Crescimento do PIB tem de ser o ‘meio’, não o ‘fim’, numa economia verde, diz especialista

No processo rumo a uma economia verde, Mário Manzoni, da FGV, defende que se deve usar modelos atuais de economia, mas com outros objetivos

São Paulo – A respeito das discussões sobre a concepção de economia verde, tema que norteia o debate da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento (a Rio+20), economistas do mundo e do Brasil debatem sobre como seria a transição para uma economia com traços sustentáveis, assim como sua aplicabilidade e eficiência. Ou, ainda, a falta delas. Para o coordenador do Centro de Estudos da Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mário Manzoni, o PIB, desde sua criação, nunca teve o propósito de medir desenvolvimento, porém, pode-se perfeitamente conviver com essa “equação”, mas com outros objetivos à frente.

“A gente lê nos jornais a preocupação sobre a equação do crescimento, de como se reduz IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para aumentar o consumo. Tudo gira em torno disso. Às vezes quando se entra em depressão financeira, o gasto público é importante com um fator anticíclico, assim como as exportações, que são como um vetor para maximizar o crescimento do PIB, como se ele fosse um fim para isso mesmo. A gente tem de fazer um reconhecimento público ao PIB porque ele nunca teve a intenção de medir desenvolvimento, mas sim consumo e produção”, analisou o economista em debate realizado ontem (28), na capital paulista, pela FGV, Vitae Civilis e Instituto Socioambiental (ISA) para discutir os rumos da Rio+20.

Manzoni acredita que quem resolveu usar o PIB como instrumento de medição do desenvolvimento econômico “fomos nós”. “A gente tem de mudar os nossos objetivos, tentando buscar um outro modelo de desenvolvimento sustentável”, defende.

O economista diz que o Brasil, assim como outros países, tem seu PIB calculado pelos níveis de consumo, e que esse modelo alcançou resultados benéficos para poucas pessoas e a um custo ambiental muito grande. “Precisamos olhar para esse modelo, não jogar fora o que tem há de bom, mas tentar trabalhar no sentido de incorporar outros aspectos. Aí surge uma agenda de economia verde”, disse. 

Para Manzoni, dentro de uma agenda verde, o setor empresarial pode e deve dar sua contribuição. “A respeito do sistema de oferta e demanda, é difícil acreditar que a oferta vá produzir resultados morais no sentido de caminhar sozinha à economia verde. Falo sobre mercado, não de política pública.”

O economista destaca também os indícios de sustentabilidade já sentidos na economia mundial, como é o caso de os consumidores já estarem mandando ao mercado sinais de que a partir de um determinado momento vão estabelecer um leque de condições socioambientais para o processo de decisão de compra.