Ciro diz que Serra é ‘mais feio de alma que de rosto’

Animado com disputa em 2010, Ciro constrói imagem de lulista mais livre para criticar governo do que Dilma. Sobre tucano, diz, tem 'atitude destrutiva que impede o diálogo'

Ciro Gomes está “animadíssimo” com sua possível candidatura à presidência em 2010. Nesta sexta-feira (25), o deputado federal não deixou dúvidas quanto a seus anseios políticos. Em toda oportunidade, o pré-candidato pelo PSB afaga o presidente Lula, dá tapinhas de desconfiança no governo e verdadeiros sopapos em José Serra, provável adversário no próximo ano.

Seu discurso na sede da Força Sindical em São Paulo foi focado nas conquistas econômicas do governo, em especial lembrando que, na crise atual, o Brasil pela primeira vez não quebrou. Ciro Gomes atribui o sucesso à condução de Lula, “empurrando” BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal contra os problemas gerados pelo abalo econômico mundial. Ao mesmo tempo, ele avalia que a política econômica do governo foi “muito acanhada, meio vacilante” – ainda assim acima do que foi visto na gestão de Fernando Henrique Cardoso.

O deputado entende que há setores conservadores ocupando os ministérios e critica o Banco Central, que segundo ele estaria “polindo a arma” para voltar a aumentar os juros e que não leva em conta a vida real, os impactos da macroeconomia sobre a vida dos trabalhadores. “Temos que nos organizar para criar um conforto para aqueles que no governo fazemos uma luta, fraterna, porque não estamos brigando com um inimigo, estamos brigando com um amigo que tem equívocos conservadores, mas está do nosso lado”, afirmou.

Ciro Gomes espera ter uma reunião com Lula no início do próximo mês para tratar daquele que é um dos pontos em discussão no próximo ano: a institucionalização das conquistas do atual governo. Lula tem falado que enviará ao Congresso um projeto de Consolidação das Leis Sociais (CLS), reunindo as principais medidas dos últimos sete anos. “Lula representa um avanço muito grande para o país. Não tem um setor que não tenha avançado”, defende o deputado.

Ao mesmo tempo em que afirma que a decisão sobre sua candidatura será tomada em fevereiro, Ciro não deixa dúvidas de que quer o Planalto e evidencia qual será sua linha na campanha: “O Brasil está no caminho certo. Porém, quando a gente olha a atualidade e compara com o que o Brasil poderia ter, acho que o debate em 2010 não pode ser conservador”.

Na visão do deputado, o governador de São Paulo, José Serra, não é apenas conservador, mas “cripto-conservador”, ou seja, quer voltar à situação anterior ao governo Lula. O pré-candidato pelo PSB entende que o presidente não está correto ao afirmar que todos os candidatos à sucessão são de esquerda. “Não é que não tenha origem decente, origem respeitável, mas aonde está esse conjunto de forças cripto-conservadoras que o Brasil tem. Terrível. Ela não está comigo, não está com a Dilma (Rousseff), não está com a Marina (Silva, pré-candidata pelo PV). Está com o Serra”.

Quando falou que a oposição quer se passar por amiga de Lula para aproveitar a popularidade do presidente, Ciro Gomes aproveitou para dizer que “ele (o presidente) também gosta, está no céu, não dá mais canelada em ninguém, é o Lulinha Paz e Amor pra sempre. E a Dilma entrou na mesma”.

Sobre o tucano, disse que “o Serra é mais feio de alma do que de rosto”. Mais tarde, explicou: “Acho que a conduta pessoal dele em relação a seus adversários é feia. É uma conduta de não enfrentar o adversário com linguagens civilizadas, é uma atitude destrutiva, que impede o diálogo”.

Alianças

Ciro Gomes caminha para melhorar sua exposição e fomentar alianças pelo país. Na quinta-feira (24), esteve em Santa Catarina. Nesta sexta, participou também do 2º Congresso da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e no sábado vai a Bauru, interior de São Paulo.

O presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, tem forte influência em seu partido, o PDT, que pode render a Ciro mais tempo de televisão no primeiro turno. Caso o PSB não consiga formar uma coligação, terá pouco mais de um minuto de propaganda eleitoral – sozinho, o PT tem em torno de três minutos, e o PSDB, dois minutos e meio.

Na avaliação do deputado, o cenário hoje caminha para o segundo turno, e por isso é importante manter duas candidaturas governistas, que fragmentam o eleitorado na primeira rodada, mas convergiriam na votação final. Para o parlamentar, sua candidatura deve ser mais solta e mais à esquerda que a da ministra Dilma Rousseff, até para evitar que a oposição possa fazer acusações por falta de ética ao governo por alianças e proteções oferecidas em troca de governabilidade – alusão ao caso do presidente do Senado, José Sarney.

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