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Menos explosivo, Cunha já não cogita pauta bomba na Câmara e cala sobre Lava Jato

Presidente da Câmara dos Deputados negou que tema a perda de poder e influência e que separa bem a posição de presidente da Casa da militância partidária

Moacyr Lopes Júnior/Folhapress

Parlamentar negou temer a perda de poder ou influência na Câmara por conta do suposto envolvimento de seu nome na Lava Jato

São Paulo – O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) demonstrou hoje (27), em São Paulo, cautela em relação a temas polêmicos, como seu papel na presidência da Câmara dos Deputados, declarações anteriores de que iria “explodir o governo”, a questão do afastamento da presidenta Dilma Rousseff, defendido por setores da oposição, e sobre a Operação Lava Jato. Parte das bancadas na Câmara trabalha com a possibilidade de Cunha ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em agosto.

Questionado se a citação de seu nome como denunciado ameaçaria o cargo de presidente da casa, o deputado afirmou que não fala sobre o tema. “Toda palavra sobre a Lava Jato, procure o dr. Antonio Fernando de Souza.” Cunha explicou que o advogado o orientou a proceder dessa maneira. “Porque eu falo demais”, disse. Cunha participou de “almoço-debate” promovido pela agência Lide, com a participação de cerca de 500 empresários.

O parlamentar negou temer a perda de poder ou influência na Câmara por conta do suposto envolvimento de seu nome na Lava Jato. “Não fui eleito nem pelo governo nem pela oposição, fui eleito pela maioria do Parlamento.”

O presidente da Câmara preferiu a cautela ao ser indagado sobre o impeachment de Dilma Rousseff, pretendido por setores da oposição, e afirmou que vai manter uma postura coerente com seu cargo. “O presidente da Câmara não vota (nessa matéria). Se eu não voto, não preciso ter um posicionamento. Mesmo que tivesse, e não tenho, não diria. Separo bem a posição de presidente da Câmara da minha militância partidária”, declarou em entrevista coletiva à imprensa.

Aos empresários, disse que “o impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral”. “Existem os fundamentos na Constituição Federal. É um processo complexo. Vou tratar todos (os pedidos que houver) de forma técnica. Se houver fundamento, vai ser analisado, considerando os fundamentos técnicos e jurídicos, como deve ser.”

O deputado ficou levemente irritado ao responder as perguntas sobre a defesa, por parte do PT de Minas, de seu afastamento da presidência da Câmara. “O PT é meu adversário, todos sabem disso. O PT pedir minha destituição só me dá alegria. Se pedissem minha permanência talvez eu tivesse errado”, disse. “O mesmo princípio que têm comigo devem ter com todos os quadros deles, porventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa com relação a mim deviam começar pedindo afastamento de ministros. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment”, atacou.

Sobre a apreciação, pelo TCU, no caso das chamadas “pedaladas fiscais” nas contas de 2014 do governo Dilma, disse que as pessoas precisam “saber o que se passa para não gerar expectativas e frustração”. O parlamentar explicou que o TCU é um órgão subordinado ao Legislativo e não tem competência para adotar medidas concretas contra o mandato de presidente da República.

Também demonstrou irritação ao comentar a informação, divulgada pelo colunista Fernando Rodrigues (Folha de S. Paulo), segundo a qual o PMDB discute internamente eventuais possíveis substitutos na presidência da Câmara, caso seja denunciado.

“É a opinião de um colunista que foi muito bem desmentido. Eu não vou discutir esse assunto, esse assunto não está em discussão. Eu nem fui eleito pelo PMDB, fui eleito pela Câmara. Eventualmente aqueles que fizeram oposição na minha eleição vão continuar fazendo a qualquer tempo. É um direito deles.”

O parlamentar mencionou nota divulgada pelo deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), na sexta-feira (24). “A bancada do PMDB soltou uma nota dura em minha defesa, que eu nem pedi.” Na nota, em nome da bancada, Picciani diz que o partido não aceitará “especulações que visem a enfraquecer a autoridade institucional do presidente da Câmara”. A nota invocou o princípio constitucional da presunção de inocência para dizer que “não existe julgamento sumário”.

Eduardo Cunha disse ainda aos jornalistas que não trabalha por uma “pauta bomba”, nem para o Brasil ser “rebaixado” pelas agências de risco. “O pior desastre que poderia acontecer seria o Brasil perder grau de investimento. Por isso, a Câmara aprovou o ajuste fiscal.”

Mesmo assim, garantiu que a casa vai instalar “duas ou três CPIs” contrárias aos interesses do governo, sobre BNDES e fundos de pensão. “Dizem que vai ser retaliação. Mas não tem retaliação.” Segundo ele, a instalação das comissões é baseada no regimento e na “fila” dos pedidos de CPIs que aguardam ser criadas e instaladas.

PMDB e governo

O deputado foi perguntado por que o PMDB não sai do governo. “Porque não tem uma posição partidária em contrário”, respondeu. Ele lembrou que na convenção realizada no ano passado a legenda aprovou, por 59% a 41% dos votos, a manutenção da aliança com o governo Dilma. “Eu votei pela aliança. Já não voto mais. Não estou trabalhando para tirar o PMDB do governo. Vou trabalhar nas instâncias partidárias defendendo minha posição (contrária à manutenção do partido na base). Vou continuar a minha militância.”

Seu rompimento com o Palácio do Planalto, considerado de ordem pessoal pelo partido, se deu como necessidade de se defender, afirmou. “Defendi minha posição pessoal. Se me acovardasse e não reagisse ia ser uma atrás da outra.”

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