Continuidade

Apesar de rejeição a Cabral e flerte com Aécio, Pezão mantém PMDB no governo do Rio

Campanha cheia de peculiaridades teve Dilma no palanque de ambos os candidatos, dissidentes do PMDB migrando para a campanha do PSDB e lideranças de esquerda apoiando candidato ligado à Universal

Lucas Figueiredo/ Pezão 15

São Paulo – Luiz Fernando de Souza, o Pezão (PMDB), é o novo governador do Rio de Janeiro. Ele somou 55,78% dos votos válidos contra 44,22% de Marcelo Crivella (PRB) após campanha acirrada e cheia de peculiaridades: no primeiro turno, a definição dos dois candidatos a decidir as eleições arrastou-se até o último momento da disputa, e, no Legislativo, a cidade conseguiu mostrar-se mobilizada nos dois polos extremos da política: o deputado estadual mais votado foi Marcelo Freixo, do Psol, enquanto o deputado federal com maior votação foi Jair Bolsonaro (PP). No segundo turno, com Dilma Rousseff (PT) no palanque dos dois candidatos PMDB e PRB fazem parte da base aliada de Dilma –, acentuou-se também a parcela “rebelde” do PMDB que, apesar de sua coligação formal com o PT, bandeou-se na campanha de Aécio Neves (PSDB).

Pezão votou no final da manhã em uma escola pública de Piraí, município do qual foi prefeito por oito anos (1996/2004). Na saída, em poucas palavras dirigidas aos jornalistas, o governador afirmou que, no segundo turno, “procurou apresentar resultados e propostas”, mas foi “atacado o tempo todo” por Crivella: “Fizemos uma campanha propositiva. No segundo turno, eu apenas me defendi dos ataques que meu adversário fazia”, disse.

Crivella votou em Copacabana, na zona sul do Rio, e mais uma vez teve de responder aos jornalistas sobre o fato de os pastores da Igreja Universal do Reino de Deus terem pedido aos fiéis nos cultos de sexta (24) e sábado (25) que votassem no candidato do PRB: “Em todas as minhas campanhas, eu sempre peço que a igreja não faça política. Quem misturou política e religião nesta campanha foi o Pezão, que colocou vários pastores em sua propaganda eleitoral”, disse.

A campanha do segundo turno no Rio foi marcada pelas acusações mútuas e pela disputa entre os dois candidatos ao governo estadual pela companhia da presidenta Dilma Rousseff. Estimulado pelo movimento “Aezão”, comandado pelo presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, em prol da dobradinha entre Pezão e o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, Crivella tentou durante todo o segundo turno colar a pecha de “traidor” no adversário. Pezão, por sua vez, reafirmou por diversas vezes “fazer campanha dia e noite” pela reeleição da petista.

Dilma, que no primeiro turno chegou a ter quatro candidatos de sua base de apoio federal na disputa pelo governo do Rio – além de Pezão e Crivella, os candidatos Lindberg Farias (PT) e Anthony Garotinho (PR) –, no segundo turno optou pela neutralidade: “Pezão fez talvez a parceria mais estreita do governo federal com um governo estadual. Crivella sempre foi um senador que apoiou o governo e, como meu ministro, deixou um legado para a pesca no Brasil, que saiu do anonimato. Tenho um carinho especial por ambos”, disse a presidenta, durante sua última passagem pelo Rio antes da votação deste domingo.

Pezão conseguiu superar a grande rejeição de seu antecessor, Sérgio Cabral (PMDB), que deixou o governo com aprovação de apenas 20% da população: depois de surfar na popularidade dos atos públicos que convocou em defesa dos royalties do petróleo para o estado e do sucesso inicial das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a imagem de Cabral sucumbiu diante dos repetidos casos de abuso policial ocorridos nas comunidades pacificadas e com a rejeição à forma violenta como a Polícia Militar do Rio reprimiu os protestos de rua que tiveram início em junho de 2013. No Rio de Janeiro, as manifestações continuaram quase ininterruptamente até os meses anteriores à realização da Copa do Mundo, em 2014, e tiveram como alvo o governador em pessoa: muitas das manifestações eram realizadas em frente à residência de Cabral.

Nascido em março de 1955 no município fluminense de Piraí, Pezão formou-se em economia e administração de empresas pela Universidade Estácio de Sá. Iniciou sua carreira política no PDT, partido pelo qual foi eleito vereador de sua cidade natal em 1982. Dez anos depois, conseguiu um novo mandato. Em 1996, elegeu-se para a prefeitura do mesmo município e cumpriu dois mandatos consecutivos. Em 2005, foi nomeado subsecretário estadual de Governo e de Coordenação pela governadora Rosinha Matheus. Ainda naquele ano, filiou-se ao PMDB e, em 2006, foi lançado candidato a vice-governador na chapa de Sérgio Cabral.

Durante o primeiro mandato de Cabral, Pezão acumulou o cargo de secretário de Obras. Quatro anos depois, foi reeleito vice-governador e de imediato passou a ser tratado como sucessor, o que ocorreu em abril deste ano, quando o chefe do governo fluminense renunciou para dar maior exposição ao sucessor à frente do governo.

Leia também

Últimas notícias