Para Nobre, com novo plano, país vai desenvolver motores de automóveis

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e secretário-geral da CUT disse que no modelo atual apenas são feitas peças que exigem baixa qualificação, como porcas e parafusos, e que isso justifica baixos salários

Sérgio Nobre: engenharia nacional forte e investimentos em pesquisas e em tecnologia (Foto: Rossana Lana/SMABC)

São Paulo – O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, considera que o novo regime automotivo brasileiro, lançado hoje (4) pelo governo federal, irá permitir que os trabalhadores do setor tenham mais qualificação profissional e, consequentemente, melhores salários. Na visão de Nobre, também secretário-geral da CUT, o programa incentivará a indústria a investir no desenvolvimento de alta tecnologia nacional em troca de redução fiscal.

O Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar Auto) prevê que das 12 etapas da fabricação de um carro, pelo menos seis sejam feitas no Brasil, já no ano que vem. Até 2015 deverão ser sete e, até 2017, oito. O governo também vai exigir a aplicação de, no mínimo, 0,5% da receita operacional bruta em engenharia, tecnologia industrial e capacitação dos fornecedores. Até 2017 esse investimento deverá ser de 1%.

“Isso resolve uma grande preocupação do trabalhador, que é a de as empresas serem montadoras e não produtoras de veículos. Agora teremos de ter uma engenharia nacional forte e investimentos em pesquisas e em tecnologia”, afirmou Sérgio Nobre, que participou do evento de lançamento do programa com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. “Vamos ter uma indústria tecnológica, o que exige mais qualificação profissional e, quanto mais tecnológico é o produto, maior a chance de aumentar o salário.”

Nobre lembrou que, atualmente, o setor automobilístico brasileiro não produz equipamentos que exigem alta tecnologia. “O que nossa indústria faz são coisas que exigem baixa qualificação, como porca e parafuso, e por isso paga salários baixos. Não podemos mais ficar com aquele tipo de trabalho do Charles Chaplin, apertando parafuso o dia todo. Isso não exige qualificação. Com o programa vamos passar a desenvolver motores, design e máquinas.”

Os principais investimentos das empresas que pretendem se habilitar para participar do Inovar Auto devem ser em segurança e economia de combustível. Até 2017 os carros terão de consumir 12,08% menos combustível do que atualmente. Em contrapartida, ganham redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de até 30 pontos percentuais. “O consumir também ganha, pois terá um carro mais seguro, mais bonito e mais econômico”, avaliou o dirigente. 

O Brasil é o quarto maior mercado consumidor de veículos do mundo, porém, é o sétimo em produção, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Entre janeiro e agosto, o país produziu 2.180.333 veículos. No período, 2.501.192 foram licenciados.