Apelo à paz

‘Não é possível que o mundo gaste por ano US$ 2,2 trilhões em armas’, diz Lula

Em conferência dos países do Caribe, Lula criticou a guerra na Ucrânia e voltou a chamar de “genocídio” a ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Em vez de armas e guerras, mundo deveria concentrar esforços no combate à fome e à crise climática, afirmou Lula

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou nesta quarta-feira (28) os gastos globais com armas. Para ele, as nações deveriam concentrar seus investimentos no combate à crise climática e à fome. Em seu discurso no encerramento da 46ª Conferência de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom), na Guiana, Lula também criticou a guerra na “distante Ucrânia” e voltou a chamar de “genocídio” a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza.

“Não é possível que o mundo gaste por ano US$ 2,2 trilhões em armas. Todos sabemos que guerras provocam destruição, sofrimento e mortes, sobretudo de civis e inocentes”, afirmou o presidente. “O Brasil seguirá lutando pela paz mundial”, destacou.

“Uma guerra na distante Ucrânia afeta todo o planeta, porque encarece os preços dos alimentos e dos fertilizantes”, disse Lula. “Um genocídio na Faixa de Gaza afeta toda a humanidade, porque questiona o nosso próprio senso de humanidade. E confirma uma vez mais a opção preferencial pelos gastos militares, em vez de investimentos no combate à fome na Palestina, na África, na América do Sul ou no Caribe”.

Ele ressaltou que a insegurança alimentar ameaça metade da população caribenha. A mudança climática, por outro lado, afeta todo o planeta. São dois problemas, segundo o presidente, que estão no centro dos debates do Brasil nos fóruns internacionais. E que tem a mesma raiz: a desigualdade.

“Não é possível que num planeta que produz comida suficiente para alimentar toda a população mundial, cerca de 735 milhões de seres humanos não tenham o que comer. Não é possível que os países ricos, principais responsáveis pela crise climática, continuem descumprindo o compromisso de destinar US$ 100 bilhões anuais aos países em desenvolvimento, para o enfrentamento da mudança do clima”.

Caribe espera mais do Brasil

Em sua fala, Lula afirmou que sabe que a Caricom “espera muito mais do Brasil”. Composta por 15 países, a Comunidade do Caribe tem população de cerca de 19 milhões de pessoas, em área territorial do tamanho do estado de Mato Grosso do Sul. De acordo com dados do governo brasileiro, o comércio com o bloco saltou de US$ 1 bilhão para US$ 2,6 bilhões nos dois últimos anos.

Para ele, o principal obstáculo na ampliação da integração entre o Brasil e os países da Caricom é a falta de conexões. “Ouvi da primeira-ministra Mia Motley que Barbados tem 27 voos semanais para o Reino Unido e para os Estados Unidos e nenhum para o Brasil”.

O intuito segundo o presidente, é “pavimentar” o caminho até o Caribe, de modo a contribuir para a segurança alimentar da região. Ele afirmou que o Brasil tanto pode exportar alimentos a preços competitivos, como contribuir para o fortalecimento da agricultura local.

Disse ainda que a Caricom vem se abrindo à integração com países da América do Sul, rejeitando a condição de “zona de influência” de outras potências. “Temos o desafio de manter a autonomia em meio à rivalidade geopolítica. Cabe a nós manter a região como zona de paz”, afirmou.

Cúpula da Celac

Amanhã Lula viaja para Kingston, capital do pequeno país insular caribenho de São Vicente e Granadinas, para participar da abertura da 8ª cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Apesar de ser um dos países fundadores da Celac, o governo Bolsonaro abandonou a comunidade, composta por 33 países. A reintegração ao bloco foi uma das primeiras medidas de política externa do presidente Lula no início de 2023, ao assumir o terceiro mandato.