Razões Humanitárias

Diplomata brasileiro na Bolívia assume ter coordenado fuga do senador boliviano

Eduardo Saboia alegou que senador estava tendo seus direitos humanos 'violados' em refúgio na embaixada e que, por isso, não precisava de autorização do Itamaraty para agir

Arquivo EFE

Roger Pinto Molina permaneceu na embaixada brasileira por quase 15 meses

São Paulo – O diplomata brasileiro Eduardo Saboia, encarregado de negócios do Brasil em La Paz (cargo equivalente a embaixador interino), assumiu na noite de ontem (25), em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, a responsabilidade de ter coordenado a operação que trouxe ao Brasil o senador boliviano Roger Pinto Molina, realizada durante a última semana.

Tudo teria ocorrido sem a anuência do Ministério das Relações Exteriores, que também ontem emitiu nota dizendo que convocou Saboia a Brasília para prestar esclarecimentos. “Não preciso de instruções específicas para situações de urgência”, justificou. Para Saboia, a decisão da saída forçada de Molina era necessária em razão “do risco iminente à vida e à dignidade do senador”. O Itamaraty afirmou que não comentará as declarações.

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Um dos líderes da oposição a Evo Morales, Molina havia se refugiado em 28 de maio de 2012 na representação diplomática do Brasil em La Paz alegando ser perseguido politicamente pelo governo – ele enfrenta mais de 20 processos por crimes comuns na Bolívia, já tendo sido condenado em um deles. Brasília aceitou seu pedido de asilo político e a Bolívia se recusava a conceder o salvo conduto para que ele pudesse cruzar a fronteira, gerando todo o impasse por 452 dias.

Molina saiu da representação diplomática às 15h da última sexta-feira (23), em um comboio de dois carros oficiais: o da frente era composto por fuzileiros navais e era responsável por fazer a segurança do outro veículo; o segundo trazia o senador e Saboia. Em uma viagem de 22 horas, foram percorridos 1.600 km até o destino final, em Corumbá (MS). De lá, Pinto Molina seguiu de avião para Brasília, onde foi recepcionado pelos senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) no domingo (25).

Segundo Saboia, “havia uma violação constante, crônica de direitos humanos, porque não havia perspectiva de saída, não havia negociação em curso e havia um problema de depressão que estava se agravando. Tivemos que chamar um médico e ele começou a falar em suicídio, ele dizia constantemente que queria que nós o tirássemos de lá e advogados dele também dizendo isso”, afirmou o diplomata brasileiro.

Ele culpou o Itamaraty por não se empenhar devidamente na questão, mesmo tendo pedido providências por duas vezes – o diplomata diz ter pedido sua saída do cargo em razão do desgaste causado pela presença de Molina. Saboia disse que o Ministério de Relações Exteriores pediu para que ele não desse declarações logo que chegou ao Brasil com o político boliviano, mas que mudou de ideia após o órgão soltar uma nota mencionando seu nome.

Resta agora saber a condição legal de Pinto Molina no Brasil. Segundo a ministra boliviana da Comunicação, Amanda Davila, se Pinto não está mais na Bolívia, ele deixaria de ter status de refugiado e passaria a ser considerado “foragido da Justiça, sujeito à extradição”. Segundo ela, a ida do senador ao Brasil não afetará as relações com o vizinho. “As relações entre a Bolívia e o Brasil são mantidas em uma situação de absoluta cordialidade e respeito”, disse a ministra, numa conferência de imprensa no Palácio de Governo da Bolívia.

Ao chegar em Brasília, Pinto deu poucas declarações, mas também afirmou não saber qual será sua condição legal. “Espero que continue meu asilo, eu tenho asilo e espero que continue”, afirmou.