dois oponentes representam uma volta ao passado no sentido de arrocho salarial, piora nas condições laborais e ganhos concentrados apenas nos setores mais abastados da população.

Carla Grasso pinta como mais um capítulo deste enfrentamento de ideias. Ao chegar à Vale, trazia no currículo o posto de secretária de Previdência Complementar do Ministério da Previdência e era namorada do ministro da Educação, Paulo Renato de Souza. Ao longo dos 15 anos seguintes, ganharia espaço na empresa como a única mulher a fazer parte do comando, com o título de diretora de Recursos Humanos e Serviços Corporativos, e passaria a ocupar o posto de braço direito do executivo-chefe Roger Agnelli, apesar das desconfianças por parte do PT em relação à proximidade com os tucanos.

Em 2009, Agnelli balançou no cargo ao deixar insatisfeito o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, devido a demissões e a um plano de redução de investimentos em meio à crise econômica internacional. Na época, segundo reportagem do jornal Valor Econômico, Carla fez companhia na berlinda ao diretor-executivo.

Em 2010, quando o estilo de Agnelli era contestado dentro da empresa, o mesmo Valor publicou reportagem baseada no relato de nove ex-diretores, que se queixavam da personalidade “forte e centralizadora”, com critérios obscuros de promoção e contatos restritos a um pequeno círculo no qual Carla se destacava.

Pouco antes de sair, em entrevista ao jornal, Agnelli atenuou as críticas feitas à diretora, acusada por outros diretores de “causar dificuldades”. “É natural que, pela função, a Carla acabe tendo desgaste maior. A Carla está aqui há 13 anos, mais tempo do que eu, ela fez o enxugamento lá atrás, mudança de planos de aposentadoria e agora mais recentemente, nos últimos quatro ou cinco anos, nós fizemos quatro ou cinco mudanças até evoluir do sistema de linha de negócios para um sistema mais matricial”, disse o executivo, que também se esforçou para rejeitar a fama de Carla de “fritar” diretores antes de provocar a demissão dos mesmos. “Ela é dura, mas é eficiente, é exigente. Há esse desgaste, mas diretora de recursos humanos é sempre complicado, não é?”

Com a saída de Agnelli, em 2011, Carla Grasso também deixou a Vale. Três anos depois, Aécio ganha uma coordenadora-executiva de plano de governo. Ou alguém com vontade de tomar “medidas impopulares”.

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