Na Argentina, Dilma assina acordos e reforça papel da mulher

Primeira viagem internacional tem agenda tomada por questões econômicas, políticas e na área de direitos humanos

Dilma é recebida pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na Casa Rosada, em Buenos Aires (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – Em sua primeira viagem internacional após assumir o mandato, a presidente da República, Dilma Rousseff, manteve uma agenda com desdobramentos econômicos, políticos e na área de direitos humanos.

A visita à Argentina permitiu o primeiro encontro com a presidente daquele país, Cristina Kirchner, e serviu para a assinatura de uma série de acordos bilaterais. As duas nações firmaram cooperação na área nuclear e se comprometeram a iniciar, em 2012, a construção de uma hidrelétrica conjunta, a de Garabi. Outra parceria prevê a construção de uma ponte ligando Santa Catarina ao país vizinho.

No discurso realizado na Casa Rosada, sede do governo argentino, Cristina e Dilma destacaram as lutas das mulheres e os trabalhos realizados pelos antecessores, Néstor Kirchner, falecido no ano passado, e Luiz Inácio Lula da Silva. “Para nós, duas mulheres eleitas pelo voto direto da população, assumimos nosso papel de garantia da participação de gênero”, ressaltou a brasileira, que na sequência se encontrou com os grupos Mães da Praça de Maio e Avós da Praça de Maio.

A reunião foi um pedido da brasileira, interessada em conhecer a experiência das mulheres que há décadas lutam pela localização dos corpos de vítimas da última ditadura militar (1976-83) e pela punição dos agentes da repressão. Estela de Carlotto, presidente da Avós da Praça de Maio, evitou fazer comparações entre os casos argentino e brasileiro – no país vizinho, vários militares foram punidos, inclusive ex-presidentes – e afirmou que cada nação deve seguir seu ritmo. “Compartilhamos com ela a história de seu país, ela que foi vítima da ditadura militar brasileira e sabe o que fala quando o tema é direitos humanos. Dilma fez a gentileza de pedir o encontro e compartilhamos com ela nossas histórias de vida, de luta, de busca da verdade.”

Cristina Kirchner, por sua vez, elogiou a atitude da brasileira em solicitar a audiência. “É um gesto que a distingue como mulher, como política, como mãe e como sujeito histórico da América do Sul.”

Para ir à Argentina, Dilma deixou para o segundo semestre convites dos Estados Unidos e de nações europeias. A viagem é vista como a reafirmação de que será mantida a política do governo anterior, de priorizar as relações com os países emergentes. “Devemos transformar o século 21 em século da América Latina”, pontuou Dilma. Ao mesmo tempo, a visita coloca no plano simbólico as questões de gênero e da revisão dos crimes cometidos por ditaduras com os encontros, respectivamente, com Cristina e com entidades de direitos humanos.

A próxima viagem internacional de Dilma deve ocorrer na metade de fevereiro, quando participará da cúpula entre a América do Sul e os países árabes, no Peru. A reunião ganhou novo significado devido ao clima de agitação política nas nações norte-africanas e do Oriente Médio, nas quais a população vem contestando antigos regimes ditatoriais.