Reflexos

‘Eleição mostra insatisfação com os governos na Europa’, diz analista

Segundo o jornalista e analista político Flávio Aguiar, a crise econômica deflagrada com a guerra da Ucrânia desgasta os governos, em especial os que apoiam o conflito

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Olaf Scholz, Volodymyr Zelensky, Ursula von der Leyen e Emmanuel Macron, entre outros, em reunião da Comissão Europeia: Apoio à guerra desagrada eleitor europeu

São Paulo – Existe uma enorme insatisfação do eleitor com todos os governos dos países da Europa segundo o jornalista e analista político Flávio Aguiar. Em participação no programa Bom para Todos desta segunda-feira (10), ele conversou com a jornalista Talita Galli, da TVT, sobre as eleições para o Parlamento Europeu, disputadas em todos os 27 países que compõem a União Europeia, entre quinta-feira (6) e domingo (9).

“Todos os governos sofreram algum retrocesso. Embora as eleições para o Parlamento Europeu não sejam decisivas para o país, são um termômetro muito sensível do que vai acontecer no continente daqui pra frente”, disse Aguiar.

A insatisfação, segundo ele, tem origem principalmente devido à crise econômica na Europa trazida pela guerra da Ucrânia. E está sendo sentida atualmente na Alemanha e na França. “Os blocos hoje no poder nesses países estão sentindo. Mas se olharmos em um quadro geral, podemos dizer que existe uma grande insatisfação na Europa com todos os governos.”

Alemanha e França apoiam Ucrânia na guerra contra Rússia

No final de maio, Berlim e Paris divulgaram um comunicado conjunto sobre a cooperação militar com a Ucrânia. O presidente francês Emmanuel Macron visitou o chanceler alemão, Olaf Scholz, e, juntos, declararam apoio e encorajaram ataques ucranianos contra a Rússia. E afirmaram que o país deve organizar ofensivas militares porque o governo russo promove ataques contra seu território.

Segundo Flávio Aguiar, que vive na Alemanha, a situação no país “é de extremo risco”. Ele se referiu à expectativa de avanço da extrema direita a julgar pela performance do partido AfD (Alternativa para a Alemanha, em alemão), que obteve seu maior resultado, com 15,9% dos votos, o segundo lugar atrás dos conservadores da CDU/CSU. Já a coalizão governista liderada pelo partido de Scholz, o SPD, obteve 13,9% dos votos, o pior resultado em uma eleição nacional desde 1949.

“A ADF cresceu muito, principalmente na região da antiga Alemanha Oriental. E tem fato preocupante: por desilusão com o sistema político e a crise econômica, o jovem, sobretudo deste região, tem aderido à extrema direita. E votando cada vez mais na extrema direita. A situação é de extremo risco”, disse.

Avanço da direita na Europa

Na França, destacou, Macron venceu em 2022 a oponente Marine Le Pen, de extrema direita, graças aos votos dos eleitores da esquerda. “Será que isso vai acontecer de novo? Não sei. O primeiro turno está previsto agora para o final de junho. E essa eleição vai nos dizer mais ou menos como será o desenho, se a Le Pen vai se fortalecer. Tudo vai depender se ela vai conseguir fazer alianças”, disse.

O avanço da direita na Europa, no entanto, não se confirmou nos países nórdicos, onde avançaram candidatos dos partidos de esquerda e ecologistas, todos com origem em movimentos comunistas. Na Finlândia, a ecossocialista Aliança de Esquerda obteve 17,3% dos votos, com mais de 99% dos votos apurados. Um aumento de 10,4 pontos percentuais sobre as eleições de 2019, garantindo três dos 15 assentos do país no Parlamento Europeu.

A sigla fundada em 1990 pela Liga Democrática do Povo Finlandês, conhecida como uma das maiores esquerdistas da Europa capitalista, tem como objetivos a justiça social e econômica, com desenvolvimento sustentável. Já o Partido Finlandês, de extrema direita, parte do atual governo de coalizão, obteve apenas 7,6% dos votos. Isso representa queda de 6,2 pontos percentuais e apenas um assento no Parlamento.

Dinamarca

O Partido Popular Socialista dinamarquês ascendeu como o maior do país ao conquistar 17,4% dos votos. Ou seja, um aumento de 4,2 pontos percentuais em relação a 2019. Fundado em 1959, como cisão do Partido Comunista, visa à introdução pacífica do socialismo no país. E também a abolição das forças armadas. Já os social-democratas, que governam o país desde 2019, perderam 5,9 pontos percentuais. Obtiveram 15,6% dos votos, conforme as apurações.

Suécia

O Partido Verde cresceu, tornando-se o terceiro maior da Suécia, com 13,8% dos votos. Um aumento de 2,3 pontos percentuais desde 2019. O Partido de Esquerda também avançou, chegando a conquistar 11% dos votos, uma alta de 4,2 pontos percentuais.

Fundado em 1980, durante movimento anti-energia nuclear, o Partido Verde teve origem no descontentamento com as políticas ambientais das siglas então existentes. Entre 2014 e 2021 integrou o governo liderado pelos social-democratas. Mas abandonou após aprovação do orçamento das siglas da oposição conservadora para 2022 pelo Parlamento sueco (Riksdag), que não aprovou o do próprio governo.

Por sua vez, o Partido de Esquerda, considerado sigla ecossocialista, nasceu da cisão dos social-democratas, em 1917, e se consolidou na época como o Partido de Esquerda Social-Democrata Sueco. Isso porque o então Partido Social-Democrata não apoiou a revolução bolchevique de 1917, na Rússia. E também porque muitos de seus membros se opunham à cooperação com os liberais e se mostravam favoráveis ao aumento do militarismo.

A expectativa era que o partido anti-imigração Democratas Suecos, que sustenta o governo de Ulf Kristersson, ultrapassasse o conservador Partido Moderado. E se tornasse o segundo maior. Mas, segundo a agência APF, o partido “perdeu terreno pela primeira vez numa eleição em sua história”. E obteve 13,2% dos votos, uma queda de 2,1 pontos percentuais desde 2019.

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Redação: Cida de Oliveira – Edição: Helder Lima