Oriente Médio

Itamaraty defende fronteiras delimitadas entre Israel e Palestina. ‘Conflito não é fato isolado’, diz Amorim

Para assessor especial de Lula e ex-chanceler Celso Amorim, conflito vem depois de “anos e anos” de tratamento discriminatório, de violências, na Faixa de Gaza e Cisjordânia

Reprodução/Redes Sociais e Antonio Cruz/ABr (detalhe)
Reprodução/Redes Sociais e Antonio Cruz/ABr (detalhe)
“Infelizmente, os governos que vieram depois (de 2007), em Israel, deixaram de lado o processo de paz"

São Paulo – O Ministério das Relações Exteriores e o chanceler Mauro Vieira se pronunciaram nesta segunda-feira (9) sobre a guerra no Oriente Médio. O mais grave conflito em 50 anos na região foi iniciado no sábado (7) após ataque de grandes proporções do grupo islâmico Hamas a Israel. “Todos deveriam imediatamente interromper a violência e exercer o máximo de autocontenção para evitar que a situação escale ainda mais”, afirmou o ministro em visita a Jacarta, na Indonésia.

A guerra declarada já matou mais de 1.200 pessoas, incluindo os dois lados. “A atual dinâmica entre Israel e Palestina é insustentável, e uma solução é necessária para essa situação, com Israel e Palestina convivendo em paz e segurança e com fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, acrescentou Vieira depois de se reunir com a chanceler indonésia, Retno Marsudi.

Antes da fala do titular do Itamaraty, o ex-ministro Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, ponderou, ontem (8), que o ataque a civis deve ser condenado. Mas que o atual conflito é consequência da violência israelense contra o povo palestino. O conflito “não pode ser visto como um fato isolado”, disse Amorim. “Vem depois de anos e anos de tratamento discriminatório, de violências, não só na própria Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia.”

Cisjordânia é ocupada há duas décadas

Respeitado no meio diplomático mundial, Amorim lembrou que a Cisjordânia é alvo de constantes ataques do Estado de Israel, como ao campo de refugiados de Jenin, em julho, que deixou pelo menos dez palestinos mortos e 50 feridos. A Cisjordânia, território historicamente palestino, é ocupada há quase 20 anos pelo Estado sionista.

“Isso (o ataque do Hamas) não justifica, volto a dizer, mas o que eu vejo é que o resultado dessa atitude, do aumento dos assentamentos israelenses, é a dificuldade de avançar no plano de paz”, afirmou Amorim. Ele citou a conferência de Anapolis (Estados Unidos), em 2007, quando houve uma “perspectiva de paz” na região, que foi depois desperdiçada.

“Infelizmente, os governos que vieram depois, em Israel, deixaram de lado o processo de paz, fizeram vários ataques a Gaza, aumentaram os assentamentos, e tudo isso acabou gerando essa situação”, acrescentou Amorim.

Naquela época os líderes da Palestina, Mahmoud Abbas, e Ehud Olmert, de Israel, assinaram documento conjunto em que afirmaram ao final da conferência: “Nós concordamos em lançar imediatamente negociações bilaterais de boa fé a fim de concluir um tratado de paz, resolver todas as questões pendentes, incluindo todas as questões centrais sem exceção” (leia o documento aqui).

Reunião do Conselho de Segurança

Atual presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil convocou os membros do órgão para discutir o conflito palestino-israelense ontem. Entretanto, a reunião, que aconteceu a portas fechadas, se encerrou sem declaração final.

O embaixador brasileiro na ONU, Sérgio Danese, disse à CNN que o objetivo da reunião teve a “tônica de refletir sobre a necessidade de se voltar para um processo negociador o mais rápido possível”.