Nem-nem

Nem governista, nem oposicionista, candidatura de Moro tende a não sair do lugar, diz analista

Moro nunca vai conseguir ser mais oposição do que Lula, nem ser mais governista do que Bolsonaro, avalia pesquisador

Os quatro candidatos mais cotados: Lula (foto: Ricardo Stuckert), Bolsonaro (Marcos Corrêa/PR), Ciro Gomes (José Cruz/Agência Brasil) e Sergio Moro (Marcelo Camargo/EBC)

São Paulo – A pouco menos de um ano das eleições de 2022, o quadro de polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual chefe de governo se mantém, para desespero da parcela do espectro político que sonha com a chamada terceira via. Esta, até o momento, é invisível. A candidatura do ex-juiz Sergio Moro à corrida presidencial não alterou esse quadro substancialmente: se as eleições fossem hoje, Lula e Bolsonaro estariam no segundo turno.

Quatro pesquisas foram divulgadas após a entrada de Moro na disputa. Ele se filiou ao Podemos em 10 de novembro já com discurso de candidato. Dois dias depois, aparecia em quarto lugar com 5%, em estudo Exame /Ideia. Depois, mais três levantamentos mantiveram essa tendência.

Lula na frente

A Paraná Pesquisas ouviu 2.020 eleitores em 164 municípios entre os dias 16 e 19 de novembro de 2021, avaliando cinco cenários para o primeiro turno. Lula liderou em todos eles (variou de 34,9% a 35,8%), e foi seguido também em todos por Bolsonaro (que foi de 29,2% a 30,1%, dependendo do quadro). Enquanto isso, Moro, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro, foi de 10,7% a 11,7%.

Em um quinto e hipotético cenário, só havia os nomes de Bolsonaro, Lula e a opção “Nem Jair Bolsonaro, nem Lula”, que foi escolhida por 17,1% dos pesquisados. O número dos que optaram pelo chamado “nem, nem” foi, aparentemente, menor do que se supunha, o que não é boa notícia para a terceira via. Nesse cenário, Lula teria 39,3% e Bolsonaro, 33,7%.

A Pesquisa PoderData, realizada de 22 a 24 de novembro, entrevistou 2.500 pessoas para dois cenários. Segundo o levantamento, Lula vai de 34% a 36% das intenções de voto, dependendo do cenário, contra 27% a 29% de Bolsonaro. Moro e Ciro Gomes aparecem “cabeça a cabeça” em terceiro lugar. Em um deles, 8% a 7% para o ex-juiz; no outro, 9% a 8% para o ex-governador do Ceará.

Já a pesquisa telefônica do Ipespe, divulgada na sexta-feira (26), mostra Lula com 42%, seguido por Bolsonaro (25%), Moro (11%) e Ciro (9%) como os principais candidatos.

Tendência é mesmo a polarização

Para o cientista político e sociólogo Alberto Carlos Almeida – autor de livros sobre comportamento eleitoral, como O Voto do Brasileiro (Ed. Record) –, apesar da profusão de números, a realidade mostrada pelas pesquisas é simples: a tendência é se consolidar o cenário entre Lula e Bolsonaro. “É o mais provável. Ou, muito improvável que isso se modifique.”

A notícia não é boa para os que aguardam ansiosamente por uma súbita mudança da situação, com a ressalva de que isso não é raro na política. Na opinião de Almeida, o cenário para Moro, apesar da empolgação de boa parte da mídia, não é nada bom. “É difícil, porque os votos que Bolsonaro tem hoje são de quem avalia bem o governo dele, com ótimo ou bom. A votação de Lula é a de quem avalia o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo. Como Moro vai conseguir esses votos? Como os marqueteiros vão fazer? Por que os que avaliam Bolsonaro como ótimo ou bom votariam em Moro?”, questiona.

“A dificuldade de Moro é essa: a do candidato que não é nem governo, nem oposição. Ele nunca vai conseguir ser mais oposição do que Lula, nem ser mais governista do que Bolsonaro.”

Entusiasmo da mídia

Além disso, pelo menos segundo a Paraná Pesquisa, o eleitorado “nem Lula, nem Bolsonaro” não é tão grande quanto se supõe, e não necessariamente esse eleitorado migraria para ele. Se o ex-juiz já é conhecido nacionalmente e já está colocado nas pesquisas de intenção de voto, “por que esses eleitores vão migrar lá na frente e já não migraram agora?”, pondera o analista.

Por tudo isso, o entusiasmo midiático pelo operador da Lava Jato parece não estar fundado em bases reais. “É normal. A mídia não ficou entusiasmada com Lula, e Lula ganhou; não se entusiasmou com Dilma, e ela ganhou; a mídia não ficou entusiasmada com Bolsonaro, e ele ganhou. O entusiasmo da mídia não indica quem vai ganhar”, diz Almeida. “Acho que há uma certa empolgação juvenil com relação a Moro que, com o passar do tempo, vai arrefecer. Porque provavelmente ele não vai sair do lugar”, calcula.

Ciro Gomes e PSDB

A situação de Ciro Gomes também está longe de ser confortável. O sociólogo analisou levantamentos anteriores do Datafolha – que ainda não divulgou pesquisa com Moro no cenário – e, com base neles, afirma que o pré-candidato do PDT tem perfil ou padrão de votação de oposicionista. “Ele tem uma fatia maior dos votos entre quem avalia mal Bolsonaro, e menor de quem avalia bem. É uma cara de oposicionista. Mas esta oposição está ocupada por Lula e o PT.”

Por fim, e o PSDB? Encalacrado na crise das prévias, o partido não será a terceira via dos sonhos do mercado. Ao contrário, o partido está completamente dividido. Nenhum resultado da decisão entre os governadores João Doria (SP), Eduardo Leite (RS) e o ex-senador Arthur Virgilio vai realmente unificar a legenda fraturada. A perspectiva é de que o desempenho do PSDB em 2022 seja semelhante ao de 2018, quando Geraldo Alckmin teve irrisórios 4,7% dos votos.

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