Argentina: polícia reprime com violência protesto por comida
Manifestantes reclamavam da falta de alimentos nos “comedores comunitários” em função dos cortes promovidos por Milei, quando foram atacados ao bloquearem a Avenida 9 de Julho
Publicado 10/04/2024 - 18h44
São Paulo – Policiais usaram balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio e caminhões com jatos d’água para reprimir violentamente um protesto por comida, nesta quarta-feira (10), em Buenos Aires, capital da Argentina. Convocada por organizações sociais e sindicais, a marcha reivindicava o envio de alimentos aos “comedores comunitários”, que atendem a população carente. O governo do presidente ultradireitista Javier Milei cortou recursos dos programas de combate à fome.
Centenas de manifestantes se concentravam nos arredores do Ministério de Capital Humano. Eles pretendiam caminhar até o Ministério da Economia. A marcha se desenrolava pacificamente, quando as forças federais e da capital iniciaram os ataques. Isso porque o protesto chegou a fechar trechos da Avenida 9 de Julho, a principal do país.
Como resultado, a ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, ativou o “protocolo antiprotesto” que impede o trancamento de vias. A partir daí, as ruas do entorno viraram cenário de corre-corre, gritaria e pessoas ensanguentadas por conta das agressões dos policiais. Entre os feridos está um jornalista do canal argentino Crónica TV. Ao menos 11 manifestantes foram presos.
Participavam da manifestação integrantes da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina (CTA) e da União de Trabalhadores da Economia Popular. Do mesmo modo, estavam presentes participantes de movimentos como o Polo Obrero e a Corrente Classista e Combativa (CCC). Além da falta de alimentos nos restaurantes comunitários, eles também protestavam contra as milhares de demissões.
Cenas de violência
O canal América 24 registrou quando um policial chutou e golpeou pelas costas uma mulher que participava do protesto.
La patada por la espalda a una señora que estaba con las bolsas de las compras y no tenía nada que ver. No hay manera de justificar este "protocolo" pic.twitter.com/hTUzvamaVb
— Arrepentidos de Milei (@ArrepentidosLLA) April 10, 2024
Além disso, em outra cena, é possível ver as forças de repressão lançando jatos d’água em um grupo que prestava socorro a um jovem caído no chão.
Brutal represión en 9 de Julio. Hay heridos. Un chico sufriendo una convulsión en el piso y le seguían tirando con el camión hidrante. Todo se desarrollaba pacíficamente hasta que llegó la policía pic.twitter.com/6Y0IqmmRoC
— Arrepentidos de Milei (@ArrepentidosLLA) April 10, 2024
“Estamos realizando uma nova jornada de protestos de surpresa em todo o país contra a perversidade e o brutal ajuste do governo Milei sobre os pobres”, disse o coordenador nacional da CCC, Juan Carlos Alderete, em entrevista ao portal Somos Télam, que agrega jornalistas da antiga agência estatal do governo, que fechou no mês passado. “Estamos mobilizados pelos milhões que têm fome na Argentina, pelos desempregados e aposentados que têm fome”, acrescentou.
As demissões, cortes em programas sociais e congelamento das aposentadorias fazem parte do plano “motoserra” de Milei, que tem por objetivo equilibrar as contas públicas argentinas. Além disso, o atual governo também vem adiando os pagamentos de energia e repasses para as províncias. Nesse sentido, o professor titular do Bacharelado em Ciências Econômicas e da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) Ramon Garcia-Fernandez afirmou à RBA que classifica como “picaretagem” os superávits que o país registrou nos últimos dois meses.
Alberto Fernandéz investigado
Em meio à crise social e a nova onda de protestos, a Justiça da Argentina ordenou nesta terça-feira (9) o bloqueio de bens e a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-presidente Alberto Fernández. A decisão do juiz federal Julián Ercolini também inclui ao menos outras 32 pessoas que estão envolvidas no chamado escândalo dos seguros. Pesa contra Fernández a acusação de desvio de verbas por meio da contratação irregular de seguros para empregados públicos.