alimento sem veneno

Famílias do MST preparam 20ª Festa da Colheita do arroz agroecológico

Evento que marca as duas décadas da produção orgânica terá lançamento de fábrica de bioinsumos. São esperadas 5 mil pessoas de assentamentos, acampamentos e apoiadores

Alex Garcia/MST
Alex Garcia/MST
MST é o maior produtor de arroz agroecológico da América Latina

São Paulo – Famílias produtoras e o grupo gestor do arroz orgânico do MST, no Rio Grande do Sul, preparam a 20ª edição da festa da colheita, em 17 de março. Esta será a maior de todas. Afinal, são duas décadas de produção livre de agrotóxicos de um alimento que está na base da dieta do brasileiro. Produção, aliás, que há 10 anos é a maior da América Latina, segundo o Instituto Riograndense de Arroz (Irga) – autarquia do governo estadual.

A festa será no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre, às 8h30. “Estamos muito felizes em poder convidar todos, todas e todes a comemorar a 20ª edição com a família do MST, pois é onde reunimos os agricultores, simpatizantes da reforma agrária popular e da bandeira da agroecologia. Nos orgulha muito poder dividir esse momento festivo e também partilhar a nossa produção de forma solidária com a sociedade gaúcha e brasileira”, disse Marildo Mulinari, da direção estadual do MST no RS.

Conforme o Grupo Gestor do Arroz Orgânico, a estimativa na safra 2022/2023 é colher 16.111 toneladas. Isso equivale a mais de 320 mil sacas de 50 quilos cada. Essa produção toda vem de áreas que somam 3.200 hectares. As principais variedades plantadas são de arroz agulhinha e cateto.

Líder na produção de arroz, MST não depende de agrotóxicos

O arroz é cultivado por 352 famílias em 22 assentamentos localizados em nove municípios das regiões Metropolitana, sul, centro-sul e fronteira oeste do estado. Esses produtores estão organizados em sete cooperativas da reforma agrária: Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes (Coopat), Cooperativa dos Produtores Orgânicos de Reforma Agrária de Viamão (Cooperav), Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentamentos de Charqueadas (Copac), Cooperativa Sete de Julho e Cooperativa Terra Livre.

Ao produzir o arroz conforme os princípios da agroecologia, as famílias assentadas se reafirmam como alternativa ao modelo de produção hegemônico. Isso porque o MST preza pela concepção de produção de alimento saudável para todos. Ou seja, em qualquer escala, oferecer alimentos nutritivos, sem agroquímicos, ao mesmo tempo que preserva o meio ambiente. E tem ainda o lado econômico: produzido em cooperativas, que distribui renda entre quem produz, o arroz do MST pode chegar à mesa dos consumidores a preço justo. Afinal, o preço justo é um dos alicerces da agroecologia. 

“O processo produtivo do arroz agroecológico resgata junto aos agricultores a troca de conhecimento. De saberes do ponto de vista dos manejos tecnológicos, da gestão da produção, busca de conhecimento e estudos, podendo dialogar sobre os avanços, os gargalos e desafios na produção”, destacou Celso Alves da Silva, da coordenação do grupo gestor.

Arroz orgânico, reforma agrária e combate à fome

Ainda segundo ele, há dentro do grupo a busca de maior autonomia no processo produtivo. Isso desde a produção da semente, insumos e bioinsumos, na melhoria dos maquinários, domínio do manejo técnico, gestão da irrigação e processo permanente de capacitação até a formação. E para esse objetivo, o grupo gestor tem estabelecido parceria com universidades, o Instituto Riograndense do Arroz, Instituto Federal/IFRS, Emater-RS e a Embrapa.

A produção do arroz agroecológico, em processo de aprimoramento, tem ainda um objetivo político. Ou seja, mostrar à população a importância da reforma agrária popular e da produção na agricultura familiar no combate à fome que assola um terço do povo brasileiro. 

Na festa de 17 de março as famílias do MST será inaugurada mais nova inovação: a Unidade de Produção de Bioinsumos Ana Primavesi. De acordo com Dioneia Ribeiro, produtora de arroz orgânico e integrante do Grupo Gestor de Arroz Agroecológico, a iniciativa é fruto de um curso sobre bioinsumos, realizado em junho de 2022, no Instituto Josué de Castro, no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão. Participaram agricultores das cadeias produtivas do arroz, feijão, milho, soja, frutíferas e agroflorestas de oito estados.

Produção própria de bioinsumos

“A Cootap decidiu produzir o próprio insumo para melhorar a fertilidade do solo e ter estratégias de redução de custo nas propriedades das famílias. Também reforçamos a importância de sempre inovar e trazer novas tecnologias para qualificar os nossos alimentos”, destacou Dioneia. 

Segundo a liderança, essa nova unidade proporciona autonomia na produção de bioinsumos e acesso a novas tecnologias. Um benefício para as famílias assentadas e também para os consumidores.

Os bioinsumos foram adotados na safra 2022/2023 do arroz orgânico em duas áreas de pesquisa, com 28 hectares. Para a próxima safra 2023/2024, os bioinsumos estarão em toda a produção do arroz orgânico dos assentamentos em Viamão, em cerca de 1.126 hectares.

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