Bolsonarismo golpista

Braga Netto chamou comandante do Exército de ‘cagão’ por não apoiar golpe

Cúpula bolsonarista, com Braga Netto no centro, articulava um golpe contra Lula e a democracia. Mourão segue com discurso golpista

Valter Campanato/Agência Brasil
Valter Campanato/Agência Brasil
"Oferece a cabeça dele. Cagão", declarou Braga Netto. As tratativas visavam impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vencedor nas urnas em 2022

São Paulo – Investigações da Polícia Federal (PF) apontam que o general Walter Braga Netto estava no centro das tratativas de golpe de Estado. Braga Netto foi ministro da Defesa durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e concorreu como vice na chapa do ex-presidente de extrema direita. Em conversas liberadas pela PF, o militar chegou a chamar de “cagão” um comandante que não quis abraçar a tentativa golpista.

“Oferece a cabeça dele. Cagão”, declarou Braga Netto. As tratativas visavam impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vencedor nas urnas em 2022. O golpismo da cúpula bolsonarista culminou, inclusive, nos atentados do dia 8 de janeiro. Na ocasião, apoiadores do ex-presidente radical, insuflados por ele e por pessoas próximas, invadiram prédios na Praça dos Três Poderes e destruíram a sede das instituições democráticas brasileiras.

Hoje (8), a Justiça decretou a prisão de quatro pessoas a pedido da PF. A investigação tem como alvo militares, assessores e o próprio ex-presidente, que teve seu passaporte retido pelos investigadores. Boa parte destas informações chegaram a conhecimento das autoridades após a delação premiada de Mauro Cid, ex-assessor especial de Bolsonaro.

Braga Netto no centro

As conversas de Braga Netto com aliados tinham como alvo o general Marco Antônio Freire Gomes, à época comandante do Exército. “Infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, disse o bolsonarista sobre o militar.

Braga Netto conversava com o capitão da reserva Ailton Gonçalves Barros. Ele buscava apoio das Forças Armadas para dar um golpe de Estado. Além do comandante do Exército, o bolsonarista orientou ataques ao comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Alberto de Almeida Baptista Júnior. “Traidor da pátria (…) inferniza a vida dele e da família”, disse Braga Netto. Posteriormente, as investigações dão a entender que a Marinha teria embarcado no golpe e a Aeronáutica teria algumas restrições. O Exército, então, barrou.

Insistência golpista

Em contato com as evidências da trama golpista envolvendo militares e a cúpula do governo bolsonarista, o ex-vice-presidente Hamilton Mourão, hoje senador, manteve postura de ataque. Em mensagem de vídeo divulgada a apoiadores, insuflou novamente a ação das Forças Armadas.

“Não podemos nos omitir, nem as Forças Armadas, nem a Justiça Militar, sobre esse fenômeno de desmando desenfreado que persegue adversários e que pode acarretar instabilidade no país”, disse o bolsonarista.

Em resposta a Mourão, parlamentares anunciaram que pedirão a cassação de seu mandato. “Entraremos no Conselho de Ética do Senado pedindo a cassação do mandato do General Mourão por incitar as Forças Armadas a ações golpistas de descumprimento judicial”, disse o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP). “Estou acionando a PGR diante das declarações golpistas do senador Mourão no dia de hoje. Em vídeo e nas redes sociais, o ex-vice presidente incitou as Forças Armadas a se insurgirem contra a operação da PF”, completou sua colega de partido e Casa Sâmia Bomfim (SP).

Leia mais


Leia também


Últimas notícias