CPI do DF

Após prisão de Silvinei, Torres diz que não interferiu na atuação da PRF

Ex-ministro da Justiça disse que a PRF agiu conforme seu próprio planejamento durante as blitze contra eleitores de Lula no Nordeste

Eurico Eduardo/Agência CLDF
Eurico Eduardo/Agência CLDF
Agentes da PF foram expulsos do acampamento golpista por militares e bolsonaristas, disse Torres

São Paulo – O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (DF) e ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, Anderson Torres, disse nesta quinta-feira (10) que não teve participação nas ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nos bloqueios das estradas no segundo turno das eleições de 2022, realizado em 30 de outubro. “Eu não tinha interferência no planejamento interno da PRF e muito menos da PF”, disse Torres no depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

O depoimento de Torres à CPI ocorre um dia depois que Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF, foi preso pela Polícia Federal (PF) em uma investigação sobre suposta interferência da corporação no segundo turno das eleições do ano passado.

Questionado pelo presidente do colegiado, deputado Chico Vigilante (PT-DF), o ex-ministro da Justiça disse que a PRF e a PF tinham seu próprio planejamento, apesar de serem subordinadas à sua Pasta. “Agiram conforme o planejamento delas. Isso não é atribuição do Ministério da Justiça”, afirmou.

A investigação encontrou planilhas e mapas que apontam que a PRF montou blitze em cidades onde Lula obteve mais de 75% dos votos no primeiro turno, principalmente no Nordeste. Além disso, a PF tem provas que mostram que Silvinei se reuniu com Torres, no ministério, a 11 dias do segundo turno, logo após ter determinado às equipes da PRF “policiamento direcionado” para o dia da eleição.

Apesar da negativa do ex-ministro, o próprio Silvinei, em depoimento à PF em novembro, afirmou que “a operação não era da PRF, era uma operação do Ministério da Justiça”. O ex-diretor da PRF presta novo depoimento hoje após ser preso.

Visita à Bahia e bloqueio nas rodovias

Anderson Torres também negou ter determinado o aumento de efetivos da PRF em cidades do Nordeste, durante o 2º turno das eleições. Essa decisão teria sido tomada durante uma viagem do ex-ministro à Bahia. “Fui a convite do diretor da PF para visitar a obra da superintendência da PF-BA. Nessa visita, conversamos sobre eleição. Ele fez uma reclamação de que a Bahia era muito grande, que ele não ia conseguir atender o estado com a PF”, relatou.

No entanto, o ex-superintendente da PF na Bahia Leandro Almada, que se encontrou com Torres, disse em depoimento que a reunião com o ministro teve como propósito mapear cidades com propensão de voto ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste, bem como desenvolver um cronograma de ação no dia da votação.

O presidente da comissão também questionou se Silvinei teria desobedecido suas ordens para desobstruir estradas após a vitória de Lula. Bolsonaristas bloquearam as estradas em diversos pontos do país para contestar o resultado das urnas. Os bloqueios contaram com a leniência da PRF, que não agiu para liberar o tráfego.

Torres, no entanto, preferiu se esquivar e enalteceu o trabalho do ex-diretor da PRF. “Eles trabalharam dia e noite, sem folga, para tentar desobstruir. Foram milhares de pontos de bloqueio. Os governadores não se envolveram muito em ajudar nesse momento. Foi uma coisa muito difícil”, alegou.

Papel do Exército no acampamento

Por outro lado, Torres revelou que agentes de inteligência da PF que atuavam no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, foram expulsos por bolsonaristas e pelos próprios militares. “Não acompanhei o que foi feito lá dentro. Investigações sigilosas não temos acesso. Mas, uma coisa delicada, é que o próprio Exército ajudou na retirada dos policiais no acampamento (…) Eles estavam fazendo levantamento dentro de investigação sigilosa. Eu não sei dizer o que eles estavam fazendo ali. Foi o que eu vi pela televisão”, disse.

Além disso, Torres rebateu o ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), general Gustavo Henrique Dutra de Menezes. Em depoimento à CPI, em maio, o general negou que tenha impedido o desmonte e desocupação do acampamento golpista. Torres afirmou que a Polícia Militar do DF estava preparada para desmontar acampamento, mas disse que a operação não foi realizada por ordem do Exército.

“Eu não vou comentar o depoimento do general aqui. Mas, as imagens com 500 policiais militares parados esperando a autorização do Exército para tirar o acampamento, e alguém vir aqui e dizer que não agiu, que não era atribuição e que não está fazendo é complicado. É o que precisa ser apurado por esta CPI”, declarou o ex-ministro.

Déjà-vu

Aos distritais, Torres basicamente repetiu as mesmas alegações emitidas à CPMI dos atos golpistas na última terça (8). Ele declarou novamente que a minuta do golpe que a PF encontrou na sua casa era um “documento fantasioso”. Desse modo, disse que o documento só não foi descartado por “mero descuido”. A minuta previa a decretação de estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de modo a impedir a vitória do presidente Lula.

Torres também afirmou que, antes de viajar aos EUA no dia 6 de janeiro, deixou assinado um Protocolo de Ações Integradas (PAI) para ser executado em caso de necessidade. Disse que se o plano fosse seguido à risca, os atos do 8 de janeiro não teriam acontecido.

Chico Vigilante mencionou que a coronel da PMDF Cínthia Queiroz, subsecretária de Operações Integradas da Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), afirmou à CPI que o então comandante da PMDF, coronel Fábio Augusto Vieira, estava preocupado com o efetivo para 8 de janeiro e tentou falar com o Departamento de Operações (DOP).

“O pessoal não respondia. Quando respondia, dizia que a tropa estava chegando, mas nunca chegava. Houve sabotagem? O senhor acredita que o (coronel Jorge Eduardo) Naime ou o (coronel) Paulo José (Ferreira, então comandante do DOP) podem ter retardado a tropa por algum motivo que ainda não sabemos?”, questionou Chico.

“É uma afirmação grave. Precisa ser apurado se realmente aconteceu. O comandante precisa ter um comando de toda a tropa dele. Precisa ser esclarecido isso. Talvez seja o ponto-chave, essa pergunta, no âmbito do DF. Ela (Cínthia) conhece, é coronel da polícia, tem 30 anos de polícia. Ela sabe do que está falando”, respondeu Torres.


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