São Paulo – A intenção de alguns deputados de convocar o filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Luís Cláudio, para depor na CPI do Carf, é “mais uma tentativa artificial de criar um factoide, com o objetivo vincular a figura do ex-presidente Lula, através de um familiar seu, a um tema que não tem nenhuma relação com a própria CPI”. A opinião é do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), membro da comissão.

O presidente da CPI do Carf na Câmara, deputado Pedro Fernandes (PTB-MA), teria informado que vai colocar na pauta da próxima reunião deliberativa da comissão, prevista para amanhã (2), a votação de requerimento de convocação de Luís Cláudio. Pimenta diz que ouviu deputados defendendo a convocação de Luís Cláudio, mas não da boca de Fernandes.

“Aliás, os vazamentos que a imprensa faz são vazamentos criminosos, fora de contexto, para reforçar uma campanha permanente de criminalização e trazer um estigma sobre Lula e seus familiares.” Segundo Pimenta, uma reunião para tratar de vários assuntos relativos à CPI será realizada no final da tarde de hoje por integrantes da comissão.

Embora Luís Cláudio, por meio de seus advogados, venha pedindo há meses o acesso a documentos e informações do processo que tramita na 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, referentes a investigações da Operação Zelotes, somente na sexta-feira (27) o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, deferiu pedido nesse sentido. Toffoli disse que “é legítimo o direito de o reclamante ter acesso àqueles elementos de prova devidamente documentados nos autos do procedimento em que é investigado”.

Mas apenas quatro dias depois da decisão do ministro do STF, ontem (31), o jornal O Estado de S. Paulo divulgou que a empresa de Luís Cláudio, a LFT Marketing Esportivo, teria recebido cerca R$ 10 milhões.

Bradesco

Ontem, divulgou-se que a Polícia Federal indiciou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, em inquérito da Operação Zelotes, por supostos tráfico de influência, corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

“O indiciamento do presidente do Bradesco é revelador de um esquema criminoso que atuou durante muitos anos e tinha por objetivo lesar o erário com esquema de corrupção criminoso de sentenças que favorecessem o não pagamento de impostos por grandes empresas”, afirma o deputado. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) é responsável por recursos administrativos relativos a pagamento de tributos.

A CPI do Carf na Câmara é a segunda sobre o tema no Congresso. No final de 2015, foi encerrada a CPI do Senado. Na época, a relatora na CPI, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), disse que Lulinha “não foi e não poderia ser investigado pela CPI porque isso faria a comissão fugir do seu objetivo”. Ela acrescentou que as empresas de Lulinha nada têm a ver com a Operação Zelotes, que motivou a CPI do Carf.

Em novembro de 2015, a convocação do filho de Lula foi rejeitada pela CPI do Carf no Senado. O relatório final pediu o indiciamento de 28 pessoas, por crimes como sonegação fiscal e corrupção ativa. Para Paulo Pimenta, a diferença entre as CPIs da Câmara e do Senado “é o momento político, o avanço das investigações, a explicitação mais clara do esquema”.

No entanto, acrescenta, “permanece idêntica a disposição de parlamentares que compunham na época o bloco de oposição (ao governo Dilma) de tentar politizar os debates e atrair esse debate para um tema que não diz respeito ao Carf, no caso, o filho do presidente Lula”.

Pimenta diz que a CPI da Câmara “pode ir mais além” do que a do Senado. A definição do prazo de encerramento pode sair na reunião de hoje.