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Bolsonaristas ‘vêm aqui para defender bandidos’, lamenta Randolfe na CPI da Covid

Senadores bolsonaristas tentam tumultuar depoimentos e criar narrativas fantasiosas. “Utilizam a estratégia de acusar os outros daquilo que eles fazem”, afirma vice-presidente da comissão

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
"Para de ser mentiroso, Marcos Rogério (...) veja a tentativa de tumultuar", disse Randolfe sobre tentativas de defesa de bolsonaristas intransigentes e fora de contexto de Marcos Rogério

São Paulo – O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Roberto Rebello Filho, foi o penúltimo interrogado pela CPI da Covid. As oitivas devem chegar ao fim amanhã (7). Durante o depoimento, Rebello Filho garantiu aos senadores intervenção técnica na Prevent Senior em até 15 dias. O dia foi marcado pelo embate do núcleo de defesa do governo Bolsonaro com os demais parlamentares do colegiado. “Utilizam estratégia de acusar daquilo que eles fazem. Neste contexto, a narrativa se encaixa”, disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A base governista defendeu, durante toda a CPI, a “autonomia médica” para prescrever remédios, mesmo que ineficazes e até nocivos aos pacientes. É o caso da cloroquina e ivermectina, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e negacionistas da covid-19. “Vêm aqui para defender bandido (…) Precisamos entender o sentido da narrativa. Xingue do que você é e acuse do que você faz”, prosseguiu Randolfe.

“Narrativas”

Em outro momento, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), um dos bolsonaristas mais ativos da CPI, adotou a mesma estratégia denunciada por Randolfe sobre o depoente do dia. Rebello Filho foi indicado para a ANS a partir de articulação política do Partido Progressista (PP), partido de Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro na Câmara. À época, durante o governo Michel Temer (2016-2018), Barros ocupou o ministério da Saúde. O parlamentar é um dos pontos centrais da CPI da Covid, acusado de intermediar tentativas de compras superfaturadas de vacinas da Covaxin, no caso da Precisa Medicamentos.

Por posição central nos supostos casos de corrupção, fraude e outros crimes envolvendo o núcleo do governo Bolsonaro, os senadores questionaram Rabello Filho sobre suas relações com Barros. Ele chegou a ser chefe de gabinete do líder do governo. Para tumultuar os questionamentos, Marcos Rogério passou relacionar Rabello Filho a um distante parentesco com o ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Para de ser mentiroso, Marcos Rogério (…) Quando questionam se teve indicação do Ricardo Barros, tem base concreta. Tem relação (com a investigação). Isso é do escopo. Agora, o que tem a ver a condição de ele ser primo de um ex-senador? Não se trata de defender Lindbergh. Mas veja a tentativa de tumultuar. Lindbergh era opositor ao Temer, aliás”, disse Randolfe, exaltado.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também criticou a postura do governista de tentar “criar narrativas” para defender a qualquer custo o presidente Bolsonaro. “Pela forma desrespeitosa como meu colega deseja defender o indefensável, eu deixo algumas perguntas. O que tem a ver Lindbergh com o depoente? Nada. O que tem a ver assessor do Marcos Rogério encontrado com drogas? Nada. Então defender teses indefensáveis tem limite. O que tem a ver o seu assessor pego com drogas? Tem alguma coisa a ver?”, disse, sobre escândalo envolvendo ex-membro do gabinete do bolsonarista.

Investigado

Além das relações com Barros, Rebello Filho foi convocado à CPI pela falta de ação da ANS diante das denúncias contra a Prevent Senior. Assim como a leniência da agência, outros órgãos também fecharam os olhos para ações criminosas do plano de saúde durante a pandemia de covid-19. Entre eles, o Conselho Federal de Medicina (CFM), que chegou a editar um decreto indicando o uso de cloroquina para pacientes. Por este motivo, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), colocou o presidente do órgão, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, na condição de investigado.

Britto Ribeiro invocou, em mais de uma ocasião, em coro com os bolsonaristas, a “autonomia médica”. O senador Humberto Costa (PT-CE), que é médico, esclareceu que “trata-se de uma falácia. Médico não tem autonomia para prescrever veneno”. Calheiros resumiu porque incluiu o presidente do conselho entre os investigados. “Pelo papel exercido por ele enquanto presidente do CFM no apoio ao negacionismo, no suporte à utilização de medicamentos ineficazes, que o fez publicamente, e também pela omissão diante de crimes. Como o que verificamos na Prevent Senior”.

Por fim, ao encerrar a sessão de hoje, Randolfe deixou uma mensagem para os que acompanhavam o depoimento do dia. “A CPI da Covid não acabará aqui. Teremos consequências, teremos uma agenda. Consequências, algumas delas, é que teremos intervenção na Prevent Senior. Medida mais do que adequada, embora não no tempo certo. Mas necessário”.


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