Opera Mundi – A agência de notícias norte-americana Associated Press colaborou com o regime nazista da década de 1930, revelou uma pesquisa da historiadora alemã Harriet Scharnberg, publicada ontem (31) no portal alemão de estudos em história contemporânea Zeithistorische Forschungen. A AP nega as acusações.

A AP foi a única agência internacional que continuou operando na Alemanha após a chegada do partido de Hitler ao poder, em 1933. O veículo funcionou no país até 1941, quando os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial. Segundo Scharnberg, isso ocorreu porque a agência estabeleceu um acordo de cooperação com o partido nazista.

A historiadora argumenta que a AP assinou a Schriftleitergesetz (lei dos editores), que exigia que os veículos prometessem não publicar nenhum material “que enfraquecesse a imagem ou a força do Reich no cenário internacional e nacional”.

A lei ainda exigia que a agência contratasse repórteres que também trabalhassem para o Ministério da Propaganda do partido. Um deles foi o fotógrafo Franz Roth, cujas fotos eram escolhidas pelo próprio Hitler antes de serem publicadas. Após a divulgação da pesquisa de Scharnberg, a AP removeu as fotos de Roth de sua página, de acordo com o The Guardian.

O veículo ainda publicou brochuras de propaganda da SS, como a “Der Untermensch” (“O sub-humano”) e o livreto “Os judeus nos EUA”, que visava demonstrar a “decadência dos judeus norte-americanos” por meio de uma imagem do prefeito de Nova York na época, Fiorello LaGuardia, comendo com as mãos.

“É justo dizer que as fotos publicadas pela AP tiveram seu papel em disfarçar o caráter verdadeiro da guerra travada pela Alemanha”, disse Scharnberg ao Guardian.

Um porta-voz da AP, entretanto, disse ao jornal inglês que a agência “rejeita qualquer afirmação de que tenha ‘colaborado’ deliberadamente com o regime nazista”.

“Uma caracterização mais precisa é a de que a AP e outros veículos internacionais estiveram sob pressão intensa do regime nazista até a expulsão da agência em 1941. A gerência da AP resistiu à pressão enquanto trabalhava para coletar notícias precisas, vitais e objetivas durante uma época perigosa”, concluiu o porta-voz.