Contarato a Mendonça: democracia se fez com sangue e país precisa de ministro ‘terrivelmente democrático’

Senador discordou de fala sobre conquistas democráticas e questionou indicado ao STF por posições adotadas no governo

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Audiência começou na CCJ começou pela manhã e deve prosseguir até o final da tarde

São Paulo – Depois de uma sequência de senadores com elogios, o advogado André Mendonça, indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), enfrentou seu primeiro – e praticamente único – questionamento na intervenção de Fabiano Contarato (Rede-ES). Já no início da tarde desta quarta (1º), na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o parlamentar capixaba rebateu declaração de Mendonça de que, diferente de outros países, no Brasil a democracia não se conquistou “com sangue derramado e vidas perdidas”.

“A nossa democracia, senhor André, também foi construída em cima de sangue, mortes e pessoas desaparecidas”, disse Comparato. “É inaceitável negar a história”, acrescentou, lembrando de pessoas presas, torturadas e assassinadas durante a ditadura. E citou o ex-deputado Rubens Paiva, que teve o mandato cassado, foi preso em casa e morreu sob tortura, sem que o corpo fosse localizado, em 1971.

Casamento civil

Os questionamentos não se limitaram à questão política. Contarato também quis saber como Mendonça, que é evangélico, votaria em hipotético desempate no STF sobre casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Homossexual, o parlamentar é casado e tem filhos, afirmando não ter “subfamília”.

Em alusão à declaração do presidente da República, o senador afirmou que o Brasil precisa de um ministro do Supremo “terrivelmente democrático”, mas lembrou que quando ministro da Justiça o indicador elaborou dossiê de servidores que integravam movimentos antifascistas, além de promover inquéritos contra jornalistas.

Omissão no governo

Para Contarato, o candidato ao STF também foi “omisso”, quando ministro da Justiça, com o que chamou de interferência do presidente da República na Polícia Federal. Assim, prosseguiu, é preciso um país “terrivelmente comprometido com minorias” e “terrivelmente ambientalista”. Mas é o país marcado pela grilagem de terras e onde mais se matam negros, mulheres, índios e população LGBT.

E “terrivelmente laico”, acrescentou ainda Contarato. Ele lembrou que, durante a pandemia, André Mendonça, como advogado-geral da União, defendeu a abertura de templos religiosos. Naquele dia, emendou, morreram mais de 3.700 pessoas devido à covid-19. Assim, o senador pediu que Mendonça, se ministro do STF, tenha como Bíblia “a Constituição da República Federativa do Brasil”.

“Espere de mim sempre o respeito, sempre o compromisso com a Constituição. Espere de mim não compactuar com discriminação”, respondeu André Mendonça, Sobre a questão dos templos, ele afirmou que ali se defendia o “uso proporcional”, com medidas de higienização, espaçamento e limitação do número de pessoas. Mas disse que respeitava a decisão do STF.

Acompanhe a sabatina de André Mendonça

Direitos civis

Sobre a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o indicado ao Supremo afirmou que “respeitaria os mesmos direitos civis”. Contarato insistiu para uma resposta mais específica. “Eu tenho minha concepção de fé específica. Agora, como magistrado da Suprema Corte, eu tenho de me pautar pela constituição. (…) Eu defenderei o direito constitucional dos casamento civil das pessoas do mesmo sexo.”

Mendonça já respondia a pergunta de outro senador quando pediu para voltar aos questionamentos de Contarato em relação à ditadura. Ele justificou seu pronunciamento inicial afirmando que se referia a “revoluções liberais”, mas que a democracia no Brasil custou, sim, muitas vidas. E apresentou um “pedido de desculpas com uma fala que pode ter sido mal interpretada”.

Às 14h30, a sabatina chegou a quase cinco horas. A votação na CCJ deve ocorrer até o final da tarde. Os senadores querem votar o nome de Mendonça no plenário da Casa ainda hoje.