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2022 começa com Bolsonaro rejeitado, Moro por baixo e cenário sem terceira via

Com grande chance de derrota, Bolsonaro vai arriscar reeleição ou buscará solução para blindar a si mesmo e a sua família a partir de 2023?

Antonio Cruz/Agência Brasil
Antonio Cruz/Agência Brasil
Entre as ações que tentam cassar Moro está, justamente, uma do PL. O partido argumenta que Moro praticou "desequilíbrio eleitoral"

São Paulo – O cenário do ano eleitoral começa sem terceira via e com o ex-juiz Sergio Moro – pré-candidato à presidência pelo Podemos – por baixo. Ao contrário de 2018, o quadro não é ruim só para o ex-ministro herói da Lava Jato. Mas para a extrema direita brasileira como um todo. Ao menos considerando-se os péssimos índices de popularidade do principal expoente desse setor, o chefe de governo Jair Bolsonaro. Pesquisas do Ipec e do Datafolha divulgadas em 2021 apontam que o presidente tem rejeição entre 60% e 70% do eleitorado. Ou seja, cerca de dois terços afirmam que não votariam em Bolsonaro na eleição de 2022 de jeito nenhum.

Os levantamentos mostram ainda que a rejeição é quase o dobro da que vem sendo atribuída ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por sua vez, Lula continua liderando, com mais do que o dobro de Bolsonaro (48% a 22%) no 1º turno, segundo o Datafolha. Já Moro, que se filiou ao Podemos em novembro com pose de candidato, mais de um mês depois não atingia os dois dígitos. O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro aparece com 9%, seguido por Ciro Gomes (7%) e João Doria (PSDB) com 4%.

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Bolsonaro fora?

O cientista político Vitor Marchetti pondera que dados de simulação eleitoral falam do presente – uma “fotografia” do momento. Mas acha plausível que Bolsonaro não seja candidato. Pelo menos não à presidência da República, já que vai disputar uma eleição com altíssima chance de derrota.

“Hoje, o alto índice de rejeição cria enorme possibilidade de ele não se reeleger. Esse é o dado mais relevante”, diz. Nesse contexto, avalia o professor na Universidade Federal do ABC, é possível que Bolsonaro possa mesmo estar refletindo. “A partir de 2023 ele ficaria sem mandato, descoberto e desprotegido? Ou seguiria a mesma lógica de mais de 30 anos de vida politica, de preservação de si mesmo?” Desse modo, o “instinto de sobrevivência” de Bolsonaro poderia levá-lo a tentar a costura de uma solução alternativa. E assim se blindar, para proteger a si e a sua família, principalmente seus filhos, a partir de 2023, acredita o analista.

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Os próximos meses dirão. Até aqui, Sergio Moro não decolou e ainda não surgiu outra força na chamada terceira via. “Enquanto Bolsonaro estiver no páreo, ninguém vai decolar mesmo”, acredita o professor da UFABC. “Então, março e abril serão decisivos para ver se a lógica de tirar Bolsonaro do caminho e tentar fazer crescer outro nome alternativo faz sentido. Ou se Bolsonaro vai para a disputa em 2022, mesmo com chance pequena de reeleição”, observa. O cenário, porém, não significa que ele está vencido, ou que não possa surgir outra candidatura para disputar com Lula.

Pelo calendário do Tribunal Superior Eleitoral, dia 2 de abril, seis meses antes do primeiro turno, é a data-limite para que o presidente da República, governadores e prefeitos que queiram concorrer a outros cargos renunciem aos respectivos mandatos.

Moro: nem governista, nem oposicionista

Ainda em novembro, cerca de duas semanas depois de Moro se lançar no cenário eleitoral, o cientista político e sociólogo Alberto Carlos Almeida previa que não haveria espaço para o ex-juiz disputar a presidência. Para ele, a tendência era o cenário entre Lula e Bolsonaro se consolidar. “A dificuldade de Moro é essa: a do candidato que não é nem governo, nem oposição. Ele nunca vai conseguir ser mais oposição do que Lula, nem ser mais governista do que Bolsonaro.”

Antes de Moro se filiar ao Podemos, o ex-presidente do PSB, Roberto Amaral, afirmara que eventual candidatura do ex-juiz não trazia nada novo nem tinha “plausibilidade”. Até porque não haveria espaço para duas candidaturas de centro-direita. Então, “Moro seria novidade em 2018, no auge da Lava Jato, que hoje é um pato manco”, disse Amaral na ocasião.

Em artigo publicado em dezembro último, Marchetti cita análise do Jota Labs (de dezembro de 2020), segundo a qual candidatos com aprovação acima de 43% têm chances muito altas de reeleição. Por outro lado, aqueles com reprovação acima de 43% têm chances baixas.

Em dezembro de 1997 FHC tinha 37% de ótimo/bom e 20% de ruim/péssimo, enquanto em dezembro de 2005, Lula era aprovado por 28% e desaprovado por 29%. Já em 2014, Dilma Rousseff tinha aprovação de 43% e reprovação de 20%. Todos foram reeleitos. Bolsonaro entra em 2022 com 22% de ótimo/bom e 53% de ruim/péssimo, segundo o Datafolha.

O presidente tem um ano para usar a caneta, tentar reverter os péssimos dados econômicos e a tragédia social do país. Mas não terá como apagar, ou disfarçar, a sombra dos 620 mil mortos pela covid-19 no país. Muitos dos quais vítimas da perversa e desumana política de seu governo frente à pandemia.