o clã e o crime

Jair Bolsonaro e filhos condecoraram ao menos 16 PMs ligados ao crime organizado

O crime de homicídio está entre os mais comuns praticados pelos homenageados, sugerindo que operações violentas eram critério para se aproximar dos Bolsonaro e ganhar medalha

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O presidente, seus filhos, o senador Flavio, o vereador Carlos, Queiroz, Adriano e outras ligações

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PL) e dois de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), condecoraram ao menos 16 policiais militares ligados ao crime organizado, conforme denúncias do Ministério Público do Rio de Janeiro. Entre eles, Adriano Nóbrega, o major Ronald Pereira e, mais recentemente, o delegado e ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski, envolvidos em oito das mais importantes operações de combate ao crime organizado no Rio, no período de 2006 e 2022.

De acordo com a jornalista Juliana Dal Piva, do portal UOL, investigações da Polícia Federal, corregedorias e o próprio Ministério Público revelaram quadrilhas montadas por policiais para a prática de extorsão, corrupção, sequestros e homicídios, entre outros crimes. E em todos esses casos, os policiais envolvidos constavam da folha de pagamento da máfia dos caça-níqueis, das facções do tráfico ou dos grupos milicianos.

Até 2018, Flávio e Carlos entregaram medalhas e moções a 707 pessoas, das quais algumas foram premiadas mais de uma vez. Um dos casos mais conhecidos é o de Adriano da Nóbrega, com moção em 2003 e depois a medalha Tiradentes em 2005. Denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, morreu em uma operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020, após um ano foragido da Justiça.

Em depoimento à promotoria fluminense, Flávio Bolsonaro disse à promotoria que conheceu Adriano nos anos 2000, por intermédio de seu assessor Fabrício Queiroz, durante aulas de tiro.

Clã Bolsonaro, policiais e crime de homicídio

As primeiras homenagens na Câmara Municipal do Rio de Janeiro foram concedidas em 2001, no primeiro mandato de Carlos Bolsonaro. Do total de homenageados, 596 eram policiais, dos quais 75 responderam a processos criminais. De cada dez pessoas que Flávio e Carlos homenagearam, uma respondeu a processo criminal na Justiça, segundo a reportagem.

O crime de homicídio é o mais comum entre os processos do grupo de homenageados por Carlos Bolsonaro. Os 36 policiais que receberam distinção de Jair Bolsonaro e filhos responderam a processos na Justiça pela morte de 39 pessoas. “Participar dessas operações violentas era um critério para se aproximar dos Bolsonaro e ganhar medalha. Em 57 homenagens, a palavra ‘morte’ foi citada como justificativa para a concessão do reconhecimento”, diz trecho da reportagem.

Flávio pediu sua primeira homenagem em 2003, quando era deputado estadual no Rio de Janeiro. O agraciado foi o inspetor da Polícia Civil Mário Franklin Leite Mustrange de Carvalho, o Marinho. Em 2005, a homenagem foi para Hélio Machado da Conceição, o Helinho. Ambos foram alvo da Operação Gladiador, que apontou o envolvimento da cúpula da polícia com a máfia da contravenção.

Esses policiais responderam por crime de ameaça, associação criminosa, improbidade, extorsão, fraude em licitação, fraude processual, homicídio, improbidade administrativa, organização criminosa, peculato, receptação, violência doméstica, tentativa de homicídio e muitos outros, segundo a reportagem.

Segundo nota de Jair Bolsonaro e do senador Flávio ao UOL, “ao longo de anos na política, sempre fizemos homenagem a policiais que se destacaram pelos serviços prestados à população. À época das homenagens, era impossível prever que alguns desses policiais pudessem desonrar a farda”. A assessoria de Carlos Bolsonaro, porém, não se manifestou.


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