Novos desafios

Setor automobilístico deve integrar projeto de desenvolvimento que considere demandas da população, aponta Dieese

Para o instituto, país precisa mudar sua politica macroeconômica e investir em um projeto liderado pelo Estado

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Para o Dieese, investir no crescimento do mercado interno e seguir as tendências tecnológicas globais 'abrem perspectivas positivas para o setor'

São Paulo – Uma política pública “que considere a relevância econômica e social do setor automotivo” é pertinente para um país com as dimensões do Brasil, aponta o Dieese em nota técnica sobre a questão da desindustrialização no país. Mas a ideia de uma indústria forte e de papel estratégico deve considerar, também, demandas estruturais da população, como transporte público urbano e qualidade do ar nas cidades. Considerando, assim, “um projeto de desenvolvimento que recoloque o Brasil entre as nações mais importantes do nosso planeta”.

Para o instituto, a pandemia e seu impactos econômicos reforçaram a importância do papel do Estado para processos de transferência de renda. “Evidenciou-se, por outro lado, a insuficiente atuação do Estado brasileiro no acionamento de instrumentos de política pública para fortalecer empresas e recuperar e mobilizar a indústria brasileira para atender às demandas sociais por um desenvolvimento virtuoso, com elevação da qualidade de vida de nossa população”, acrescenta o Dieese. “Investir no crescimento do mercado interno e seguir as tendências tecnológicas globais abrem perspectivas positivas para o setor automotivo brasileiro.”

Maturação, consolidação e crise

Na análise, o instituto aponta um “período de maturação” da indústria brasileira, entre 1930 e 1980. Com a consolidação de um “paradigma tecnológico” da chamada 2ª Revolução Industrial, com base nos segmentos metal-mecânico e químico. “Ainda que tardiamente, o Brasil conseguiu implantar um parque industrial integrado e diversificado, sobretudo ao longo das décadas de 1960 e 1970, com forte apoio e investimento estatal.”

Mas, mesmo com esse processo relativamente rápido, a produção nacional enfrentou crises nas décadas de 1980 e 1990. Períodos de instabilidade econômica causada, principalmente, por fatores externos. A um período de crescimento sustentado na segunda metade dos anos 2000, seguiu-se nova crise internacional.

Perda de dinamismo

“O resultado da perda progressiva e quase ininterrupta de dinamismo industrial nesse longo período foi a quebra de elos importantes da cadeia produtiva, redução de intensidade tecnológica, baixos investimentos em novas tecnologias, crescente desnacionalização dos componentes automotivos pelo aumento de importações, resultando em queda acentuada da participação da indústria de transformação no PIB, expondo as vulnerabilidades da estrutura produtiva brasileira”, destaca o Dieese. “A história mundial mostra que o desenvolvimento industrial tem sido objeto de ação intensa dos Estados nacionais, coordenando políticas, garantindo instrumentos de financiamento e articulando atores econômicos.”

A nota destaca iniciativas como a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE, 2003/2004), a Política de Desenvolvimento Produtivo (2008) e Plano Brasil Maior (2011), entre outros programas. “No período de 2001 a 2016, foram criadas ferramentas de desenvolvimento e apoio à indústria, como a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), além do reforço do Sistema Nacional de Inovação (SNI).” O texto cita ainda o Programa InovarAuto, de estímulo à produção local.

Vantagens competitivas

“O mercado interno brasileiro, de tamanho significativo e com potencial de crescimento, é um fator que pode contribuir para a permanência das montadoras no Brasil, assim como exercer atração de investimentos para o setor automotivo”, diz o Dieese. Um desafio que se tornou maior com a recente saida da Ford. O estudo ressalta vantagens competitivas como “um dos maiores mercados de consumo do planeta”.

“Para tornar efetivo o crescimento do mercado interno, é preciso mudar a política macroeconômica vigente, com o abandono do receituário neoliberal e sua substituição por um modelo de desenvolvimento nacional, liderado pelo Estado, com políticas que valorizem a criação de empregos de qualidade e a inclusão social, induzindo o investimento privado e o consumo das famílias” reforça o Dieese.

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