‘Uma quadrilha está prestes a assaltar o povo paraguaio’, diz líder de frente pró-Lugo

Porto Alegre – Subsídios aos grandes produtores de soja, manutenção de terras nas mãos de grileiros, acordo com uma multinacional do alumínio e privatizações. Assim, Ricardo Canese resumiu os primeiros […]

Porto Alegre – Subsídios aos grandes produtores de soja, manutenção de terras nas mãos de grileiros, acordo com uma multinacional do alumínio e privatizações. Assim, Ricardo Canese resumiu os primeiros passos do governo de Federico Franco. Secretário-geral da Frente Guasú, que reúne mais de dez partidos de esquerda do Paraguai, Canese não mediu as palavras para qualificar os liberais e colorados oviedistas que hoje estão no poder: “É uma quadrilha que está prestes a assaltar o povo paraguaio”, disparou.

O dirigente partidário atendeu o Sul21, por telefone, na última quinta-feira (12). Revelou que a atual ação de inconstitucionalidade da destituição de Lugo, que tramita na Justiça paraguaia, é mera formalidade para que se possa recorrer a organismos internacionais. “A Corte está comprometida com os golpistas”.

Canese conversou por mais de meia hora com a reportagem e também falou sobre as estratégias da esquerda para as eleições presidenciais do ano que vem, bem como as ações de resistência. O secretário-geral da Frente Guasú (guasú, em guarani, quer dizer “ampla”) também rechaçou que houvesse má relação entre o Governo Lugo e os brasiguaios e disparou contra o latifundiário catarinense, naturalizado paraguaio, Tranquilo Favero, a quem definiu como “amigo de Stroessner”.

Como o senhor avalia o informe do secretário-geral da OEA (José Miguel Insulza), que considerou constitucional a destituição de Lugo?

Na prática, o informe do senhor Insulza foi rechaçado pela assembleia da OEA. A organização não aprovou este informe. Ao contrário, a assembleia disse que as chancelarias vão aprofundar os estudos sobre o Paraguai. Então, diplomaticamente se entende que há um rechaço do informe de Insulza, por ser absolutamente insuficiente, por não refletir o que Mercosul, Unasul e SICA (Sistema de Integração Centro-Americana) assinalaram como uma quebra do Estado de Direito, um atentado contra a Constituição, uma destruição da democracia. São três blocos da América Latina que se manifestaram muito claramente. A OEA deixou de lado o informe de Insulza e instou as chancelarias analisem com mais profundidade o tema.

O senhor ainda crê que é possível reverter a destituição de Lugo?

É o mais sensato revertê-la. A democracia se constrói com democracia, não com golpes de estado. Por isto é que é chamativo que alguns setores da OEA e, particularmente, Estados Unidos e Canadá, que têm interesses muito fortes pela América Latina, estejam tratando de minimizar o golpe de estado. É lamentável que alguns países que se dizem democráticos queiram avalizar um golpe de estado. Não houve apresentação de provas. Os próprios parlamentares que acusaram disseram que não apresentariam provas. Eu não sei como se pode julgar alguém sem apresentar provas. Como se pode julgar alguém se não há um devido processo? Se elaborou o regulamento do julgamento depois da acusação. Nossa Constituição é muito clara: a lei tem que ser prévia à acusação, não se pode acusar uma pessoa e fazer uma lei especial para a pessoa acusada. Isto é gravíssimo, é um atentado contra os direitos humanos e aos direitos constitucionais. Ademais, não se permitiu direito à defesa. Enfim, tudo foi ilegal e inconstitucional.

O senhor tem esperança de que a Corte Constitucional reverta a destituição?

A Corte está comprometida com os golpistas, não temos nenhuma esperança. Mas apresentamos a ação de inconstitucionalidade para que, se rechaçarem, como é previsível, possamos recorrer a instâncias internacionais. É uma Corte que não apenas avalizou o golpe de estado, mas avalizou o roubo de terras mal havidas. Quando nosso governo e governos anteriores, inclusive, quiseram recuperar as terras roubadas do Estado, roubadas do povo paraguaio, disseram que o Estado deveria receber apenas as custas judiciais. Esta é a Corte Suprema que temos. Uma Corte que protege os ladrões de terras públicos, os grandes narcotraficantes, os grandes sonegadores de impostos. O Governo Lugo tentou mudar esta situação e o golpe de estado vem justamente para, como disse o presidente uruguaio José Mujica, que o narco-coloradismo volte a imperar como imperou durante setenta anos. Esta é a essência deste golpe de estado que foi gestado pelo Partido Colorado com a participação dos liberais.

Confira a entrevista completa no Sul21.

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