Rodovias necessitam de R$ 183 bilhões em investimentos

Estudo do Ipea critica sistema de contratos de concessões das rodovias brasileiras que não preveem ampliação da malha brasileira, apesar de prazos de 25 anos de concessão

Contratos de concessão não preveem ampliação da malha brasileira (Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

Brasília – As rodovias brasileiras necessitam de R$ 183,5 bilhões em investimentos para dar conta das demandas atuais. Deste total, apenas 13% estão contemplados pela primeira versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), segundo o estudo Rodovias Brasileiras: Gargalos, Investimentos, Concessões e Preocupações com o Futuro, divulgado na segunda-feira (24) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“Identificamos três categorias de gargalos. A primeira, relacionada ao campo de recuperação, adequação e duplicação, é a que mais demanda recursos: R$ 144,18 bilhões. Para construção e pavimentação serão necessários outros R$ 38,5 bilhões. E a terceira categoria está relacionada com o que chamamos, do ponto de vista da engenharia, de obras de arte. Estas, que envolvem obras como pontes e viadutos, carecem de R$ 830 milhões”, explica o coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea, Carlos Campos.

O estudo do Ipea só leva em consideração o PAC 1, que prevê investimentos de R$ 23,3 bilhões entre 2007 e 2010.
A segunda versão do programa prevê investimentos de R$ 50,4 bilhões entre 2011 e 2014, explica Carlos Campos

“O PAC cobre aproximadamente 13% das demandas identificadas, e apenas 7% no que se refere a recuperação e duplicação de vias”, avalia Campos. “O programa é um grande avanço em relação ao que vinha sendo feito, que era praticamente nada. Mas ainda é insuficiente em relação à degradação que houve na malha rodoviária brasileira, em consequência de 25 anos sem investimentos”, acrescenta.

Segundo o pesquisador, 70% das obras do programa ligadas a rodovias estão com o cronograma atrasado. “Parte dos atrasos da execução física dessas obras é justificada pelas paralisações do TCU [Tribunal de Contas da União]”, acrescenta.

Campos explica que o estudo do Ipea só leva em consideração o PAC 1, que prevê investimentos de R$ 23,3 bilhões entre 2007 e 2010. A segunda versão do programa prevê investimentos de R$ 50,4 bilhões entre 2011 e 2014.

Campos chama atenção para a necessidade de ampliação e duplicação das estradas prevista para os próximos anos, em decorrência do crescimento da economia. Isso, segundo ele, implica em aperfeiçoar o modelo de concessão de rodovias.

Modelo chileno

“Há inclusive problemas no sistema de contratos de concessão, que têm prazos de 25 anos e não preveem a ampliação da malha brasileira prevista para o período”, avalia. Ele sugere que, para amenizar esse tipo de problema, o país adote um sistema similar ao do Chile.

“No modelo chileno, a empresa diz qual é o total de receita necessário para cobrir os investimentos e a manutenção, além, é claro, do lucro. Ganha quem apresentar a menor receita, e o contrato se encerra no momento em que a receita se iguala ao total previsto de custos e de lucro. Ou seja: o aumento da receita, após a concessão, faria com que o contrato termine antes”, explica.

“Como sempre, as rodovias continuarão dependendo dos investimentos públicos, que, reforçados pelo PAC, tiveram crescimento superior a 500% entre 1999 e 2008”, disse o pesquisador.

Interesse privado

“No modelo chileno, a empresa diz qual é o total de receita necessário para cobrir os investimentos e a manutenção, além, é claro, do lucro. Ganha quem apresentar a menor receita, e o contrato se encerra no momento em que a receita se iguala ao total previsto de custos e de lucro. Ou seja: o aumento da receita, após a concessão, faria com que o contrato termine antes”, explica.

Ele acrescenta que apenas 15% das rodovias interessam ao setor privado. “Se considerarmos que 9% da malha já está com eles, vemos claramente que há um teto [de investimentos privados] muito próximo ao quadro atual”.

De acordo com o Ipea, há no Brasil 170 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Deste total, 61 mil quilômetros são de vias federais.

Segundo o estudo, os recursos destinados ao setor de transporte subiram, em termos proporcionais ao Produto Interno Bruto, de 0,38% em 1999 para 1,15% em 2008. Em termos de valor, isso equivale a um aumento de R$ 1,7 bilhão para R$ 33 bilhões. No caso específico do transporte rodoviário, o aumento médio foi de 70%, passando de R$ 1,1 bilhão para R$ 26,6 bilhões.

Fonte: Agência Brasil